Andamos quarenta e dois quilômetros em três dias. Resolvemos medir isso quando chegamos ao local do festival e vimos, lá de cima, aquele mundo de palcos, espaços, grama e asfalto, mas sobretudo gente. Na sexta, foi dada a largada. No domingo, a linha de chegada. Esse texto é sobre o percurso.
Por Pedrinho Fonseca
Largamos na sexta. E a primeira percepção foi que durante esses três dias de Lollapalooza Brasil, os sons emitidos no Autódromo de Interlagos seriam a antítese do que geralmente se ouve por lá. A qualquer momento do dia, bastava fechar os olhos e deixar que a música tomasse conta do corpo e da alma. Cada palco apontava para espaços de horizontes largos, onde a gente se acomodava e se fazia caber na multidão que fosse. Na sexta, tinha muita gente. No sábado, mais gente ainda. No domingo, lotado novamente. E no meio dessas multidões, estávamos lá, experimentando esses sons em nós.
A música não nos deixa inertes — aliás, deve ser justamente por isso, dessa habilidade de nos mover, que da música se origina a dança. Cantamos muito. Dançamos muito. Sozinhos, juntos, cada um e todos. Música de acelerar, de pausar, de relaxar, de se abraçar. Que nos moveu nesses três dias. E a energia que se cria do movimento de tanta gente junta transforma qualquer lugar — e qualquer um.
Aquele lugar, acostumado com a velocidade dos carros, se viu tomado por uma velocidade maior: a do som. Nós, acostumados a ficar parados, acompanhando os poucos carros sobre o asfalto, fomos ocupando todos os lugares até que já não se via mais o asfalto.
Muita gente junta, se movendo, muda tudo ao redor. E esse movimento nosso, coletivo, começa na sua força. Você leva a música para a frente.
Foi isso, o que mais vimos no nosso percurso, nessa corrida que ninguém queria terminar — a vontade era que o festival, a energia e a música ficassem por mais tempo ali, seguissem. Nos quarenta e dois quilômetros que percorremos no LollaBR, vimos todos os tipos de gente, de todas as partes. Quantos éramos? Oitenta mil pessoas? Isso conta os milhares que estavam ali trabalhando, organizando, tocando, cozinhando, limpando, cuidando uns dos outros? De quantos países, de quantos estados brasileiros, de quantas cidades? Quantos sotaques cantaram juntos ali sem notar diferenças nos acentos e ritmos?
O Lolla é sobre isso. Juntar sotaques e nos revelar, assim, únicos e diversos ao mesmo tempo.
Mas chegou o domingo — e à noite, vimos a linha de chegada. O coração apertou, ficamos mais colados ainda durante os shows. Dançamos com desconhecidos. Cantamos mais alto. Choramos. Corremos para não perder nada, nem um minuto de cada show. À noite, depois dos fogos, saímos lentamente. Deixamos o autódromo silencioso novamente, como ao final de qualquer grande prova. Mas essa prova, podemos dizer, ganhamos. Ganhamos todos, juntos. Com música e amor.