7 Princípios gerais para descrição de imagens em vista da acessibilidade

José Fernando Tavares
Booknando
Published in
5 min readJan 21, 2022
Fone de ouvido sobre uma superfície

Ter um conteúdo que seja acessível a todos é um desafio e uma missão.

O maior desafio para quem faz produção de conteúdos digitais acessíveis é criar uma boa descrição das imagens.

Esta é uma parte essencial quando falamos de conteúdo acessível. Se o conteúdo possui imagens, gráficos, fórmulas, etc… é fundamental que sejam descritos em forma de texto, de maneira que uma pessoa com problemas de visão possa usar o sistema de leitura em alta voz (text-to-speech) que a maioria dos computadores e celulares possuem e ouvir o conteúdo.

Obviamente fazer esta descrição de maneira clara e simples, transmitindo todos os conceitos que estão contidos na imagem não é uma tarefa trivial. É um trabalho para um profissional.

Mas, nem sempre é possível ter este profissional por perto e é por isso que todos precisamos ter ao menos uma noção básica de como fazer a descrição.

No percurso de aprendizagem sobre acessibilidade que tenho feito (e cada dia tem algo a ser aprendido!) encontrei este livro digital: "Vendo com outros olhos" das autoras Luciane Tavares Perdigão e Neuza Rejane Wille Lima, que explica como fazer a audiodescrição.

Vale MUITO a pena baixar o conteúdo completo!

Princípios Gerais da Audiodescrição

Aqui abaixo coloco os Princípios gerais da Audiodescrição apresentados pelas autoras no livro:

