A última canção.

Bradesco
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4 min readSep 18, 2016

Por Pedrinho Fonseca

Foto: Pedrinho Fonseca

Ora de forma sutil, ora descaradamente, escolhi uma narrativa para contar o que vi nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016. A cada texto, a cada descoberta, cada vez que vim aqui contar as histórias que se passaram nas últimas semanas, havia uma música acompanhando cada texto. Uma trilha sonora por onde caminhei, acompanhado pelo Rio, acompanhado pela gente que fez os Jogos existirem. Assim, passearam por aqui: Tom Jobim e o seu Samba do Avião; Zeca Pagodinho e Deixa a Vida me Levar; Luís Bandeira com É de Fazer Chorar; Chico Buarque e novamente o maestro Tom Jobim com Retrato em Branco-e-preto; o mestre Gilberto Gil com Aquele Abraço; novamente Chico Buarque e uma breve citação a Mulheres de Atenas; Newton Mendonça (e Tom Jobim) com Desafinado; Antonio Maria com Valsa da Cidade; e Paratodos, de Chico Buarque. Minha playlist — e minha viagem por esse Rio deslumbrante que recebeu o maior evento esportivo da nossa história — terminam hoje, junto com os mágicos Jogos Paralímpicos Rio 2016. E agora, nesse exato instante, ouço Caetano Veloso.

Parque Olímpico/ Foto: Pedrinho Fonseca

Um mês e meio foi o tempo necessário para a gente ter uma resposta concreta, definitiva, para uma pergunta que nos afligiu durante os últimos anos: seremos capazes de realizar os Jogos Olímpicos? A resposta veio: sim. Capazes de realizar Jogos Olímpicos e Paralímpicos — e realizar sonhos outros que sequer estavam na nossa lista.

O sonho da menina da periferia que queria ver tudo de perto, mas não tinha dinheiro suficiente para comprar ingressos de tudo que queria ver. Tornou-se voluntária, mudou seus planos e, além de satisfazer o seu próprio desejo de estar lá, entendeu que sem a sua presença, ali, nada daquilo aconteceria.

Melissa/ Foto: Pedrinho Fonseca

O sonho do casal que atravessou boa parte da América do Sul porque, um dia, parou para pensar: se esta é a primeira vez que os Jogos acontecem no nosso continente, depois de tanto tempo, talvez seja a última chance que nós temos de participar disso. E juntaram o que tinham, venderam alguns pertences, descobriram o Brasil no Rio e descobriram que temos mais em comum do que imaginavam.

Daniel e Paola/ Foto: Pedrinho Fonseca

O sonho dos amigos que, justo durante esse tempo, ficaram tão mergulhados no trabalho que não conseguiram folga para ver um esporte sequer — mas, num domingo raro de folga, decidiram passar o dia no Boulevard Olímpico e sentiram o clima que esteve presente na cidade durante todos esses dias. E dedicaram uma tarde inteira apenas a isto: contemplar essa gente tão diversa que trouxe ainda mais cores ao Rio.

Gabriel e Gleice/ Foto: Pedrinho Fonseca

O sonho dos noivos que venderam brigadeiro no calçadão de Copacabana para ajudar na sua festa de casamento. O sonho do violinista, que depois de tocar uma tarde inteira, conseguiu juntar o dinheiro necessário para ver seu ídolo paralímpico, na natação. O sonho da judoca que ganhou o ouro. O sonho dos irmãos que pintaram o rosto, porque queriam (e conseguiram) transformar o Parque Olímpico em Carnaval.

Fernanda e Paulo/ Foto: Pedrinho Fonseca

De sonho em sonho, em cada um desses tantos personagens incríveis que encontrei, o que vi durante este mês e meio no Rio foi, também, uma transformação minha, particular. Eu, que me perguntei durante tanto tempo “seremos capazes de realizar os Jogos Olímpicos?”, vi a resposta acontecer. Vi o sonho, esse alimento invisível, abastecer a vontade e a coragem de uma gente. E essa gente somos nós, você, eu, cada um que torceu por uma vitória muito maior, que não cabe em pódio algum. A vitória da realização. Amanhã serão novos sonhos e novas realizações. Mas agora sem esta dúvida, sem esta pergunta se somos ou não capazes. Sim, somos. Porque algo poderoso nos move. Algo que está no título da música que ouço agora. A última música da minha trilha sonora dessa viagem por dentro de nós mesmos.

Força Estranha.

Foto: Pedrinho Fonseca

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