[foto: Alan Teixeira]

inovaBra habitat

Bradesco
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6 min readJun 27, 2018

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Em fevereiro de 2018, abrimos as portas do nosso espaço de coinovação. Construímos uma estrutura física para conectar pessoas com ideias inovadoras e desenvolver projetos transformadores para a sociedade. O inovaBra habitat está se tornando uma grande comunidade formada por gente de perspectivas diferentes, vivências distintas e conhecimento aprofundado em várias áreas. Gente que representa startups, grandes empresas e investidores que têm tido a oportunidade de se conectar, compartilhar e fazer a inovação acontecer. Para que a essência do lado de dentro do prédio fosse vista do lado de fora, convidamos o artista Eduardo Kobra, um dos principais muralistas do país, para contar essa história e, ao mesmo tempo, dar um presente a todo mundo que transita pela maior capital brasileira. De frente para a Rua da Consolação, uma das mais movimentadas de São Paulo, Kobra retratou os rostos de seis pessoas completamente diferentes, mas com uma coisa em comum: a vontade de transformar a realidade. Cada uma delas foi selecionada pelo olhar de Pedrinho Fonseca, curador das histórias pintadas nesse mural. Elas simbolizam o inovaBra habitat e todo brasileiro que se reinventa e constrói caminhos para seguir em frente. O resultado dessa belíssima obra, quem conta é o próprio Pedrinho.

Boa leitura!

O Espelho.

O artista Kobra constrói mais uma obra impactante na cidade
de São Paulo e o resultado, em mim, é esse:
me vi nela, espelhado em pessoas inspiradoras.

Do lado de dentro do prédio de vinte mil metros quadrados, um ecossistema de inovação complexo: da relação entre startups, mentores, educadores, nasce a possibilidade de transformar sonhos em negócios. Do lado de fora do prédio, uma multidão sempre em trânsito, uma fração desta São Paulo que agrega pessoas de todas as partes do Brasil e do mundo. O habitat não é apenas uma construção — no sentido da engenharia — importante. É uma iniciativa do inovaBra para esta outra construção, simples: fortalecer relações humanas profundas e que, com suas diferenças, multipliquem projetos que podem transformar a gente.

Avenida Angélica, 2529, São Paulo.

Diante do caótico fluxo de pessoas que se entranham com a cidade, pés, corpos, pressas tão particulares, decido sentar na calçada para um tempo de observação. Vejo o painel de Kobra, imenso. Vejo O Espelho diante de mim. É assim que decido chamar os reflexos que enxergo ali.

Leila [foto: Pedrinho Fonseca]

Leila Yamazato. Analista de sistemas aposentada, usa o seu tempo de forma nobre. Realiza diversos trabalhos voluntários, busca espaços para que a sua atuação diária seja de levar afeto para pessoas que estejam vulneráveis socialmente. Uma mãe, uma avó, uma mulher descendente de japoneses. Mulher do tempo que não se prevê, tempo onde moram saberes milenares, que a atravessam e me atravessam ao pensar que o caminho dela esbarrou com o meu através do afeto. A existência de Leila reflete a nossa imensa capacidade de misturar culturas.

Luna [foto: Pedrinho Fonseca]

Juliana Luna. Estrategista de comunicação, articuladora urbana, artista, atriz e embaixadora cultural. Nasceu no Rio de Janeiro e, atualmente, mora entre os Estados Unidos e o Brasil — e viaja o mundo criando experiências compartilhadas para pessoas de todo tipo de estilo de vida. Mulher de raízes fincadas em África — e que se ramifica pelo mundo inteiro descobrindo de onde viemos, como única maneira de saber para onde estamos indo. Por onde anda, leva pesos leves para voltar com mais e mais bagagem, conhecimento. E quando chega, divide. A existência de Juliana reflete a chance que temos de nos descobrir.

Gabriela [foto: Pedrinho Fonseca]

Gabriela Fonseca. Estudante de pedagogia, moradora do Capão Redondo, jovem com sonhos relacionados ao que vê no exemplo da sua mãe: educar, como forma possível de nos transformar. Atravessa a ponte que liga e separa a zona sul de São Paulo diariamente. Vai e vem em busca de realização profissional, conquista de espaço, voz. Tão jovem, mas nessas idas e vindas, percebe-se: já andou tanto, tem tanto a ensinar. A existência de Gabriela reflete que cada sonho nosso é possível e merece ser sonhado.

Anna [foto: Pedrinho Fonseca]

Anna Castanha. Publicitária, atua na área de planejamento e planeja, desenha e trabalha por um salto substancial no negócio da comunicação: fazer com que agências, clientes, marcas dialoguem sobre o respeito às diferenças de forma prática e cotidiana, trazendo profissionais LGBTQ para esses ambientes de onde foram historicamente excluídos. A beleza é mais extensa que qualquer horizonte. A beleza é mais larga, mais alta e mais poderosa do que qualquer linha possível de ser desenhada. A beleza é o pedaço mais invisível da nossa construção. A beleza é a voz que grita, se posiciona. A beleza é o ouvido que atenta. A beleza é o olhar no olho do outro, aquilo que me fez falta quando sentei na calçada. A existência de Anna é a nossa única chance de entender que o diferente somos nós.

Pedro Henrique França. Jornalista, atua no campo cultural. Entrevista, conversa, ouve, troca e escreve sobre artistas brasileiros, cotidianamente. Sempre em busca dos lados mais humanos desses artistas, nos presenteia com seus textos que se aprofundam em discussões artísticas e éticas contemporâneas. Busca responder, sempre: quantos sotaques cabem em cada um de nós? De quantos lugares podemos vir e a quantos podemos pertencer? Qual o tamanho destes lugares em nós, quando resolvemos habitá-los sem medo, vivendo as nossas vidas com abundância afetiva? É impossível dizer de onde Pedro veio porque, ao ouvi-lo, a soma de sotaques nos leva a lugares desconhecidos dentro de nós. A existência de Pedro reflete que podemos ser impermanentes e aproveitar intensamente cada momento dos nossos caminhos.

Tim [foto: Pedrinho Fonseca]

Luiz Tim Ernani. Designer e artista plástico — e pai de Pedro, como gosta de enfatizar, sempre. Através do seu trabalho, sempre atento às questões de inclusão de negros no mercado de trabalho e nas suas produções artísticas, traz das suas experiências num sítio, perto de Guarulhos. A sensação, depois de conhecê-lo, é de que quem vive descalço na infância se torna adulto imune às doenças triviais, como intolerância, raiva e frieza. Diante do mundo que crescia ao seu redor, o menino foi se tornando imenso, generoso, gentil e soube aprender a doar seu tempo àquilo que possa, também, engrandecer o outro. A existência de Luiz reflete que pisar descalço no chão cria anticorpos fundamentais.

[foto: Alan Teixeira]

Ainda sentado, me vejo refletido em cada um deles, pintados pelo artista Kobra, neste mural ultracolorido que habita a fachada inteira do Habitat. Lá dentro, um espaço de convivência coletivo e colaborativo, criado para receber pessoas que têm voz, sonho, sotaque, história, cultura, que pisam descalços, ainda, nas esquinas mais conturbadas da grande metrópole. Levanto, continuo meu caminho, mas não vou mais esquecer desse dia. Quando sentei na calçada para olhar para os outros e acabei, ali, me vendo também.

Ali, naquele mural, vejo O Espelho.

Um reflexo do que fomos, do que somos, do que podemos ser.

É só ficar atento e ver.

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