Galerias de arte no coração do ecossistema

VIVIEUVI
bradesco
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3 min readOct 3, 2018

Eu gosto de analogias visuais, por isso ponderei comparar a arte a uma cebola. Acontece que as camadas não dariam conta da conversa toda então decidi chama-la de bioma. Arriscado, eu sei. Mas se pensarmos a arte como comunidades biológicas em que uma diversidade de seres e fatores convivem e se inter-relacionam, ou ainda, um grupo de ecossistemas ao mesmo tempo independentes e entrelaçados, chegamos um pouco mais próximos à natureza complexa da nossa personagem.

Dentro desse bioma arte, três ecossistemas são essenciais para o desenrolar do nosso texto: o primeiro seria a arte personificada em um objeto artístico com capacidade de emocionar ou repelir por razões diversas e adversas; o segundo seria a história da arte escrita nos livros e ensinada nas escolas; e o terceiro o mercado da arte, que faz as obras e a história circularem em um contexto financeiro — junta um e dois e transforma em negócio.

No ecossistema do mercado da arte as galerias ocupam um lugar bastante importante. Elas compõem uma tríade junto dos artistas e instituições que de certa forma influenciam a história e possivelmente o seu sentimento em relação a uma obra. As galerias são um fenômeno contemporâneo, mas os primeiros negociantes de arte já faziam suas vendas lá no século XVII. Eram empresários apaixonados por arte que abasteciam a elite de diversas cidades da Europa com uma variedade de objetos e pinturas. O próprio Van Gogh trabalhou na galeria da família nos idos de 1869.

Certa vez li um crítico de arte dizer que amava os negociantes de arte porque são pessoas que investem dinheiro no que gostam, criam seu próprio universo estético, apoiam artistas, empregam pessoas e fazem tudo isso enquanto nos deixam ver arte de graça. ❤

Sim, as galerias são espaços de exposição em que a gente vê muita arte boa sem pagar nada. A não ser que você queira comprar, claro. E tem para todos os gostos pois cada galeria possui uma abordagem conceitual definida, ou seja, representa artistas com trabalhos que dialoguem ou se tangenciem em algum aspecto. Na prática isso significa que uma galeria pode representar artistas jovens, enquanto outra trabalha com pintores modernos e uma terceira com instalações ópticas.

Por muito tempo as galerias eram a grande oportunidade de um artista encontrar seu caminho para instituições, coleções importantes, ou a casa de um admirador. Os galeristas investem e cuidam de uma parte burocrática de venda e relacionamento deixando o artista com mais tempo para se dedicar exclusivamente à criação. Eles sabem como e para quem apresentar cada trabalho, e mais que isso, sabem o que está acontecendo na cena, percorrem ateliês, antecipam tendências e influenciam o gosto do mercado. A contrapartida normalmente fica por conta da exclusividade de representação (o artista só pode exibir naquela galeria) e uma porcentagem na venda das obras.

Hoje, com a internet, os artistas têm a possibilidade de divulgar seu trabalho para um público imenso sem depender dos contatos do galerista, os colecionadores podem ver o que interessa antes de comprar e as galerias ficam com o desafio de tornar a experiência de ver arte ao vivo mais atraente. Muito da magnitude e impacto de um trabalho só podem ser percebidos ao vivo e, além disso, os encontros da vida real são especiais para fortalecer conexões.

O ápice do ecossistema mercado são as feiras de arte. Eventos como a ArtRio, que aconteceu entre 26 e 30 de setembro, reúnem galerias com portfolios diversos e artistas que dificilmente exporiam juntos em um mesmo lugar. A curadoria das obras é cuidadosa e muitos dos trabalhos são inéditos ou comissionados para tais. E a ArtRio ainda tem um elemento extra, a natureza exuberante do Rio de Janeiro que combinado a tudo que conversamos, transforma esse pedacinho de bioma em uma experiência apaixonante.

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