Se tem uma coisa que permeia a vida é a transitoriedade das circunstâncias, das constatações, das convicções, dos fatos — e o fim de uma fase é sempre marcado pelo início de outra.
Há pouco mais de um mês, todas as expectativas de anos se transformaram na melhor e mais bela celebração que poderíamos oferecer ao mundo (e sentir, em casa). Vivemos dias de união, garra e emoção. Esses dias se foram em uma festa lavada pela chuva de um domingo à noite; sua ida, no entanto, foi necessária para que algo igualmente grandioso se iniciasse logo em seguida, o ciclo paralímpico.
É quinta-feira, 1º de setembro. On-line, pessoas de todo o mundo mandam energias e, conectadas, formam uma grande rede de calor que acende a Pira. Substantivo ou verbo, a palavra chama desperta o que existe de melhor em nós.
Em O Velho e o Mar, o escritor Ernest Hemingway diz:
“Um homem pode ser destruído, mas não derrotado”.
E é sobre obstinação e desejo de superação as trajetórias das quase setecentas pessoas que conduziram, corpo a corpo, o fogo sagrado até o Rio.
Por 7 dias, a Tocha Paralímpica iluminou 6 cantos do Brasil, sustentada por valores nobres:
Igualdade
Entender a diferença e trabalhar para promover a justiça
Determinação
Conhecer as limitações e vencer a inércia das circunstâncias
Inspiração
Ter uma trajetória que verdadeiramente toca, muda e mobiliza o outro
Coragem
É o ímpeto da força que vem de dentro
De dentro do comboio, tudo sempre parece estar em trânsito: as paisagens, os rostos em festa, os sons das cidades e a própria chama, acesa com a certeza de que um dia cessará. Talvez por isso a experiência de viver um Revezamento seja tão intensa — não é sobre chegar na Pira, mas sobre o caminho da rota, em si. Uma rede de pessoas se conecta com o mesmo propósito de realizar, de aprender, de se emocionar. E, juntos, acabam pertencendo à mesma condição de entrega incondicional.
A verdade é que os Jogos Paralímpicos começam hoje e vão passar. Mas não por isso são efêmeros: resiste, aqui, o legado de visibilidade, protagonismo, inspiração e, sobretudo, dignidade.