Episódio 19

Samuel De Carvalho Hernandez
brainstormfell

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Uma subida não tão alta assim

Olá pessoal, aqui quem escreve é o Douvilho, o anão da Curva do Norte, seu correspondente oficial da Última Morada.

Venho para relatar a todos os ilustres membros de nossa Guilda, e também aos demais interessados em nossos assuntos públicos, as últimas investidas que realizamos em nome desta referida instituição.

Eu, e o companheiro de guilda Billi, nos reunimos junto aos (talvez não tão) nobres aventureiros: os elfos Titano e Mefisteclison; e os pequeninos: Baixinho e Merry, para empreendermos aventuras subindo a Pedra Voadora. Desta feita, seguimos a Taverna do Salto de forma em que, ao chegarmos lá, fomos constrangidos por uma inusitada situação: Merry, havia sido banido estabelecimento do Seu Saulo. Para evitar uma azáfama maior e não agravar a situação, alguém (que não me recordo) sugeriu que seguíssemos todos a taverna mais próxima. Ainda antes de sair, o bom coração do Seu Saulo nos deixou um aviso: “não falem abertamente sobre os ataques de Yeti na cidade”.

Assim achamos uma espelunca! A antiga Taverna da Mosca… acho que agora chamam de taverna do Forte. Um local repleto de guardas, mercenários e milicianos… sim senhores, MILICIANOS! Neste lugar tudo tinha um preço ridiculamente caro, e nem de longe possuía o requinte e o bom gosto refinado do velho Saulo. Fomos servidos de algo que nem mesmo estava no cardápio, por um homem que aparentemente se chamava Flávio. Uma água rala com algumas vísceras flutuantes e uns legumes gomosos que… pelos deuses! Gostaria mesmo de esquecer aquilo. Não demorou muito tempo e nos concentramos nos preparativos de nossa subida.

Seguimos a torre de magia, onde alguns dos nossos companheiros puderam fazer seus acordos comerciais e garantir suprimentos de subida. Em seguida rumamos ao Seu Chico, onde eu e o Billi compramos algumas poções. No caminho entre um local e outro, três de nossos companheiros: Titano, Mefisteclison e Merry, preferiram parar e descansar perto da grande estátua que fica junto da escadaria. Mais tarde, ouvi os companheiros dizendo que aquela seria alguém com nome de Syldina, e que ela seria preferida de Silvanus… eu particularmente continuo sem a mínima ideia de quem seja. Caso você queira nos contar que seria esta pessoa nos escreva uma missiva endereçada a nossa sede!

Enquanto retornávamos do Seu Chico, soube que os meus companheiros rezaram aos pés da estátua. Enquanto rezavam, Titano e sentiu um vento atravessar seu corpo, Mefisteclison foi empurrado também pelo vento e Merry, bem… sentiu o vento ecoando em sua barriga faminta. Mefisteclison quando empurrado, foi arremessado em direção as escadarias, sendo salvo pela genuína velocidade élfica do membro da nossa guilda, Billi.

Ainda antes de partirmos, em meio a um frio desgraçado (desculpem, acho que não comentei sobre o frio que fazia), decidimos contratar Miguel, um jovem com uma mula. Depois de uma situação envolvendo ele e seu primo enfezado, Miguel topou ir conosco e ser nosso guia e ajudante.

Assim nos colocamos em um caminho completamente novo situado a sudoeste. Caminhamos apenas 1h30 para chegar em fjorde não tão alto. Media cerca de 7 pifuns… o que dá em torno de uns 60 a 65 metros dos homens. O fjorde possuía dois caminhos, um ao sul (que Miguel nos alertou ser rota dos Malhas Negras) e um ao norte, com uma trilha larga. Neste cabiam cerca de 3 anões andando com carrinhos de mão, um do lado do outro.

Eis então que a primeira coisa estranha da nossa subida (não tão alta assim…). Aqui vou transcrever o relato do meu companheiro Baixinho Invocado, que nos conta o que se passou com a riqueza de detalhes de quem estava mais perto de tudo que aconteceu.

