Não é sobre dinheiro, e sim sobre impactar socialmente

Empresas com foco social também podem ter um pensamento empreendedor

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Apresentação do Ministro da Educação na Embaixada Estadunidense (Foto: Partners of the Americas/Ana Clara)

E m períodos de crise, onde se têm um descrédito governamental, no qual o mesmo não consegue dar suportes em questões básicas socialmente é comum que a própria sociedade se mobilize para gerar melhores condições de vida para pessoas em situações de risco ou baixa renda. O Brasil não fica atrás nesse quesito.

De acordo com a pesquisa “A Escalada da Desigualdade”, da FGV, a desigualdade social tem alta contínua desde o segundo trimestre de 2015. O estudo se baseia em dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio Contínua, do IBGE, e do índice Gini — indicador que mede a diferença de renda. O índice, em 2018, alcançou o maior valor desde 2012, chegando a 0,545, sendo este valor quanto mais perto de 1, maior a concentração de renda em um país.

Este contexto de desigualdade faz com que aspectos básicos como saúde, educação, lazer, comida, saneamento básico, dentre outras coisas não chegue em áreas menos assistidas pelo Estado. Dentro desse contexto, que é não atual, mas recorrente, surge um empreendedorismo social cada vez mais crescente.

O empreendedorismo social nada mais é que um empreendimento que trabalha a baixo custo para resolver os problemas da sociedade. (Vander Finotti — Secretário Geral do PartnersCampus Goiânia)

Emancipação Social é o conjunto de palavras que podem ser usadas para definir o que é empreendedorismo social. A diferença principal da atividade para os empreendimentos comuns é não ter como foco principal o lucro. A ideia principal é gerar produtos e serviços que beneficiem a sociedade local, com foco na resolução, ou minimização de problemas em áreas como educação, violência, saúde, alimentação e meio ambiente, para a população que enfrenta essas problemáticas diretamente.

Segundo o SEBRAE, uma das distinções entre os tradicionais negócios e os que são voltados para questões sociais é que não se tratam apenas de adotar políticas e práticas internas para reduzir o impacto ambiental ou social, mas sim desenvolver produtos e serviços próprios para a resolução destes problemas. Como por exemplo lojas de produtos reciclados, moda sustentável ou empresas criadas com o objetivo de tirar pessoas em situação de rua desse espaço.

Mesmo não sendo a principal meta para os empreendedores do segmento, o controle e retorno financeiro do negócio é que irão possibilitar a remuneração dos colaboradores, o pagamento das despesas e a realização de novos investimentos, logo as questões financeiras também são importantes e passíveis de administração.

No 1º Mapa Brasileiro de Negócios de Impacto Socioambiental lançado pela Pipe, em 2017, foram listadas 579 empreendimentos que atuam nas áreas de educação, tecnologias verdes, cidadania, cidades, saúde e finanças. A pesquisa mostra que no ano de 2016 cerca de 35% das empresas não tiveram faturamento e apenas 9% tiveram faturamento acima de R$1 milhão de reais.

Além disso, o estudo ressalta que 40% das empresas entrevistadas têm menos de três anos de atuação; 70% dos negócios estão formalizados; 90% contam com equipe própria acima de dois funcionários (sendo 19% equipes próprias acima de dez funcionários); 58% foram fundados somente por homens; e 20% possuem somente mulheres como fundadoras.

ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS X EMPREENDEDORISMO SOCIAL

É preciso diferenciar uma Organização sem Fins Lucrativos (ONG) para um empreendimento social. A diferença entre os dois, está na forma como visualizam e lidam com o lucro. Apesar de não ter questões financeiras como foco, para o empreendimento social o dinheiro é um fator a ser considerado para o crescimento e desenvolvimento das empresas que não tem um suporte financeiro como patrocínios. Cobrar valores simbólicos, e ter como objetivo impactar na sociedade prestando serviços ou produtos a baixo custo é a ideia.

