Economia Circular na Prática: onde estamos e para onde podemos ir?

Aline Faria
Bridge Ecosystem
Published in
4 min readMay 18, 2021

A ideia de uma economia circular não é algo exatamente novo. Esse conceito econômico de desenvolvimento sustentável emerge como opção à economia tradicional. Essa noção propõe que os resíduos de determinada indústria sejam reaproveitados por outras indústrias ou mesmo pela aquela da qual eles surgem. Mais que isso, é incentivada a criação de produtos que possam aproveitar os seus materiais no futuro, de forma a mantê-los no ciclo produtivo.

Fonte: iStock

Mas como essa ideia tem sido aplicada de fato no mundo até hoje? Em que formas estruturais ela pode ser mais facilmente notada? De forma mais global, são basicamente duas: cadeias de suprimentos circulares e “ecossistemas” circulares. As aspas são usadas nesse último, pois, apesar do mesmo nome, é um conceito um pouco diferente daquele que vimos em posts anteriores do Bridge até aqui. Explicamos esse detalhe melhor mais à frente no texto.

As cadeias de suprimentos são, talvez, os alvos mais claros para a realização das mudanças necessárias para a transição em uma economia circular. Dada a existência de uma série de processos lineares em relações de produção e consumo em todo o mundo, simplesmente destruí-las não seria tão facilmente viável — ou razoável — quanto transformá-las. Posto isso, a reciclagem se apresenta como uma das grandes chaves para a conexão do fim de uma cadeia linear com o seu início, transformando-a, assim, em circular sem grandes alterações nos seus passos intermediários de produção.

No entanto, além da transformação de cadeias lineares de suprimentos em cadeias circulares, também é interessante o surgimento da oferta no mercado de produtos que já venham de processos que englobem a ideia de economia circular em outra cadeia. Nesse sentido, torna-se difícil que somente uma organização possa garantir toda a circularidade para o desenvolvimento de um produto. Portanto, é comum a parceria com outras organizações para que o desenvolvimento desse produto tenha uma construção verdadeiramente circular. Exemplos desse tipo de iniciativa — “ecossistemas” circulares — não faltam:

  • A nível nacional, o programa CE100 Brasil (Circular Economy 100) é um programa de pesquisa projetado para ajudar as empresas a encontrar novos mercados e a cumprir seus objetivos de economia circular de forma mais eficaz. Em uma única plataforma multissetorial, a iniciativa reúne grandes corporações, governos e cidades, instituições de pesquisa, startups inovadoras e grupos afiliados. O programa também auxilia seus membros na aprendizagem, desenvolvimento de capacidades, networking e colaboração com as principais organizações da economia circular. O programa se desenvolve paralela e complementarmente à rede global CE100.
  • O grupo Circle Economy que inclui empresas como Philips, ABN-AMRO Bank e o gigante financeiro ING Group. A aliança, de origem neerlandesa, busca reunir membros que têm o objetivo de desenvolver soluções práticas e escaláveis para a implementação real da economia circular. Dessa forma, os membros desse grupo — que também inclui universidades e consultores — ganham acesso a uma rede de participantes com objetivo comum de transformar o sistema de produção em mais circular, além de treinamentos, consultorias e recorrentes oportunidades de parcerias para novos negócios desse tipo.
  • De forma mais macro, o governo finlandês propôs o primeiro roteiro nacional de economia circular do mundo. A abordagem do governo inclui a intenção de uma transformação para uma economia circular claramente comunicada e cuidadosamente pensada. Assim, os desperdícios gerados na economia finlandesa se tornariam mínimos. Esse plano inclui o aproveitamento máximo do potencial do contexto local, e através do qual uma ampla gama de atores estão envolvidos desde o início para cocriar um conjunto de etapas para materializar essa visão. Isso inclui a participação de formuladores de políticas, o (ótimo) sistema educacional finlandês, além do envolvimento de empresas.

Diferentemente da definição de ecossistemas de negócios que tratamos aqui em posts anteriores. Esses variados grupos de atores acima mencionados não funcionam por meio de uma orquestração de atores interdependentes que procuram, juntos, criar valor e oferecê-lo por meio de algum produto ou serviço. São grupos que mais buscam gerar oportunidades do que organizá-las em si. Mais buscam capacitar os seus membros do que unir os pontos fortes de cada um para que se complementem.

Portanto, talvez uma forma eficiente para uma implementação da economia circular seja justamente um sistema que utiliza esse conceito/propósito de geração de valor orquestrada. Esse seria um ecossistema de negócios que utiliza os conceitos circulares de reuso, transformação e reciclagem. E como a gestão disso funcionaria? Cenas para os próximos capítulos, ô.. digo, artigos…

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