“Na subida, o Merry percebeu um vulto de pequenino. Ele prestou mais atenção e viu que era uma a criatura imaterial atravessando uma pedra da estrada. Era o Pippen, o seu primo falecido… ou melhor: o seu espírito. Ele pediu ajuda com a mão ao primo. Merry sentiu o arrepio no próprio corpo, os músculos tremendo, saliva lhe faltando… uma cena de sofrimento… ele vive num mundo de sofrimento. Uma corrente prateada fina amarrada no pescoço daquela alma, vai subindo no ar, subindo como uma pipa… e está presa à Highfell. Merry perguntou como salvá-lo e ele apontou para sua arma. Ele tentou cortar a corda e não funcionou, depois tentou com uma adaga de prata, que pertence ao Titano. Desta vez, ao encostar no fio, ele sentiu que estava ferindo a própria Vida. Ele sentiu um espírito se esvaindo, e ouviu os gritos de agonia como se viessem de longe, do além… Na hora que acabou de cortar, o espírito de seu primo se transformou num orbe prateado, que foi diminuindo até entrar na adaga mágica. As escrituras élficas que estavam na adaga brilharam em azul. ”

Tudo bem… preciso ser sincero com vocês… afinal é isso que se espera de um correspondente de guilda. Pipen é outra dessas pessoas que eu não faço ideia de quem seja! Por isso pedi ajuda ao Baixinho nessa parte da história.

Continuando nossa jornada, subimos um pouco mais aquele fjorde, de forma então que meus sentidos aguçados me fizeram perceber algo muito suspeito. Em um arbusto de vegetação rala e seca, havia uma camisa presa… como se tivesse estendida, mas de longe não era uma roupa lavada. Era uma camisa, lavada em sangue e repleta de buracos e marcas flamejantes como que o pobre diabo que um dia a vestiu, tivesse sido severamente estocado por uma tocha afiada.

Ainda confiando em meus sentidos, alertei todos para um barulho de fortes pisadas ao chão… aquilo não era apenas de uma pessoa. De súbito, os aventureiros que estavam comigo, se prepararam para receber quem quer que fosse de assalto, e se colocaram em posições estratégicas. Baixinho faz um risco de óleo no chão, enquanto os demais foram se preparando para receber os visitantes indesejados. Bestas armadas, arcos em riste, lanças em punho e o espírito severo; a emboscada estava pronta.

Eis que a segunda coisa estranha acontece… cavaleiros negros, trajando armaduras completas, com elmos de chifres, pareciam ter saído diretamente de alguns dos 318 infernos da Forja da Agonia! Se aproximavam empunhando longas espadas, que tal qual uma tocha eterna, flamejava incessantemente. Suas mãos não eram afetadas pelas chamas da tocha, de forma em que estas mesmas mãos, agora, apontavam diretamente para as nossas vidas.

Assim, nos valemos da mais pura racionalidade para concluirmos que nossa chance seria apenas uma: Correr pelas nossas existências! Em meio ao desenfreado cortejo que se colocava a frente dos nefastos guerreiros, o Baixinho lançou uma flecha flamejante, sobre sua barreira de óleo o que nos deu uma pequena vantagem por pouco tempo. Merry já se posicionou em uma vassoura mágica (logo depois ouvi dizer que a mesma era amaldiçoada), e partiu de forma errática cruzando os céus por cima de nós.

Os esforços foram efetivos até certo ponto. Conseguimos nos livrar de um deles, com as labaredas da artimanha do pequenino. Logo após isso, nossa sorte se esgotou, e os cavaleiros nos alcançaram. Uma machadinha foi desferida contra mim! Vi a morte passar pelos meus olhos e dizer “hoje, não é o seu dia”. Os demais aventureiros dispararam contra os inimigos. Billi, de pronto empunhou sua alabarda partindo para uma contenda direta. Ele teve o seu momento de glória, porém o custo foi muito caro. A contenda que garantiu a vitória contra a criatura lhe causou sequelas que o deixou desfalecido. Livres do trio sombrio, voltamos o mais rápido possível, comigo e com Billi na carroça de Miguel.

