O que é um Joint Lab ?
Laboratório Conjunto Universidade-Empresa: uma primeira aproximação
Laboratórios conjuntos Universidade-Empresa, também conhecidos como Joint Labs, podem ser compreendidos como “arranjos cooperativos envolvendo empresas, universidades, agências governamentais e laboratórios em suas várias combinações para reunir recursos na busca de um objetivo de P&D compartilhado” (Hagedoorn, Link, & Vonortas, 2000, p. 568).
Tradicionalmente, esses laboratórios realizam atividades de desenvolvimento e transferência de conhecimento e tecnologia, e ainda atividades de inovação que podem culminar em patentes, spin-offs e startups. Os Joint Labs podem estar localizados dentro de parques tecnológicos, clusters tecnológicos, e de ecossistemas de conhecimento, atuando como uma ponte entre o ecossistema de conhecimento (foco na geração de tecnologia, pesquisa e conhecimento) e um ou mais ecossistemas de inovação (foco em uma oferta de valor específica). [Entenda melhor a diferença entre um ecossistema de conhecimento e um ecossistema de inovação em nosso outro texto]
Um exemplo de Joint Lab renomado é o MIT-IBM Watson AI Lab, formado principalmente por pesquisadores da IBM e do MIT, tendo como foco o desenvolvimento de pesquisa e aplicação em Inteligência Artificial. Apesar de ter como empresa expoente a IBM, empresas como Samsung, Wells Fargo, entre outras, fazem parte do laboratório, que é dividido em linhas temáticas de pesquisa. Recentemente, a IBM deu início a um Joint Lab no Brasil, também com foco em inteligência artificial. Batizado de C4AI — Center for Artificial Intelligence, o laboratório tem como sede a Universidade de São Paulo mas engloba pesquisadores de diferentes universidades brasileiras, também se divide em linhas temáticas de pesquisa, chamados de Desafios, como os de AgriBio e Processamento de Linguagem Natural.
Importante ressaltar que um Joint Lab não consiste meramente em um serviço realizado pela universidade, contratado por uma empresa, no qual o escopo e entregas podem ser bem definidos a priori e basta à universidade executar. Da mesma forma, um Joint Lab não se trata de uma consultoria prestada pela universidade. Em uma consultoria, espera-se a aplicação de conhecimentos já existentes de maneira a solucionar problemas atuais específicos da empresa.
O objetivo principal de um Joint Lab é a realização conjunta de pesquisa e desenvolvimento, que pode demandar algum tempo para demonstrar resultado, bem como indicar caminhos potenciais de desenvolvimento diferentes daqueles imaginados a priori.
Portanto, um ponto central de Joint Lab é sua flexibilidade e capacidade de adaptação, tanto da parte da empresa quanto da universidade, de maneira a melhor explorar as oportunidades de pesquisa e desenvolvimento para benefício de ambas as instituições. A contratação de serviços e prestação de consultoria são atividades possíveis no âmbito de um Joint Lab, mas não são sua atividade principal.
Conforme apresentado no exemplo do MIT-IBM, um Joint Lab pode ser composto por mais de uma empresa parceira e geralmente apresenta um tema central de pesquisa ou setor a qual se dedica, acumulando conhecimentos e competências direcionados para a temática/setor em questão. É comum também que agências de fomento contribuam não apenas como patrocinadoras, mas também como mediadoras do relacionamento Universidade-Empresa, facilitando a definição de projetos de pesquisa, contratos, auditoria, etc., dada sua experiência e conhecimento nesse processo de mediação.
Podemos tomar como exemplos de Joint Labs ainda outros laboratórios da Universidade de São Paulo (USP):
- O Research Center for Gas Innovation possui como investidores até o momento a FAPESP e, principalmente, a empresa de energia Shell, tendo como objetivo: “Desenvolver pesquisa e inovação para o uso sustentável do gás natural, biogás, hidrogênio e gestão, transporte, armazenamento e uso de CO2 em escala global.” Diversas outras instituições além da USP fazem parte do laboratório, que tem o tema da sustentabilidade em energia como foco.
- O Centro de Inovação em Construção Sustentável (CICS) possui diversos parceiros, mas não possui uma agência de fomento como mediadora. O Laboratório tem como foco o tema de sustentabilidade no setor de construção civil e tem como objetivo: “Acelerar a pesquisa e a inovação da sustentabilidade na cadeia produtiva da construção”.
Joint Labs possuem configurações diversas, porém apresentam em comum algumas características como o perfil dos parceiros (empresas) e objetivo geral (pesquisa e desenvolvimento).
Além disso, um Joint Lab é mais do que a soma de suas partes (empresa e universidade), podendo ser considerado uma meta-organização, ou seja, uma organização formada por outras organizações, e não puramente por indivíduos. Portanto, um Joint Lab está sujeito a demandas, processos decisórios, direcionamento de recursos, processos administrativos e de gestão das organizações principais (empresa e universidade) que a compõem.
Os interesses, processos, atividades, dinâmicas, objetivos e visão da universidade diferem exponencialmente daqueles de uma empresa e vice-versa. Essas diferenças, somadas às características supracitadas, tornam os Joint Labs empreendimentos complexos que apresentam desafios específicos de gestão para que seus resultados sejam considerados positivos para ambas as partes. Esses desafios e algumas recomendações sobre como contorná-los são apresentados em nosso texto seguinte: Quais os desafios de definição de portfólio e escopo de um Joint Lab?
[Referência]
Hagedoorn, J., Link, A. N., & Vonortas, N. S. (2000). Research partnerships. Research policy, 29(4–5), 567–586.
