Luciano, meu amor, meu herói

@ThatuNunes
4 min readJul 8, 2015

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Ele morreu para me salvar.

Eu vivi uma tragédia. E o homem que eu amava deu a própria vida para que eu estivesse aqui.

Luciano brincando com a Gigi, 2 meses antes de o perdermos. Ele não fazia ideia de que estava sendo fotografado e jamais pode ver esta foto…

Tivemos um grande revés em nossas vidas e precisamos nos mudar. Morávamos em São Paulo, nosso novo lar seria Suzano. Decidimos começar uma nova fase na vida.

Saímos de um apartamento de 50 m² para morar em uma enorme casa com jaboticabeiras. Poderíamos ter cachorro, churrasqueira, conforto e tudo o que não tínhamos na capital — pagando o mesmo valor de aluguel.

Luciano, radiante como sempre fora, estava ainda mais feliz, já que agora podia receber amigos sempre que quisesse, falar alto até a hora que bem entendesse, fazer churrascadas e tudo o mais. Ele até comprou um labrador cor chocolate, o Thor.

Como São Paulo e Suzano são distantes para ir e voltar todos os dias, abrimos um escritório comercial próximo de casa, de onde operávamos a empresa remotamente e ele atendia os clientes, quando necessário.

E aqui minha história de vida mudou completamente…

Numa quarta-feira como outra qualquer, exceto pela alegria exagerada com que Luciano acordara naquela manhã, ele saiu cedo pra visitar clientes e me deixou no escritório.

Falamos, como de costume, umas 20 vezes ao dia ao telefone.

Ele demorou um pouco mais a chegar neste dia, por isso, quando avisou que estava perto do escritório, eu já o esperei lá fora com a porta entre-aberta, apenas para guardamos alguns documentos que estavam com ele. Dali, sairíamos em poucos minutos. Era uma parada rápida.

Ao chegar, Luciano desceu do carro, me deu beijo demorado e, me levantando do chão — como sempre fazia só pra me irritar —, me entregou um contrato recém assinado por um novo cliente. Sempre fui muito esquecida, então ele me disse logo ao me por no chão.

— Amor, guarde agora esse documento se não você vai perder.

Entrei no escritório agachada, me esgueirando por debaixo da porta de elevação que estava apenas metade aberta. Rapidamente me livrei do documento e me agachei de novo, dessa vez para sair. Foi então que vi Luciano sendo sendo ameaçado por um homem armado.

Levantei no instinto, o que assustou o bandido, que apontando o revólver pra mim. Luciano gritou.

— Você não vai fazer nada com ela! — e segurou o braço do cara, puxando-o pra longe, em direção ao meio da rua.
Foi quando ouvi disparos.

Gritei repetidas vezes ‘pelo amor de Deus’ enquanto via sangue em ambos. Naquele momento, torci para que o sangue fosse do cara.

Mas houve mais 3 disparos logo em seguida.

Luciano cambaleou enquanto eu corria até ele. Assim que cheguei, ele caiu no chão.

Deitei ao lado dele e pedi que ele ficasse calmo pois eu estava ali, segurando sua mão e olhando dentro de seus olhos. E ali, bem ali, eu o vi indo embora. Seus olhos ficaram vazios, as narinas roxas e bem abertas, o sangue vindo à boca e a respiração, já mecanizada, se esvaziando.

Ali, naquele asfalto, numa fina garoa, vi meu amor morrer.

Luciano Liviero, jovem empresário, sonhador, pai da Giovanna, marido amado, um poço de bom humor, morreu pelas mãos de um assaltante de carteirinha que, no fim, não levou nada.

Enlouqueci. Perdi o rumo das coisas, das pessoas, do mundo, da vida. Desmaiei, deixei de comer, deixei de dormir, só vivia na Internet, cheguei até a pensar que eu é que havia morrido e que estava presa aqui nesse planeta.

Mas aos poucos minha família, meus amigos e a família do Luciano foram me dando rumo, me botando no prumo, e eu fui ficando melhor.

Essa é a minha história.

Não quero que sintam dó ou que me considerem heroína, porque não sou. Tanto que, se me fosse permitido escolher, jamais teria passado por nada disso.

Sobre o bandido que o matou: Rogério Fonseca, na época com 25 anos, estava foragido do indulto de Natal já que estava cumprindo pena por crime semelhante. Ele foi condenado a 23 anos e 4 meses de prisão, por latrocínio duplamente qualificado, e cumpre pena em regime fechado, hoje.

Se eu o perdoei? Sim.

Não porque sou boa, mas porque precisava perdoar para ser capaz de me permitir viver o que a vida ainda poderia me proporcionar, e para que eu pudesse fazer valer o esforço de Luciano em me salvar naquele dia 14 de janeiro de 2009.

Se eu me entregasse à depressão, seria como se ele tivesse morrido em vão.

Então hoje eu tenho obrigação de ser feliz 3 vezes: por mim, por nossa filha e, principalmente, por ele, que foi vetado de viver e ser feliz por si.

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