Episódio 17/2
A Malha Negra
“Querido diário, é o Billi, Billi O’nario: Era mais um dia em Thatchum, mais um dia. Ontem eu mal consegui sair de casa, toda aquela conversa sobre o Homem Geleia, Ablico, eu acho.
Hoje deu tudo certo, acordei e me preparei pra ir pra Highfell, talvez conseguir alguns corpos pra esse tal Homem Geleia. Na praça eu achei cinco outras pessoas, eu nunca tinha visto tantos elfos juntos. Hoje parecia um dia com sorte! Reconheci alguns da taverna, outros pareciam mais verdes. Rhael, o cara que dava “Oi” com as… Mãos de bebê que ele tinha logo abaixo dos braços normais.
Algo me assusta sobre Highfell, eu nunca fui até a ilha, eu já apareci lá mas nunca subi, nunca vi as criaturas mágicas e horríveis que ouvi tanto falar sobre na taverna.
Enfim, não vou gastar toda a tinta nisso.
Tinham algumas pessoas normais lá também. Ismael da Besta, João Pequeno, Merry e Titano. As portas do Saulo e seu caloroso e quase desesperado chamado para entrar foi convidativo. Mesmo que fosse pago, era quase um local caseiro, quase como o orfanato. E QUASE comi um coelho com batatas hoje, mas o grupo de aventureiros desistiu, sempre uma pena sentir aquele cheiro de coelho e nunca provar.
Durante o almoço, algumas mesas de distância, um grupo de cinco elfos, de armaduras negras, pareciam brincar com algo embaixo do pano. Merry, por capricho, botou a mão em “algo de outra mesa”. Seu Saulo já tinha comentado algumas outras vezes, principalmente durante a noite. Ele não vai proteger o idiota que botar a mão na mesa de outra pessoa, mas se fizerem lambança na taverna dele, vai morrer todo mundo.
Ninguém morreu, mas os elfos foram bem rápidos em abrir um buraco enorme na barriga do Merry, que pra ajudar, foi banido da Taverna do Salto aos gritos, o enorme machado do Saulo convidativamente chamando sua garganta.
Mas então vimos algo incrível! Eu pensei até estar vendo duas vezes. Era um homenzinho, do tamanho de uma pederneira, aterrorizado pelos elfos que brincavam com ele, o empurrando com os dedos de cá pra lá… Quando eles saíram, Ismael, também percebendo o homenzinho, começou a perseguir os elfos, com cuidado. Eu já estava cheio com a minha rã. o Saulo realmente sabe fazer uns pratos interessantes. Algum dia eu provo esse coelho com batatas… Enfim, diário, eu decidi seguir o Ismael, ainda não sei se estou pronto pra ilha que se tornou a tumba do velho Mili.
Saímos pelo portão sudeste, depois continuamos ao sul. Aqueles elfos não pareciam ter pausa em sua caminhada, mas talvez pela minha exaustão, acabei pisando numa pilha de galhos e eles nos perceberam. Cinco elfos, armadurados e com a aparência de muito bem treinados, se botaram a nossa frente. Ismael tomou a frente, com uma voz de sabedoria e apreensão, ele conseguiu com que gastássemos todo o ouro dele e as minha 4 adagas por mais informações sobre a guilda que deu as incríveis armaduras que usavam.
Talvez eu não devesse ter confiado no Ismael, eu gostava das minhas adagas, mas durante nossa volta para Thatchum eu já não tive tempo de sequer xingá-lo, afinal, eu pouco depois vi o cérebro dele jogado na estrada, o trabalho de duas criaturas grandes e peludas. Eu tive um pouco mais de sorte, conseguindo fugir depois de jogar bolinhas de gude no chão. Em seus últimos suspiros, Ismael me ajudou, matando uma das criaturas que caiu morta ao seu lado, os dois corpos em um abraço silencioso e eterno.
Quando eu voltei pra Thatchum, agora sem um grupo de aventureiros pra me ajudar na minha ida até a ilha e minha busca pelo corpo de Milionário. Eu resolvi andar até a cidade ao lado, a Cidade do Limiar e tentar entrar na tal guilda Malha Negra, a informação pela qual Ismael morreu pra obter. Mas antes me preparei com o pouco dinheiro que sobrou do que Ablico me deu. Eu peguei 10 flechas especiais do Wanistol, aparentemente Roque só lida como vendedor e pra acertar contratos, tenho dúvidas sobre suas capacidades além de seu físico saliente e maneirismo jovial.