Diferente disso, as ONG’s não cobram nada pelos serviços prestados, além de contarem com muito voluntariado e não objetivarem em nenhum sentido os lucros como o próprio significado da sigla define.

WHAT WORKS GOIÁS 2019

O fim do mês de novembro trouxe com ele o What Works Goiás 2019. O evento que é organizado pela fundação Partners of the Americas em conjunto com o PartnersCampus Goiânia, que é uma parte desta instituição norte americana a qual busca ter projetos de impacto em todo o mundo. O Partners está presente em cerca de 30 países, e em treze estados do Brasil, tendo projetos filiados que se flexibilizam entre ONG’S e Empreendedorismo Social.

Apresentação de projeto no segundo dia do evento What Works Goiás 2019 (Foto: Partners of the Americas/Stéphanie Karoline)

Nos dias 18 a 20 de novembro, o Partners trouxe pessoas com projetos de impacto em vários países para a capital goiana com a finalidade de fomentar o networking — que nada mais é que formar relacionamentos comerciais — e mostrar como os diferentes projetos têm funcionado nas suas regiões e que tipo de resultados tem trazido para suas localidades, além de buscarem investimentos. Foi a primeira vez que a Conferência What Works atuou no Brasil.

O evento contou com a presença do Departamento de Estado dos Estados Unidos da America, a Embaixada dos EUA, estudantes das universidades da capital, estudantes de ensino médio, representantes de ONG’S e empreendedores. De acordo com relatório da própria organização, das instituições que apresentaram projetos cerca de 29% são projetos de extensão das universidades do federais e do estado.

Evento realizado dos dias 18 a 20 de novembro na Universidade Federal de Goiás (Vídeo: Partners of the Americas/ Stéphanie Karoline e Rafaela Lima)

O que esses projetos possuem em comum é que boa parte deles são empreendimentos sociais, e fornecem, em sua maioria, serviços por baixo custo dentro das instituições para cobrir custos de materiais. Dentre os serviços estão cursos, fisioterapia, aulas de balé, projetos agrônomos, auxilio da inserção de mulheres no ambiente político, dentre outros.

GOIÂNIA

Na capital goiana muitos empreendimentos sociais partem de dentro das universidades como os atendimentos psicológicos realizados nas clínicas escolas e remédios a baixo custo fornecidos na farmácia universitária. Entretanto, também existem empreendimento sociais e ambientais como lojas de moda sustentável, que fornecem produtos para reduzir o consumo de plástico, projetos políticos de igualdade de gênero, atendimentos de saúde, programas de auxilio na educação, pré-vestibulares sociais, dentre outras coisas e aqui estão exemplos de alguns.

PROTAGONIZE

Imersão que visa empoderar futuras candidatas nas disputas para as eleições municipais de 2020 para fazer campanhas com baixo custo e aumentar o número de mulheres dentro da política.

Sustemídia

Empresa goiana focada em viabilizar, por meio de consultoria, captação e mobilização de recursos, projetos regionais, das entidades defensoras de direitos sociais e ambientais. Atuação nos campos da educação, saúde, cultura, esporte, trabalho e meio ambiente para gerar impacto social positivo na comunidade.

COS Odonto

Clínica de atendimento odontológico que viabiliza consultas e exames para população baixa renda, além de reduzir e facilitar o pagamento das continuidades para tratamento mais intensos.

IpêEcoloja

Loja ecológica virtual que tem como objetivo diminuir a produção de lixo com produtos que substituem os plásticos, como copos e garrafas de silicone dobráveis, canudos de metal, glitter biodegradável, bolsas ecológicas de algodão cru para substituir sacolas plásticas, dentre outras coisas.

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Stephanie Araújo
Ynova: Empreendedorismo e Criatividade

curitibana (mas nāo muito) descobrindo o melhor, e o pior, da vida. viajante por vício, jornalista por profissão, militante por sobrevivência.