Carreira

Me formei: e agora? A transição da faculdade para o mercado de trabalho em tecnologia

Como navegar o início de carreira

Mariana Carvalho
Brazilians in Tech
Published in
6 min readOct 23, 2023

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Photo by Felipe Gregate on Unsplash

Escolhemos o curso que queremos fazer na faculdade geralmente aos 17, 18 anos. Hoje, com 31, sei o quanto pedir isso de nossas versões mais jovens é bastante perturbador. Nossos interesses são tantos, somos tão curiosos, queremos fazer tudo, ao mesmo tempo, e agora. Quanta injustiça pedirmos de nossas crianças para que elas escolham uma profissão “para todo o sempre, amém”.

Entrei na minha primeira faculdade aos 17 anos. Humanas, Marketing. Aos 25, iniciei o mestrado em Ciência da Computação. Exatas. Eu tinha experiência profissional, e não tinha experiência técnica. Mas as inseguranças eram as mesmas. Os medos, os mesmos. O isolamento, ainda maior. Eu estava em outro país, falando outra língua, na área de tecnologia, onde 95% dos meus colegas de classe eram homens.

No meu primeiro estágio em TI, trabalhei em uma empresa multinacional de logística, eu era a única mulher da equipe. No meu primeiro trabalho full-time em tecnologia, nosso grupo era mais diverso, felizmente. As duas empresas são multinacionais e líderes em suas indústrias, com suas sedes nos Estados Unidos, o que me fez trabalhar muito perto de funcionários e clientes norte-americanos e europeus.

Com o tempo, fui entendendo como navegar o mercado de trabalho, que é bem diferente do meio acadêmico. Desde coisas simples como responder com confiança a e-mails, até me planejar financeiramente usando os benefícios da empresa. Com o passar do tempo, vamos construindo nossa carreira de maneira mais profissional, respeitando nosso tempo de aprendizado, deixando a ansiedade de lado. É um processo.

Se você está lendo esse artigo, acredito que quer saber mais como navegar esse período, cheio de medos, mas também de muitas oportunidades pela frente!

Esse artigo foi escrito pensando naquelas pessoas que já conseguiram um emprego na área. Não vou abordar questões como currículo, networking com recrutadores, preparação para entrevista de emprego e negociação de oferta de trabalho.

Cultive o Beginner’s Mindset

Nesse texto, falei sobre a importância de abraçar e cultivar o espírito de iniciante (ou, em inglês, de beginner’s mindset).

Use desse momento de início da sua carreira para perguntar sobre tudo, conhecer novas pessoas, se envolver em atividades. Em breve, você vai entender melhor o escopo do seu trabalho, como o seu gestor e seus pares trabalham, e as coisas vão ganhando momentum.

Confie no processo.

Habilidades técnicas

Chegou a hora de usar as habilidades técnicas que você aprendeu: seja no estágio, na faculdade, em projetos open-source, ou em outros projetos extracurriculares. Lembre-se que as reuniões e projetos do mundo corporativo demandam outras habilidades. Você não vai ter provas para estudar, ou manter uma nota alta para ser validado.

Os alinhamentos de entrega não serão feitos com o seu orientador, mas sim com o seu gestor. Às vezes, nem com o seu gestor. Em algumas equipes de tecnologia, as entregas de atividades são feitas dentro da equipe com um team lead gerenciando. Ou mesmo entregas para clientes, que não envolvem muito a sua chefia. Ao entrar na posição, converse com o seu gestor para entender como as entregas de trabalho são feitas. Entenda a posição de cada pessoa na equipe.

Saiba que uma coisa é o processo de entrevista, onde você até imagina o que você vai fazer naquele cargo. O dia a dia do trabalho pode ser bem diferente.

Novamente, alinhe as expectativas com o seu gestor. Dê tempo ao tempo para aprender sobre os sistemas e os processos da empresa. Essa parte pode tomar bastante o seu tempo, mas saiba que é normal.

Habilidades sociais e de comunicação

Saber trabalhar em equipe” é bem clichê ao colocar no currículo, eu sei, mas é habilidade essencial que você, como tecnologista (e aqui, insira qualquer cargo que tenha na área), precisa ter ou estar disposto(a) a desenvolver.

As habilidades de liderança e comunicação também são essenciais para profissionais trabalhando em TI. Saber comunicar o que você está desevolvendo tecnicamente é importante para 1) se fazer entender para a sua equipe, 2) vender o seu peixe através do seu trabalho, 3) trazer resultado e bater metas dentro das atividades estipuladas, 4) se destacar dentro e fora da equipe.

