O incrível kit “Brasil Sem Homofobia” barrado pelo governo brasileiro. Leia e tire suas conclusões.

Paulo César Vieira
3 min readFeb 20, 2015

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A intenção era das melhoras, o material de uma qualidade incrível, a proposta extremamente brilhante. Mas a mente dos nossos congressistas, fechada.

Em 2004, o governo brasileiro lançou pela Secretaria de Direitos Humanos, o projeto Brasil Sem Homofobia, um projeto de políticas publicas para o combate a violência contra a população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) no Brasil.

Acontece que passados 10 anos foram realizadas apenas duas conferências nacionais dos direitos LGBT (2008 e 2011).

Dentro dessas conferências, decidiu-se então criar o programa “Escola Sem Homofobia”, que estava sendo criado pelo MEC através do convênio firmado pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). O material faria parte do programa do Governo Federal, e contém material didático-pedagógico direcionado aos professores. O objetivo era dar subsídios para que eles abordassem temas relacionados à homossexualidade com alunos da rede pública de ensino.

Alunos como Romeo Clarke, que aos 5 anos de idade foi expulso de seu clube infantil por usar vestido e salto alto.

Romeo Clarke, 5 anos. Gosta de usar vestidos de princesa e salto alto para brincar. “Eles são fofos, bonitos e têm muito brilho”. Foto:Newsteam/SWNS Group / Grosby Group

Casos como o do menino Romeo Clarke seguem envoltos pela vergonha. Mesmo em casos de crianças muito pequenas, em que não há relação entre o comportamento da criança e sua sexualidade (meninos mais sensíveis ou meninas que prefiram o futebol às bonecas), o expediente-padrão é convocar os pais para uma conversa sobre o suposto problema e encontrar maneiras de “corrigi-lo”. “Muitas vezes, essas crianças e jovens apanham dos pais, são proibidos de voltar às aulas ou mesmo fogem”, relata Constantina Xavier, professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). É papel da escola agir com profissionalismo. O que, nesse caso, significa tratar o tema com naturalidade e não reportá-lo aos pais. Um menino quer se vestir de princesa. Se há algum problema, é com os olhos de quem vê. Como ensina Georgina Clarke, a mãe do pequeno Romeo: “Não me importo. Faz parte de quem ele é. Se usar os vestidos faz com que ele seja feliz, então está tudo bem para mim”.

Mas parece que nossos congressistas e o governo federal não pensam assim. Após muito choro e protestos da bancada religiosa, a presidente Dilma mandou suspender o kit em 2011. Um retrocesso incalculável.

Chegou as bancas nessa quarta-feira (11), a edição 279 da revista “Nova Escola” — Editora Abril, cujo tema é esse mesmo, sexualidade e gênero, abordando de forma inspiradora, dinâmica e louvável, os preconceitos contra aqueles que fogem do padrão “masculino — feminino”.

Sem esperanças de que o material fosse oficialmente desengavetado, a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), envolvida na elaboração, decidiu divulgar o caderno com instruções ao professor, que estava no kit. “Acreditamos na relevância do material para garantir o respeito à diversidade nas escolas e queremos dar retorno à sociedade, já que dinheiro público foi investido”, afirmou a organização à NOVA ESCOLA.

O caderno pode ser baixado aqui.

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