Kadu da Somos 55

Tem que ser bom para todo mundo

Mariana Castro
bradesco
Published in
6 min readDec 4, 2018

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Como juntar uma boa oportunidade de negócio com a sua maneira de enxergar o mundo? Como construir uma empresa orientada pelos seus valores? Essas reflexões foram o gatilho para a criação da Somos 55, marca que tem como pilares a colaboração e a valorização do design brasileiro. O mantra dos sócios Kadu Nakashima e Maurício Makihara, um publicitário e o outro designer, é: tem que ser bom para todo mundo.

Os dois transformaram em realidade a ideia de vender produtos com design primoroso feitos a partir do material reciclável Tyvek. “Vimos nessa matéria-prima versátil uma oportunidade de trabalhar criativamente. Mas queríamos mais que isso. Queríamos uma oportunidade de manifestar nossa visão em relação ao design, ao consumo, ao mundo”, conta Kadu.

foto:instagram.com/somos_55

O resultado dessa busca está impresso não só no design exclusivo das carteiras ou dos cases para óculos da Somos, mas na relação da marca com sua rede de parceiros: de designers e artistas brasileiros a costureiras e costureiros de coletivos e cooperativas. São eles que, de forma colaborativa e por meio da troca de conhecimento, ajudam a garantir o padrão de qualidade dos produtos que chegam, cheios de propósitos, até o consumidor.

Construção de uma rede colaborativa

A jornada dos empreendedores começou em 2013, época em que foram impactados por notícias sobre o uso de trabalho escravo no mundo da moda. Por mais de três meses, procuraram parceiros para a construção de uma rede de produção mais sustentável e justa que, de alguma forma, conseguisse inverter a lógica desse mercado.

Por meio de um amigo, conheceram o trabalho do Projeto Retece, um coletivo de costureiras de Santo André, em São Paulo. Para formar a parceria, os sócios lembram que foram aceitos por elas. E não o contrário. O casamento durou dois anos. Até que o Retece abraçou um projeto maior, de aproveitamento de material de descarte para a produção de artigos como lonas para moradores de rua, e não dava mais conta das entregas para a Somos 55.

Coletivo Cardume de Mães

Órfãos de um parceiro de produção, os sócios foram apresentados ao coletivo Cardume de Mães. O coletivo é formado por quatro mães empreendedoras da região do Campo Limpo. Kadu explica que a troca com elas é fundamental, pois não se limita à costura.

“Elas nos ensinam muito, pois trabalham com acessórios há bastante tempo.”

A parceria, que continua até hoje, deu certo. Com ela, veio a necessidade de escalar a produção. Um ano depois de encontrar o Cardume de Mães, os sócios da Somos 55 precisaram ampliar a rede. Eles estavam atrás de outro parceiro, seguindo os mesmos princípios e a mesma mentalidade do acordo firmado com as mães empreendedoras.

Um dos grandes aprendizados dos sócios diz respeito ao entendimento do que significa fazer um bom acordo de trabalho. Para os costureiros locais, é importante trabalhar de forma descentralizada, em casa, com autonomia para administrar o tempo.

“Em um contexto de poucos recursos, eles costuram enquanto exercem outras funções como, por exemplo, cuidar do neto ou lavar roupa para fora”.

Na Somos, ao fechar uma produção de carteiras, por exemplo, todos definem juntos quanto será pago para a produção por unidade. No caso da remuneração para designers, os modelos de negócio podem variar caso a caso.

Para os idealizadores da Somos, manter esse modelo sustentável, respeitando as necessidades de cada integrante da rede, é motivo de orgulho. Também é motivo para, vez ou outra, abrir mão de fazer negócio. Em determinada ocasião, os sócios tiveram a oportunidade de fechar uma parceria com uma marca de óculos que importava matéria-prima da China. A relação dessa empresa com os seus fornecedores fez Kadu e Maurício recuarem. Não estava de acordo com os valores propostos por eles.