A politicagem no mercado corporativo

O quanto antes aceitarmos que a politicagem existe, melhor. Mesmo em empresas com mente aberta, com hierarquias mais horizontais, mesmo startups (recomendo assistir a série The Playlist, sobre o Spotify, na Netflix, que conta sobre a construção de uma startup desde o início), a politicagem sempre existirá. As conexões e fortalecimento de laços com pessoas com as quais nos damos melhor é intrínseco do ser humano.

Trabalhar no mercado corporativo é saber jogar o jogo da politicagem, mesmo que você seja um contribuidor individual e não gerente de pessoas.

Veja: saber jogar o jogo do mercado corporativo não quer dizer compactuar com acordos anti-éticos que você talvez se depare, mas estar ciente que eles estão em todos os lugares. Vai de você refletir se estar naquele espaço é ou não feito pra você.

Networking

Saber interagir com as pessoas e fazer networking é crucial para navegar o ambiente de trabalho. Ser genuinamente curiosa pelo outro, fazer perguntas sobre as atividades e dia a dia de trabalho daquela pessoa. Separe um tempo na sua agenda para se conectar com as pessoas: da sua equipe, de equipes adjacentes que trabalhem com você, outros líderes da organização.

Recomendo a leitura do livro Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, do Dale Carnegie.

Etiqueta no mercado corporativo

Comunique-se profissionalmente

Além de se comunicar profissionalmente, responder a emails com gentileza, respeitar o tempo dos outros (não se atrase para reuniões, e se se atrasar ou não puder comparecer, envie um email para os participantes ou o host da reunião). Respeite o tempo do outro, para ser respeitado. Ter o controle e visibilidade da sua agenda (tanto para achar o balanço ideal de reuniões e momentos de “trabalho”, como para não sofrer burnout) é crucial para se comunicar bem com as pessoas ao seu redor.

Vista-se de acordo com a ocasião, sem perder o seu estilo e sua autenticidade. Na edição #46 como ser autêntico em um mundo que espera que sejamos todos iguais?, da minha newsletter, falo sobre autenticidade. Recomendo a leitura.

Não gosto e nem sigo guias para se vestir no mercado corporativo. Nossas habilidades vão além da nossa aparência. Claro, esteja apresentável, afinal a sua aparência é parte importantíssima da sua marca pessoal, que falo a seguir.

Marca pessoal — ou personal brand

Na edição #48 você é altamente dispensável da newsletter, falei sobre o livro Forever Employable, e a importância de desenvolver sua marca pessoal a ponto de que ela “venda por si só”.

Ter uma marca pessoal única e autêntica vai fazer com que você se destaque perante os demais e seja notado pelos seus pares e também pela sua liderança. Com isso, você vai, pouco a pouco, construindo confiança, credibilidade e estabelecendo a sua reputação.

Você quer se especializar em Cybersegurança? Ótimo! Faça cursos, se especialize, tire certificações, e comece a comunicar sobre suas habilidades e projetos dentro (e fora da empresa). Ao desenvolver a sua marca pessoal (que pode ser fluída ao longo da sua carreira, conforme você for se transformando e se reinventando na profissão), você expande também a sua rede de contatos. Assim, você vai passar a se conectar com pessoas da indústria que tem interesses, objetivos e trajetórias parecidos com o seu ou com aquele que você quer seguir.

Mas lembre-se, seja autêntico. Falo sobre autenticidade na edição #46 como ser autêntico em um mundo que espera que sejamos todos iguais?.

Quando eu estava trabalhando em uma empresa de tecnologia nos Estados Unidos, percebi a importância de estabelecer a minha marca pessoal desde o início. Sempre fui orgulhosa das minhas raízes brasileiras, sempre apoiei outras mulheres em suas carreiras e sempre gostei de fazer apresentações de algum tópico técnico para os meus colegas de profissão. Nós tínhamos algumas sessões de tech talks na empresa, e cada semana um engenheiro falava sobre algum tópico de interesse.

Eu promovia as minhas atividades dentros dos grupos de afinidade da empresa, e comecei a double-click em determinas áreas (nuvem, mais especificamente), e fui me especializando. Assim, minha marca pessoal estava centrada em: “Mariana is a D&I enthusiast, a women in tech advocate, and is specialized in cloud technologies”.

Descubra as suas paixões, e trabalhe em torno disso.

Saiba navegar as políticas da empresa, estabeleça sua rede de contatos (nutrindo-a), desenvolva e fortifique a sua marca pessoal

Não tenha medo de ser quem você é, faça perguntas, e saiba que existem muitas oportunidades não somente nessa empresa, mas em várias outras, dentro e fora do Brasil, para você crescer e se desenvolver como uma mulher em computação e tecnologia.

Boa sorte!

Acompanhe as minhas reflexões de carreira através da minha newsletter, nesse link.

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Mariana Carvalho
Brazilians in Tech

Career mentor, writer, researcher. Latino 30 Under 30. Sharing my experience along the way • Connect https://www.linkedin.com/in/mari/