A viagem até a cidade do Limiar, onde fica uma das sedes da Malha Negra, foi segura. Depois tive de lidar com um guarda mal-encarado, o que me dá uma boa visão que tipo de cidade essa é. Lá dentro, eu facilmente fui guiado até a porta da sede, onde me encontrei com mais elfos, hoje parecia um dia feliz, nunca vi tantos do meu povo reunidos! Isso com certeza é motivo de celebrar!
Errado.
Paguei o preço de 50 moedas e entrei para a primeira sala de testes. Todas as paredes, o chão, o teto! Tudo era acolchoado. Parecia um lugar divertido, um lugar pra se ter loucas aventuras…
Terrivelmente errado.
O outro elfo que faria o teste comigo apareceu, com uma cimitarra enorme e com equipamentos na cintura, o elfo que parecia um doutor, que me pegou as 50 moedas sorriu de canto de boca. Ele disse então, com toda a grandeza necessária de um vilão.
- A primeira parte do teste, é uma batalha até a morte! — Erguendo suas mãos cerimonialmente.
Eu vi o outro elfo pronto pra pular em mim. Mas antes joguei as minhas novas bolinhas de gude todas no chão novamente. Parece que jogar bolinha de gude não vai ser mais meu foco.
Ele habilmente desvia da minha tentativa tosca. Eu pulei em direção ao meu arco, a flecha Wanistol pronta na outra mão. Eu ataquei meu inimigo no estômago, a flecha e a barriga dele abriram. Ele caiu, totalmente fraco mas ainda assim, e com uma machadinha que tirou do cinto agora cheio de sangue, tentou me acertar. Talvez seja esse o poder da flecha Wanistol, ele acabou acertando o próprio pé.
Haha! O próprio pé! Ele caiu morto em seguida e eu peguei seu machado e cimitarra. Eu nunca tentei empunhar algo assim. Eu comecei com uma lança, resolvi me encontrar no arco e agora… A espada. Não é diferente do que fiz com todas as guildas que frequentei até agora.
Acabei de pegar minhas bolas de gude e o elfo grandioso já me chamou para outra sala, igual a primeira. Talvez essa fosse a parte divertida!
Sem chance.
Outro elfo apareceu, parecendo um lobo. Magro, quase esquelético, mas com uma armadura que me dava inveja. Ele tinha em mãos um escudo e uma espada larga, aquilo realmente parecia que ia cortar a minha armadura de couro como manteiga. Eu já sabia dessa vez.
Eu aprendi como elfos funcionam!
Eu estava já com meu arco em mãos. Eu estava pronto para matar o meu segundo inimigo! E então eles retiraram o meu arco. Toda vez que eu dou um passo, o mundo sai do lugar.
Eu teria que lutar contra um inimigo claramente mais forte, mais equipado, mais poderoso!
Com as armas que roubei do último. Eu entendi como elfos funcionam! As descobertas dessas férias de verão não param de criar altas confusões.
A batalha mal foi anunciada e ele saltou em minha direção, a armadura brilhando na forte luz ao redor da sala branca. Eu entrei em pânico, eu me assustei, eu não sei se ser elfo valia a pena.
Eu me defendi. Levantando a cimitarra com pressa para cima, acertei o pescoço da criatura sedenta que vinha me matar. Eu sobrevivi. Isso era maravilhoso. Ouvindo os últimos gargarejos da garganta agora com frio metal partindo o corpo e a cabeça, vi seus olhos me amaldiçoarem. Eu respirei fundo e continuei, o sangue que escorria vermelho sujando o chão e fazendo uma brilhosa poça.
Eu acabei o trabalho, puxando a espada para fora do meu corpo, o sangue jorrando do pescoço agora decepado.
O grandioso elfo me parabenizou e eu voltei pra Thatchum, a taverna do salto parecia um ótimo lugar para saudar a tristeza junto dos outros aventureiros. Quando andava na praça central, vi meus aliados voltando de Highfell. Voltaram dois.
Parece que esse lugar todo convida morte, eu imagino se os magos riem disso. Eu preciso destruir pelo menos um dos focos dessa desgraça.
Merry sugeriu, desanimado, que fossemos em outra taverna. Afinal, ele foi banido da Taverna do Salto depois de botar a mão nas coisas dos outros… Tolo Merry, você precisa esperar que eles morram primeiro.
Titano era o segundo vivo, quieto. Pessoas assim são assustadoras para vigiar e serem vigiadas. Eu ainda não sei quem é Titano realmente, mas ao menos sei que ele é esperto o suficiente pra se manter atencioso.
Fomos a Taverna do Forte, parecia que eu não iria beber um leite quente na Taverna do Salto e me afogar em mágoas hoje, ao menos não hoje!!
Texto por: Matheus Theba