Este é, aliás, um grande desafio: crescer, escalar a produção e se manter fiel aos princípios que deram origem a Somos 55 e que a marca carrega no nome. Somos, para reforçar a força do coletivo, e 55, código do Brasil para ligações internacionais.

Soltando a corda do paraquedas

Os Sócios da Somos 55: Kadu e Maurício

Os sócios vivem hoje um momento importante. Estão prontos para se dedicar exclusivamente ao projeto que criaram em 2013, depois de anos tocando a empresa paralelamente a outros empregos. Kadu pediu demissão na startup de inteligência artificial em que vinha atuando na área de atendimento ao consumidor. Ele está de aviso prévio. Maurício vai finalmente deixar de fazer freelas como designer. É um passo e tanto para os dois. É soltar a cordinha do paraquedas para se jogar de corpo e alma ao empreendimento que, para eles, conecta trabalho com propósito.

Para chegar até aqui, os sócios destacam alguns dos aprendizados valiosos da jornada empreendedora. Um deles é testar uma ideia de forma rápida e conseguir fazer com que as pessoas enxerguem valor no produto oferecido. Não ficar planejando demais e colocar a mão na massa para testar se o projeto conta ou não com aderência ao mercado faz a diferença.

Outro aprendizado diz respeito à formalização da empresa. Para Kadu, deixar tudo certinho e organizado é fundamental. Do CNPJ à contabilidade, cuidando da saúde do negócio, que está atrelada aos números. “Difícil foi fazer as coisas que não sabíamos, como os trâmites jurídicos, por exemplo. Mas precisamos nos educar sobre as exigências e deveres burocráticos.” No caso da Somos, esse jeito de tocar o projeto deu resultado. Já faz algum tempo que opera no azul.

De dentro para fora

foto: instagram/somos_55

De olho no futuro, além da loja on-line, a marca estará presente em vários pontos de venda por meio de novos revendedores. Entre eles: Blooks Livraria, no Rio; Void, no Rio e em São Paulo; Casa Jardim Secreto e a Chocolate Notebooks, em São Paulo; Retta Skate Shop em Londrina e Maringá; 154 Store também em Maringá; e Na Figueiredo, em Belém.

Também conta com parcerias com grandes empresas, que compram os produtos da Somos para oferecer como presente.

“Conseguimos criar uma marca reconhecida tanto pelos nossos produtos como por nossos valores”, diz Kadu.

Em outra frente, eles têm como projeto para 2019 promover eventos para conectar designers. A ideia é colocar em prática uma iniciativa que promova o diálogo entre eles. Segundo os sócios, os artistas desejam essa conexão. E por que não pensar que a Somos pode se transformar em uma plataforma para contribuir para o crescimento de artistas e parceiros?

O sonho dos sócios é que a marca possa se orgulhar ainda mais de ser reconhecida de dentro para fora. Do Brasil para o mundo.

De empreendedor para empreendedor: “Avida do empreendedor é pautada em problemas, não em sucesso. Atitudes como correr atrás, contornar as fraquezas fazendo parcerias e não desistir por pouco são formas de superar os desafios”.

*Conteúdo produzido em parceria com o Bradesco.

Conheça mais um pouco sobre a Somos 55

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Mariana Castro é jornalista e autora do livro Empreendedorismo criativo ‑ Como a nova geração de empreendedores brasileiros está revolucionando a forma de pensar conhecimento, criatividade e inovação, publicado pelo selo Portfolio/Penguin, da Companhia das Letras.

Empreendedorismo criativo e novas economias são temas de suas aulas na pós-graduação do Istituto Europeo di Design, o IED. É sócia da rede de produtores de conteúdo F451, que publica veículos como Gizmodo Brasil e Outra Cidade.

Como jornalista, trabalhou no Grupo Estado e na Editora Abril, antes de ir para o jornalismo on-line. Foi editora-chefe do Último Segundo e editora-executiva de Política, Mundo, Cidades e Educação.

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Mariana Castro
bradesco

Jornalista. Autora do livro Empreendedorismo Criativo. Sócia da F451, que publica o Gizmodo Brasil. Professora de Empreendedorismo e Novas Economias no IED.