Forest Green apresentou seus novos uniformes com material de bambu (fonte: Stadium Astro)

Gestão ambiental no futebol: conheça o clube da 4ª divisão, considerado o mais sustentável do mundo

Gestão ambientalmente sustentável do Forest Green Rovers rendeu reconhecimento da FIFA e da ONU

Theodoro Montoto
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5 min readNov 16, 2020

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Um clube de futebol não vive apenas do jogo; ele também possui responsabilidades e direitos como membros de uma comunidade e agentes de transformação social, desenvolvimento econômico e, de forma mais recente, cuidado ambiental. Um clube da 4ª divisão da Inglaterra, porém, elevou este último conceito a um outro nível.

O Forest Green Rovers (conheça mais no vídeo abaixo) é reconhecido pela FIFA e pela ONU como o clube mais ambientalmente sustentável do mundo por suas ações que envolvem reutilização da água da chuva para irrigar o gramado, uso de painéis solares, vans elétricas, cardápio vegano e caneleiras feitas de bambu. Um exemplo de gestão e percepção da responsabilidade que um clube tem, independente do seu tamanho.

Fundado em 1889 o clube está sediado na pequena cidade de Nailsworth à 170km de Londres, e atualmente disputa a Ligue Two, quarta divisão inglesa, maior nível alcançado em sua história; mas foi em 2010 que a equipe foi comprada pelo empresário Dale Vince, dono da empresa Ecotricity especializada em energia sustentável, e se salvou da falência. Vince, também ativista da causa vegana, que posteriormente também foi nomeado presidente do clube, passou a implantar uma gestão “verde” ao Forest Green.

Gestão ambiental

Uma das principais normas internacionais de gestão, a ISO 14001 define um Sistema de Gestão Ambiental como “parte do sistema de gestão utilizado para gerir os aspectos ambientais, atender as obrigações de conformidade e tratar o risco associado com ameaças e oportunidades”. Ou seja, orienta as empresas a adaptarem seus processos internos às responsabilidades ambientais e continuarem sendo bem sucedidas comercialmente, e é exatamente o que o Forest Green faz.

Toda a energia das instalações do clube é gerada por fontes limpas (que não emitem poluentes na atmosfera), a maior parte captada pelos painéis solares do estádio New Lawn, de capacidade para 5.160 torcedores. O gramado, por sua vez, é orgânico, adubado com algas marinhas e irrigado com água coletada das chuvas e os cortadores de grama são controlados via GPS e também funcionam com energia solar.

Para chegar até o estádio, os fãs são encorajados a usarem o transporte público ao invés do carro, com o estacionamento do local contando com poucas vagas. Por lá ainda há estações para carregamento de veículos elétricos (foto abaixo), visando diminuir as emissões de carbono do clube e dos torcedores.

Equipamentos para recarga de carros elétricos no estacionamento do clube (fonte: Green Sports Blog)

Por essas e outras que o clube foi considerado pela FIFA como “o clube de futebol mais verde do mundo” e recebeu o prêmio “Climate Neutral Now” das Nações Unidas haver conseguido se tornar um clube neutro na emissão de carbono, o primeiro do mundo a obter este certificado (leia mais aqui).

Para reduzir o consumo de plástico, o Forest Green produziu seu uniforme para a temporada 2019/20 feito com 50% de bambu (imagem abaixo) que levaram o logo da “Sea Shepherd”, ONG que trabalha na proteção de animais e ecossistemas marinhos, além de contar também, com a marca da empresa de Dale Vince, a Ecotricity, como principal patrocinadora do clube. De bambu também, são feitas as caneleiras dos jogadores, visando combater a crise climática.

O primeiro uniforme feito com material de bambu foi do Forest Green (fonte: Forest Green Rovers/reprodução)

A dieta dos atletas no clube ainda se resume a uma alimentação sem carne vermelha, com os jogadores recebendo orientações nutricionais para manterem este hábito fora do clube. O mesmo vale para os funcionários e torcedores em dias de jogo: as comidas veganas oferecidas não envolvem peixes, laticínios ou carne vermelha, fato que gerou cantos bem humorados das torcidas rivais, como: “Where have your hot dogs gone?” (“onde foram parar seus hot dogs?”).

Veganismo este, adotado há alguns anos por Hector Bellerín, lateral do Arsenal, que recentemente se tornou sócio do clube. Engajado também com o meio ambiente prometendo plantar 3 mil árvores na Amazônia a cada vitória dos Gunners entre Junho e Julho, especula-se que Bellerín tenha pago 250 mil libras esterlinas por 2% do clube.

A ambição do clube é chegar até as primeiras divisões da Inglaterra e o projeto é de que, até lá, já tenham construído um novo estádio… feito quase inteiramente de madeira, é lógico. Em novembro de 2016 o clube anunciou o projeto para a construção do estádio de capacidade para cinco mil lugares com custo de construção estimado em 100 milhões de libras.

“Fizemos o máximo que podíamos nas atuais instalações. O futuro para nós é no Eco Park, um novo estádio totalmente de madeira*, numa área de 50 hectares, com reflorestamento, restauração de canais… É lá onde queremos nos estabelecer na Championship (Segunda divisão inglesa)”, afirmou Dale Vince.

*apesar da intenção inicial, o estádio não deverá ser feito 100% de madeira, provavelmente devido à questões de segurança.

O estádio foi projetada pela arquiteta Zaha Hadid responsável também por projetar o Centro Aquático dos Jogos Olímpicos de Londres, e o Estádio Al Wakrah, em Doha, que será utilizado na Copa do Mundo de 2022. No espaço em que o estádio deve ser construído, Eco Park, deverão ser plantadas mais de 500 árvores e 1,8 km de novas sebes. A previsão para o começo da obra é de um ano a 18 meses.

Projeto do novo estádio do Forest Green, construído quase inteiramente de madeira (fonte da imagem: Dezeen)

Mais do que ações esporádicas ou midiáticas, o Forest Green Rovers parece demonstrar um propósito de ser e atrela suas atividades (de irrigar o campo até oferecer comidas veganas) alinhadas com seus princípios, fato que ultrapassa o tamanho e capacidade financeira do clube. Um exemplo de cartilha de missão, visão e valores atrelada à gestão ambiental.

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Theodoro Montoto
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Formado em Administração pela FAAP-SP. Escrevo sobre gestão e marketing esportivo