Por um Ensino de Computação Emancipatório

Brazilians in Tech
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3 min readDec 19, 2022

“ A frase mais perigosa é ‘sempre fizemos assim’ ” — Grace Hopper

Texto escrito por Soraya Roberta, Escritora BiT

Fonte: Imagem de macrovector em Freepik

Eu já estava nos meses finais do meu mestrado quando resolvi fazer um processo seletivo para uma escola de programação. As etapas eram bem comuns em relação ao processo seletivo de uma empresa de desenvolvimento de software. Enviar currículo, entrevista com o RH, entrevista técnica, definição de salário e afins. Procurando exercícios para treinar para a entrevista técnica, eu só me deparava com problemas específicos de matemática ou problemas com exemplos de empresas estrangeiras. Sim, eu sei, eu preciso abstrair, mas por que eu não abstraio em cima de questões como o problema de leitura e escrita, do acesso a moradia, acesso à saúde e alimentação?

Se a ideia é trabalhar matemática ou lógica, que coloquemos nesses enunciados temas como os que citei, mas que seja possível trabalhar não só matemática, mas sociologia, história, geografia e temas do cotidiano que fazem sentido para as pessoas.

Estamos ensinando computação para criarmos pessoas que sabem resolver problemas de quais áreas ? De quais países ? Precisamos importar problemas de outros países, principalmente europeus ou americanos, para serem resolvidos ? “Ah, mas paga em dólar/euro/libra”. E os nossos problemas, quem pensará em soluções? Iremos terceirizar a resolução dos nossos algoritmos? Eu sonho com um cenário em que outros países vão olhar para os nossos problemas e querer que ensinemos a eles como resolver os deles, porque seremos exemplo no ensino de computação focado em resolver problemáticas sociais, com metodologias de ensino que de fato resolvem problemas, e não apenas encham nossos lattes ou sirvam para progredir na área. Metodologias que não morram pós aplicações.

E como isso é possível ou por onde começar ? Formando professores! Te explico já já. Antes, uma notinha : não venha me dizer que é caro, difícil e coisa para só ser alcançada em 2040. O que falta é interesse em reconhecer os reais problemas, produzir soluções e implementá-las.

Voltemos ao como fazer essa formação.

De 2020–2022 eu acordava e dormia pensando em como trabalhar com a Computação na formação de professores da Educação de Jovens e Adultos. Sem recursos financeiros, em formato remoto, no meio de uma pandemia e com professores (meus alunos no curso) cumprindo cargas horárias exaustivas com suas turmas, em formato híbrido ou totalmente remotos, em outro momento.

Criei um ecossistema de atividades que juntas permitem a intersecção do Pensamento Computacional com o método Paulo Freire, com um conjunto de conhecimentos, os quais, juntos, formam o PensaEJA.

Deixo aqui o link para a minha dissertação, pois o assunto renderia muito mais posts, pessoal: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/46582.

O que consegui ? Professores com autonomia, com metodologias mais solidificadas e refletindo sobre suas práticas; construindo planos de aula utilizando a temática da inflação, da insegurança alimentar e de um espaço geográfico crítico-social, seguindo seus próprios algoritmos, embasados em Paulo Freire.

Aqui o link para vocês entenderem esses resultados : http://sorayaroberta.com/PensaEJA/

Se levarmos formações semelhantes para professores de outros níveis de ensino teremos, talvez, resultados tão bons quanto. “Ah, Soraya, mas professor de computação nem sempre vem da licenciatura, eles cursam no máximo uns seminários de iniciação à docência quando fazem estágios nos mestrados e doutorados.” Que levemos metodologias para serem aplicadas nesses seminários. Que as universidades forneçam uma formação continuada prática como pré-requisito para progressão, e não apenas para entrar na Universidade e passar do estágio probatório (no caso de universidades federais).

Desculpa para não fazer acontecer ou fingir que nada tá rolando existirá em qualquer lugar, inclusive, com todos os recursos possíveis. A metodologia freiriana tá aí e a galera ainda tá procurando no estrangeiro bons métodos ou pensando que encher a sala com óculos para acessar o metaverso vai resolver tudo.

Soraya Roberta é uma Escritora BiT. Para saber mais sobre ela, acesse:

Twitter: https://twitter.com/soraya_rbrt

Instagram: @soraya_rbrt

Projeto Manifesto Literário: @projetopoesiacompilada

Divulgação Científica: @ciencianointerior

Podcast: @makingartwithcode

Site: sorayaroberta.com

Soraya é doutoranda em Computação pelo CIn da UFPE na área de Inteligência Artificial. Sua área de pesquisa é discurso de ódio de cunho sexista nas redes sociais. Ela também é mestre em Inovação em Tecnologias Educacionais pela UFRN e Bacharel em Sistemas da Informação pela mesma instituição. Idealizou o Projeto Poesia Compilada em seu Ensino Médio Técnico em Informática no IFRN. Atualmente, produz o podcast @makingartwithcode e busca descontruir esteriótipos por meio da Educação com a Computação em suas redes.

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