A Máquina do Tempo

E minha viagem na maionese atemporal

Asafe Gonçalves Pereira
Brevidades
2 min readMay 13, 2017

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Esses dias ando revirando meu HD externo com vistas a organizá-lo e, de quebra, organizar-me, já que acaba de falecer meu HD “normal” (aquele que fica dentro do computador, não sei do que chamar — deve ser “interno”). Nessa empreitada tenho encontrado de tudo que a memória digital é capaz de guardar: filmes, séries, documentos importantes, outros que não valem nada, além de um caminhão de inutilidades. O que mais tem me chamado a atenção, entretanto, é a incrível coleção de fotografias!

Calma, não é falta de modéstia. Tenho sérias críticas ao fotógrafo que eu era à época dos cliques (sérias críticas é um código pra “muita vergonha alheia própria”). O que é incrível na coleção é a capacidade que ela tem de recriar sons, sensações, gostos, cheiros, tudo! É quase como se eu voltasse no tempo simplesmente olhando pra tela do computador e fazendo cara de besta.

Enquanto ponderava algumas fotos antigas e ligeiramente constrangedoras pra postar no Facebook, li o título de um texto, e — me perdoa, Isa — ainda não li além do título, juro que clico quando tiver wi-fi. O título, parece, louvava a máquina fotográfica como a máquina do tempo favorita da autora. Achei a ideia muito interessante e refleti por alguns momentos sobre a fotografia como viagem no tempo, mas acabei discutindo comigo mesmo e discordamos. “A máquina do tempo não é a fotográfica!”, falei pra mim.

Valeram-me as páginas mais recentes que li de Lewis (e de Hawking, e de Gaarder) e fizeram coro ao meu argumento de que a memória é, para nós meros e reles “mortais-não-personagens-de-ficção-científica”, a única forma de viagem no tempo. A fotografia em si não é a viagem! Ela é, no máximo, um bilhete, uma passagem…

Bati o martelo e ficou decidido. Decidi que a fotografia é um bilhete de luxo que nos permite uma viagem pelo tempo na primeira classe do trem da memória. Achei bonita a definição. Sem esse bilhete a viagem ainda é possível, mas a vista não é a mesma. Achei bonito o adendo. Achei bonito falar “adendo” também e acabei esquecendo a discussão; tive que concordar comigo.

Agora chamo minha câmera fotográfica carinhosamente de Bilheteria.

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Asafe Gonçalves Pereira
Brevidades

Impostor em vários frontes. Usuário de drogas pesadas, a saber, café e transporte público. Viciado numa, dependente da outra.