Henrique Tedesco
Born This Way
Published in
4 min readApr 20, 2019

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A maneira como nos vemos na frente do espelho nem sempre reflete o que realmente somos. Sentir-se fora do “meio” pode ser o estopim para distúrbios e dificuldades em entender que somos únicos justamente por possuir características próprias. A auto aceitação é trabalhada de diversos modos e é sobre isso que a estudante do quinto semestre de jornalismo, Eduarda Müller Spanevello, irá contar nesse texto. Com 20 anos, foi apenas aos 19 e por causa do ensaio fotográfico que ela alcançou a “linha de chegada” do processo de aceitação do próprio corpo.

Sempre sendo a mais alta, ela se destacava entre as garotas. Além disso, por não estar no peso considerado ideal para a idade, a estudante conta que desde os cinco anos, optava por vestir calças masculinas, pois não iriam marcar seu corpo. Como não havia nada que a fizesse ser da mesma altura que as demais, Eduarda Spanevello queria pelo menos ter o mesmo peso. No entanto, para conseguir seguir uma dieta balanceada, ela tinha que superar aquilo que chamava de “vazio de fundo emocional”: a ausência dos pais.

“Eu sou filha única de pais que trabalharam demais e que deixaram a minha criação por conta dos meus avós,” declarou Eduarda. Tal ausência culminou em compulsão alimentar. Estes fatores fizeram a jovem continuar escondendo qualquer parte do seu corpo, usando, além das calças largas, casacos na cintura. Foi só aos treze anos que o problema diminuiu. Com a mãe em casa, ela poderia conversar sobre as aflições e problemas psicológicos.

Na adolescência, a futura jornalista passou por diversos procedimentos de prevenção, retirando pintas em diversas partes do corpo. Devido a sensibilidade de sua pele, as cirurgias deixaram cicatrizes. Ainda, ela disse ter passado por experiências complicadas em seus relacionamentos: “Com 16 anos, fui vítima de um relacionamento abusivo (físico e psicológico) que destruiu a minha autoestima. Passei um ano da minha vida fugindo de uma pessoa tóxica que objetificou cada centímetro de mim, até que sabotei a minha própria mente para assimilar que o problema era eu. Da relação tóxica em diante, a visão sobre o meu próprio corpo e mente era de total vergonha,” afirmou a jovem de 20 anos.

A fotógrafa Milla Beatriz Lima, responsável pelas fotos do projeto #Bornthisway, realizou um ensaio com a Eduarda Spanevello em 2018. Segundo a estudante, foi necessário muita sensibilidade da profissional para focar nas inseguranças e transformá-las em algo positivo. No final, ela se emocionou com o resultado, porque nunca havia se olhado desta maneira.

Com essa experiência transformadora, a estudante de 20 anos deixa um último recado pra que as pessoas também participem do projeto:

“A realização de um ensaio fotográfico que objetiva a melhora da autoestima é de grande importância, mas também é delicada. Existe uma linha muito tênue entre a segurança real e a timidez vulgarizada. A escolha do profissional que irá registrar esse momento é um dos pontos mais importantes, na minha opinião.

O bacana do ensaio é permitir ver o próprio corpo pelos olhos de outra pessoa(pois cada fotógrafo tem uma sensibilidade diferente nos registros). Isso é o que encoraja uma pessoa com problemas de confiança: a certeza de que o olhar de uma pessoa está voltado para o nosso corpo e que ela gosta do que vê.

O que indico para todas as pessoas que desejam se ver dessa forma é tirar fotos com o próprio celular e avaliar a diferença após o ensaio fotográfico. O ângulo, a luz, a forma com que as conversas e poses são conduzidas nos encorajam a mostrar cada vez mais do nosso corpo — e assim parece que nós nem estamos habitando a nossa própria pele.

O processo é longo, doloroso e existem inúmeras recaídas, mas nós somos as pessoas mais importantes das nossas vidas. Se não cuidarmos, amarmos e, principalmente,respeitarmos os nossos corpos, quem irá fazê-lo?” Indaga a estudante do 5º semestre de jornalismo.

Mesmo com os avanços no processo de amor próprio, a estudante continua realizando consultas com psicóloga. Segundo ela, o relacionamento abusivo e a compulsão alimentar são questões que deixaram marcas e ainda dificultam sua total recuperação.

No entanto, assim como dito em seu depoimento, a jovem de 20 anos destaca o trabalho contínuo para se recuperar dos traumas de uma vida em guerra com o espelho. Já que, se ela não tomar essa atitude, quem irá?

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