Com R$ 1.4 bilhões a indústria conversacional brasileira anda aquecida com investimentos e compras
Tempo de reconhecer e incentivar cada vez mais o brilhantismo de quem faz essa indústria acontecer
O título é click-bait e a pessoa que está escrevendo este texto tem muito orgulho do mercado nacional que está evoluindo e ajudando a definir uma indústria mundial que tem tudo para ser a evolução da internet — algo bem futurista mesmo. Isso tudo é fruto do talento das pessoas e profissionais que fazem parte desse ecossistema, mas vamos por partes: vamos falar primeiro do 🚀
Mesmo com todas as turbulências que ocorreram e ainda vão acontecer em 2020, o mercado brasileiro de empresas, agências e plataformas conversacionais anda bastante aquecido.
Em uma conta rápida e conversão de valores* de alguns dos investimentos e compras de ações que foram anunciados publicamente em 2020, rapidamente chegamos na quantia de capital de R$ 1.473 bi (um bilhão e quatrocentos e setenta e três milhões):
- Em janeiro de 2020: Zenvia recebe aporte de US$ 54 mi em rodada liderada pela Oria Capital
- Em março de 2020: Sinch compra Wavy por R$ 610 milhões
- Em outubro de 2020: Startup Take Blip recebe aporte de US$ 100 milhões de fundo americano
Considerando a cotação do dólar de 7 de outubro (R$ 5.61), o resumo da conta é:
Evolução do mercado nacional somada a resposta ao COVID-19
Respeitando todas as famílias e pessoas atingidas devido a crise do COVID-19, não quero que você tenha a impressão que estou celebrando algo — porque não há nada a ser celebrado diante a crise.
Contudo, durante esse tempo houve uma transição e resignificação do mundo digital com o mundo não digital. As pessoas começaram a ter mais atenção no que diz respeito a saúde mental, evolução de carreira, diversidade do trabalho e vidas pretas importam. Não apenas as pessoas precisaram se adaptar, mas as empresas, tanto as que demandam quanto as que entregam, também tiveram que passar por um período de adaptação e resposta ao covid.
O Fernando Paiva fez um compilado de entrevistas com pessoas executivas de várias empresas no Brasil e constatou o “[aumento do] uso de robôs de conversação no Brasil durante a quarentena”.
No artigo do Paiva, é possível perceber que esse aumento se deve a três motivos alavancada pela pandemia:
- Crescimento expressivo dos bots e das demandas: quem ainda não tinha um bot ou estava pensando na possibilidade correu para implementar nas pressas. Várias empresas relataram o aumento (2x, 3x e até 5x) na demanda por criação e atualização de bots
- A busca da comunicação empoderada (interna e externa): a ideia de empoderamento vem do uso das funcionalidades e possibilidades dos canais escolhidos para essa comunicação. Se antes os projetos de bots se concentravam nas áreas de atendimento e marketing das grandes empresas, agora partem de vários outros departamentos também, como recursos humanos, administração e financeiro. Isso se deve especialmente pela imposição do home office
- A mudança cultural (imposta) que veio pra ficar: “A transformação digital foi mais acelerada por um vírus do que por qualquer área de inovação”, resume Fernando Gouveia Tchê, da Joco.
Em relação a transformação digital, compartilho as palavras, na verdade, o tweet do prof. silvio meira:
Protagonismo de empresas e soluções brasileiras no mundo
Este ponto é uma questão que está diante de todo mundo, mas muitas pessoas ainda não admitem está com o complexo de vira-lata:
“Por ‘complexo de vira-lata’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima.” — escritor e dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues
Olha só algumas evidências:
- Google Assistente: Brasil é o 3o país com mais pessoas ativas mensais para o Google Assistente no Mundo.
- Amazon Alexa: Podia ser em qualquer outro lugar no mundo, mas o time da Alexa no Brasil está sendo realizando o primeiro hackathon focado em acessibilidade — com grandes chances da mesma competição ser replicada no mundo inteiro.
- WhatsApp: “O TSE é a primeira autoridade eleitoral do mundo a ter um canal oficial dentro da API do WhatsApp”.
- WhatsApp [2]: quando foi testar uma nova funcionalidade de catálogos dentro do app, o time do WhatsApp escolheu uma brasileira que vende cupcakes e a expôs como um exemplo de sucesso no principal evento do Facebook chamado F8.
- WhatsApp [3]: quando foi lançar o Facebook Pay, o time do Facebook e WhatsApp escolheram o Brasil e algumas empresas parceiras para fazer o lançamento beta da solução que seria replicada no mundo inteiro — ai veio o Banco Central e o resto é história.
Deu para perceber que falei muito do WhatsApp, mas não é atoa: o app tem presença em 99% de todos os smartphones no Brasil e é amplamente utilizado tanto por pessoas quanto empresas. A escolha do WhatsApp e as menções ao Facebook mostra um pouco os próximos passos de como anda o mercado Brasileiro e o grande foco em construções das narrativas que são construídas aqui na região.
Existem várias áreas e casos de usos criativos de chatbots no Brasil, desde conscientização sobre sexting até grupos de apoio do Alcoólicos Anônimos, mas no geral, os principais motivos para usar chatbots e otimizar a experiência do cliente de acordo com o Rodrigo Passeira:
- Agilidade na construção e personalização na entrega de serviços
- Escalabilidade e padronização de atendimento
- Novas oportunidades e estratégias de omnichannel
Talvez para falar mais sobre isso seja necessário outro artigo, mas de forma resumida: o mercado como um todo vem evoluindo para focar na construção de modelos de negócios conversacionais e focadas na experiência de clientes.
A próxima onda de chatbots será pautada não apenas na entrega de serviços específicos em canais, mas com todo um pensamento sistemico e holistico da experiência de clientes (CX).
Tem mais coisas e oportunidades no Brasil?
Há várias oportunidades em várias indústrias de várias formas e criadas por várias pessoas e empresas incríveis. Para saber mais sobre o ecossistema brasileiro, recomendo conferir o Mapa do Ecossistema Brasileiro de Bots 2020 criado pela Mobile Time — esse relatório conta com a participação de 97 empresas.
Apresento também um projeto do Bots Brasil de mapeamento de notícias sobre casos de uso no cenário Brasileiro — neste documento vivo, você encontrará notícias, citações e dados de chatbots de marcas conhecidas no nosso mercado.
Existem também oportunidades para as pessoas, afinal, as empresas são grupos de pessoas. O protagonismo que o nosso mercado vem conquistando no mundo é reflexo de como as pessoas e as comunidades como um todo vem evoluindo a indústria.
Os chat e voice bots que ficam na linha de frente, mas existe todo um batalhão de pessoas que criam essas soluções e fazem com que elas possam ser cada vez mais significativa.
Na medida que o mercado cresce, também cresce a demanda por pessoas que possam ajudar a criar novas experiências conversacionais. É importante que exista uma ciclo virtuoso de troca e compartilhamento de informações e experiências — este convite fica para você que está lendo este texto.
Aqui estão algumas indicações de canais de YouTube de comunidades com diversos conteúdos para contribuir com o seu aprendizado de forma aberta, colaborativo e gratuito:
O mercado cresce quando as comunidades crescem e esses crescimentos são reflexos de quando você cresce. Você pode fazer a diferença ajudando a manter o ciclo de trocas e compartilhamento de aprendizagem aberta.