  1. Descreva o que você vê: esta é a premissa básica. O que você vê é o que você descreve. Você vê pessoas, objetos e características físicas. Você não vê intenções ou motivações. Você não vê “…a aves pairam livremente…”. Você vê “…a aves pairam com as asas abertas…”. Descreva elementos essenciais e, então, se o texto não estiver muito extenso, descreva os demais elementos tais como a aparência física das pessoas, detalhe das roupas, dos cenários, arquitetura, tecnologia, cor, iluminação e textura.
  2. Descreva objetivamente: permita ao aluno formar sua própria opinião e tirar sua própria conclusão. Não faça inferências, não explique, não analise, nem tente “ajudar” o aluno. Use apenas adjetivos e advérbios que não ofereçam juízos de valor e que não sejam eles próprios sujeitos à interpretação. Ao invés de “lê atenciosamente um livro” prefira descrever “debruçada sobre um livro”. Ao descrever tamanhos, arredonde para o número mais próximo, a fim de oferecer aos ouvintes números que sejam mais fáceis de ouvir e compreender. Não acrescente “em torno de” ou “aproximadamente” para qualificar as dimensões estimadas — isto apenas sobrecarrega o texto com excesso de palavras, o que dificulta a compreensão. Seja conciso.
  3. Confie na capacidade do usuário de compreender o material: Não seja condescendente, paternalista, ou superprotetor. Exemplo: “fotografia de enduro de motocicleta (modalidade esportiva que utiliza algum tipo de veículo em uma competição de longa duração, realizada em terreno fortemente acidentado)”. Informações importantes que não fazem parte da audiodescrição devem estar disponíveis para todos, em legendas ou nas notas proêmias. Ou seja, o audiodescritor não está fornecendo nenhuma informação especial julgando que o aluno com deficiência possa ter dificuldade em acompanhar o material didático. O audiodescritor não deve fazer suposições e generalizar o perfil discente. Conhecer mais a respeito do aluno, a faixa etária, o nível educacional, cultural, irá proporcionar a escolha de descrições que serão mais significativas para o sujeito. As pessoas que são cegas congênitas muitas vezes sentem-se confortáveis com o nível de informação do que captam daquilo que rotineiramente ouvem e, às vezes, não percebem quantas informações visuais possam estar disponíveis. Pessoas cegas adventícias sabem que há muitas informações, e não as querem perder. Algumas pessoas preferem apenas umas poucas descrições para esclarecimentos essenciais, e outras querem tantas descrições quanto o tempo ou o espaço permitir. Segundo a Audio Description Coalition a responsabilidade do audiodescritor é encontrar um equilíbrio as preferências do usuário.
  4. Não Censure: O audiodescritor deve transmitir tudo o que está disponível para pessoas que enxergam. Informações sobre violência, nudez, atos sexuais, se estiverem visíveis devem ser audiodescritos. Todas as partes do corpo que estão visíveis na imagem devem ser descritas, sem constrangimento.
  5. Utilize Linguagem Consistente: Use a terminologia adequada de acordo com o conteúdo. Nem todos os ouvintes entenderão gírias, coloquialismos, e termos regionais. Use-os somente dentro do contexto. Estabeleça um nome para os personagens, locais e objetos e utilize sempre o mesmo nome numa mesma audiodescrição. Use as palavras descritivas e as frases ou estruturas frasais mais concisas. Use verbos vívidos. As pessoas frequentemente “andam”, mas elas também andam a furta-passo, cambaleiam, arrastam os pés, saracoteiam e vagueiam. Escolha a palavra que mais se adéqüe à ação. Use pronomes cuidadosamente. Se houver apenas uma mulher na imagem, então o “ela” é adequado. Se houver mais de uma pessoa, nomes próprios serão mais claros. Nota: Deve-se atentar, também, para o uso do pronome seu(s) e sua(s), a fim de evitar ambigüidades e imprecisões. Descreva as cores para ajudar pessoas com baixa visão a localizarem o que está sendo descrito e para compartilhar o significado emocional da cor na produção. As pessoas que são cegas ou possuem baixa visão geralmente compartilham dos atributos comuns que conferimos às cores, tais como azul e verde são frios e serenos, enquanto vermelho e laranja são quentes e tempestuosos, etc. “O vestido é da cor de vinho” em vez de “O vestido é vermelho” mais ricamente o descreve. Evite, contudo, palavras para cores não usuais: “azul ciânico”, “cerúleo”, “cor parda”, “castanho avermelhado”.
  6. Atenção à Etnicidade e nacionalidade: Membros da audiência vidente não vêem a raça ou nacionalidade de uma pessoa; em vez disso eles podem identificar a etnia, cor da pele e características faciais. É importante pesquisar sobre as preferências da pessoa e evitar termos ultrapassados. Por exemplo “afro-descendente” pois nem todas as pessoas de pele negra possuem herança africana. Descrever a cor da pele e características faciais é uma questão do tipo todos ou nenhum. Se for importante descrever essa característica num personagem, então a audiodescreva para todos os personagens. Apóie-se em termos factuais, claros, diretos e comumente usados que a maioria dos ouvintes vá entender. Evite termos desrespeitosos, derrogatórios ou condescendentes como também linguagem vaga, poética ou eufemismos.
  7. Descreva a partir da perspectiva dos ouvintes: As surpresas devem, idealmente, vir ao mesmo tempo para todos os membros da audiência. Se as aparências dos personagens ou ações, identidades ocultas, vestimentas, piadas visuais etc. acontecerem como uma surpresa para o público vidente, não estrague a surpresa para os ouvintes da audiodescrição, descrevendo-as e revelando antecipadamente informações. Se um personagem estiver disfarçado, ele se torna “o homem” em vez de “João usa um disfarce.” Use um termo neutro “a pessoa trajando vermelho” quando o personagem estiver escondendo o seu gênero.

Mais três dicas

Dica 1: não espere ser um profissional em descrição de imagens para iniciar a descrever as suas: feito é melhor que perfeito e não feito!

Dica 2: Caso seu conteúdo seja profissional (venda para governo, por exemplo) contrate uma pessoa que seja especialista em descrição de imagens.

Dica 3: Em ambos os casos acima, tenha sempre um consultor cego que poderá ler e dar sugestões sobre seu texto. Nenhuma pessoa vidente conhece o processo cognitivo de construção de imagens da pessoa cega e alguns termos podem não ser inteligíveis para esse fim.

Se gostou, entre no site da autora e compartilhe o conteúdo ou compartilhe este texto.

--

--

José Fernando Tavares
Booknando

Founder of Booknando. Speaker, teacher, instructional Designer and e-book expert, gives e-book training class in Brazil and Italy. Philosophy lover.