[RESENHA] Via Ápia

Lara Magalhães
Boteco Literário
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4 min readNov 16, 2022

Depois de fazer muito sucesso, inclusive internacionalmente, com o livro de contos Sol na Cabeça, Geovani Martins lança recentemente seu primeiro romance, Via Ápia, pela Companhia das Letras. Giovani tem participação confirmada na Flip 2022 que acontecerá entre os dias 23 e 27 de Novembro de 2022.

Geovani Martins — Foto: Divulgação

O livro conta a história de 5 moradores da Rocinha, Washington e Wesley, dois irmãos que vivem com a mãe solo, Dona Marli. E também a história de Douglas, Biel e Murilo que dividem um apartamento no morro. Em determinado momento a vida, os 5 se cruzam, se tornam grandes amigos e toda a história se desenrola conectada a essa nova união.

A história se passa entre os anos de 2011 e 2013 com foco central na chegada da UPP na Rocinha mostrando a realidade dos 5 jovens e todos os perrengues que a vida lhes oferece. Entre os 18 e 23 anos todos eles vivem momentos cruciais, nessa fase importante de entender as responsabilidades da vida adulta, de enfrentar o trabalho, as limitações de oportunidades e os preconceitos. No meio disso tudo também tem os amores, as relações familiares e a relação com as drogas. Tudo isso com personagens que vivem à margem da sociedade: pobres, pretos e favelados.

A discussão e reflexão propostas pelo livro é muito necessária. No final de 2021 a Rede de Observatório da Segurança fez um estudo chamando de "Pele alvo: a cor da violência policial" que mostra que a cada 4 horas uma pessoa negra é morta em ações policiais em 6 estados do Brasil incluindo Rio de Janeiro e São Paulo. O Rio de Janeiro foi o estado com mais mortes de pessoas negras em ações policiais: 86%. E a narrativa do Geovani mostra o lado de dentro, o ponto de vista dos jovens que são os mais afetados por toda essa violência.

Apesar da violência policial, caracterizada pela chegada da UPP, ser uma das temáticas importantes do livro, esse é o pano de fundo e apenas uma das violências que o livro apresenta. O livro é muito mais do que isso. É sobre a realidade dos moradores das comunidades do Rio de Janeiro, é sobre as mães solo que precisam criar os filhos sozinhas, trabalhar e ainda garantir que eles fiquem longe das drogas. É a relação com as drogas, da maconha ao crack. É a relação com trabalho, com estudo, com os amores.

O romance, dividido em três partes, faz com que a gente viva todos esses dramas dos meninos, que poderiam ser de qualquer menino de sua idade, mas o livro traz a tona toda a desigualdade que o descaso e abandono causam em um grupo da nossa sociedade.

A linguagem dos personagens cheia de gíria e repetições, traz muita verdade à narrativa, potencializa a realidade. Essa linguagem pode causar estranheza e até, de alguma forma, uma certa repulsa. Mas, à medida que vai se envolvendo com a história, as gírias, os palavrões e a forma de falar dos personagens vão se conectando si e deixam de incomodar e passam a se tornar fundamentais.

Hã, tinha que ver menó, mó terrozinho do caralho , Menó, pra tu te noção, podia nem sair ali pra fumar cigarro ou Aí brotou do nada três policia lá, eles vinha de alguma operação…

Em diversos momentos senti a narrativa estagnada onde nada muito marcante acontecia. E chegando bem perto do fim fiquei pensando sobre como desenrolar 5 histórias diferentes em tão pouco tempo. E, de fato, foi isso que aconteceu. Depois do ápice do acontecimento, que já está bem no fim do livro, sinto que os movimentos dos 5 personagens ficam muito rasos no final.

É, sem dúvida, um romance contemporâneo que explora a realidade urbana do Rio de Janeiro através do cenário da Rocinha, uma das favelas mais populosas da cidade do Rio de Janeiro. Além disso, uma forma de refletir sobre a vida desses jovens e dos outros negros do nosso país, visto que para muitos de nós é uma realidade tão distante. É um livro pra te tirar da zona de conforto!

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Lara Magalhães
Boteco Literário

De falar, de ouvir, de ler e de escrever. De beber com os amigos e de sorrir para a vida. IG literário: @botecoliterario_