No afã do retorno antecipado, percebemos a mudança abrupta do clima, logo ao chegarmos no pé do fjorde. Continuando na árida estrada de retorno a Thatchum, agora um calor infernal, eis que a terceira coisa estranha do dia nos acontece.

Tal qual uma miragem no deserto, um objeto cintilante foi exposto por Mefisteclison. Adornada por uma extrema volúpia e ostentação, o objeto se revelava uma lâmpada, feita em mais puro ouro reluzente, cravejada em sua parte superior com as mais opulentas formas de lápis lazúli… era simples o objeto mais valioso que já poderia ter visto, depois de um Grobode!

Ficamos ali um tempo parados. Uns contemplavam a beleza do objeto, outros contemplavam suas inúmeras ideias acerca do que aquilo poderia ser, o que fazia e de onde vinha o tal artefato. Eu e Billi contemplávamos apenas a face do abismo da morte.

E de tanto perdermos tempo, se aproximou uma enorme caravana, dotada de bigas e carruagens ortodoxas, de cingidas de negro e dourado. Chegaram em súbita velocidade, eram muitos mercenários, homens de armas e guerreiros. Em meio a todos estes homens, um senhor cujo o crânio era completamente desprovido de pelos (em minha cultura não chamamos os outros de careca) se apresentou como Apollo, líder da caravana.

Ele procurava pelo objeto que estava em nossa posse. Entretanto, utilizamos a máxima do velho falseta: “achado não é roubado, quem perdeu foi relaxado”, e uma acirrada negociação de deu por parte de Titano, Mefisteclison e o Senhor Apollo. Haja vista as técnicas de negociações élficas não serem tão avançadas a ponto de sobrepujar a negociação de um exército armado, quase entramos em uma fria, mesmo estando um sol de rachar.

Aqui deixo um comentário que só soube depois do acontecido. Titano, ao perceber a proximidade da caravana, escondeu habilmente a lâmpada de forma em que a revista dos homens de Apollo foi em vão. E graças a sua sagaz habilidade, Apollo se deu por satisfeito momentaneamente, e até nos ofereceu uma singela carona de volta a Thatchum.

De volta à cidade, seguimos direto Igreja da Estrela Azul, onde encontramos o gentil senhor Fausto que por uma singela doação de algumas dezenas de peças nos repôs a compostura. Enquanto seguíamos para a igreja, os demais aventureiros seguiam com a empreitada de vender a lâmpada magistral. Em dado momento, eles se viram sendo perseguidos por um espião, enviado pelo desconfiado senhor Apollo.

Em vão, o espião tenta uma tocaia, mas ao conferir uma investida ineficaz foi facilmente dominado e levado à sede da Guilda Última Morada, para que fosse levado a confrontar o seu destino. Na sede, eu e Billi encontramos um dos nobres membros da guilda, o qual chamamos de Lorde Elfo Abiliquel, que nos ajudou a levar a justiça, as vias de fato.

Ah! Sobre a relíquia, ela foi vendida ao senhor Wannistol, que nos pagou um preço justo, de forma em que todos os aventureiros que participaram dessa empreitada, rapidamente entraram em comum acordo, lembrando como é bom partilhar momentos e lucros com pessoas bem decididas e justas.

Assim encerro este relato da uma subida, não tão alta. Sei que talvez tenha enfeitado um pouco ou alterado minimamente alguns fatos da realidade, mas a licença poética e meu certificado do curso de Jornalismo de Fantasia me permitem alguns pequenos exageros. Para maiores informações e aventuras, afilie-se já nesta humilde guilda que visa melhores margens de lucro aos aventureiros, a Guilda Última Morada onde a sua herança reside!

Texto por Leandro Abrahão

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