Processos de Inovação & Ecossistemas: A Busca e Seleção de Ideias (I)

Lucas Emmanuel Nascimento Silva
Bridge Ecosystem
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4 min readDec 14, 2021

O desenvolvimento de inovação é um ponto-chave para a sobrevivência das organizações. Desta forma, compreender como gerenciar a inovação e desenvolver processos que resultem em soluções bem sucedidas no mercado é um dos pontos críticos de preocupação dos gestores. Tradicionalmente, a discussão sobre gestão de inovação tem focado nas formas de governar os processos de inovação. Os processos de inovação podem ser compreendidos como a sequência de etapas desenvolvidas desde a emergência de uma ideia, a seleção, desenvolvimento e difusão.

Embora os processos tenham algumas adaptações em contextos diferentes, tradicionalmente perdura a visão linear onde a geração das ideias inicia o processo e a difusão (lançamento no mercado), termina. Cada etapa do processo possui diferentes objetivos e mecanismos de governança. Neste texto, discutiremos na etapa de busca e seleção de ideias (que iremos nos referir adiante como invenção), mais especificamente discutindo quais são os principais objetivos e desafios desse processo e como o ecossistema permite compreender essa etapa a partir de uma nova lente.

A etapa de invenção é o ponto inicial dos processos de inovação. A preocupação deste estágio está no desenvolvimento de ideias que combinem soluções que sejam viáveis no mercado e que entreguem valor ao consumidor final. Uma questão principal nesta etapa é a criatividade no nível da organização e dos indivíduos. As organizações de forma geral, são compostas por indivíduos e grupos que possuem um considerável nível de conhecimento que pode ser aplicado no desenvolvimento de novas ideias. No entanto, para explorar essas ideias, a organização precisa criar mecanismos específicos para desenvolver uma cultura de inovação e um ambiente que incentive e valorize o desenvolvimento de novas ideias.

Destacam-se três fenômenos que modificam como a inovação é desenvolvida e como essa etapa de desenvolvimento das ideias pode ser aprimorado: a inovação aberta, a transformação digital e os ecossistemas.

A inovação aberta permite a combinação de conhecimento interno e externo e reconhece o papel de atores externos para contribuir com o desenvolvimento da inovação. Esse paradigma exige que a empresa desenvolva mecanismos de engajamento com esses atores para capturar o valor das redes de colaboração e maximizar o potencial de captura do conhecimento externo. Além disso, é importante que a empresa possua/desenvolva capacidades para absorver esse conhecimento externo. Um exemplo nesse sentido são os escritórios de transferência tecnológica (ETT) que permitem que as empresas consigam acessar a propriedade intelectual desenvolvida nas universidades para essa etapa de invenção.

A transformação digital é outro mecanismo muito importante que modificou os processos de inovação. Uma das principais contribuições é nas ferramentas de colaboração, que permitem que times remotos possam trabalhar em conjunto, habilitando assim novas possibilidades de desenvolvimento de ideias. O alinhamento entre as pessoas e os times de diferentes espaços pode ter um impacto muito significativo no desenvolvimento de novos produtos. Ademais, os impactos da transformação digital modificaram não só a forma de trabalhar a inovação, como também possibilitaram novas configurações organizacionais, como os ecossistemas.

Os ecossistemas de inovação são o terceiro mecanismo e permitem o alinhamento de diferentes atores para a materialização de uma proposta de valor. Nos ecossistemas de inovação, a firma focal define quais componentes da inovação ela irá desenvolver e quais serão desenvolvidos pelos complementares que fazem parte do ecossistema. O ponto chave nesse sentido é de que a firma não precisa mais se preocupar em desenvolver e selecionar todas as ideias, seu papel é em orquestrar esses complementares e combinar suas entregas em uma proposta de valor coerente. Além disso, a configuração do ecossistema pode influenciar nos resultados da inovação. Este processo além de adicionar novas possibilidades de engajar atores para desenvolver a inovação, também adiciona uma nova camada de complexidade nos processos de inovação, agora a empresa precisa se preocupar com o processo de desenvolvimento no nível da empresa (os indivíduos e os times) e também nos processos do ecossistema.

De forma geral é importante compreender que o processo de desenvolvimento e geração de ideias é chave para a inovação. Tradicionalmente este processo ocorre dentro da firma, mas atualmente, as mudanças no contexto trouxeram novas possibilidades de desenvolver inovação fora da firma focal, destacamos a inovação aberta que é essencial para entender a captura de conhecimento externo, no entanto, o fenômeno dos ecossistemas avançam nossa compreensão da inovação e permitem novas alternativas de criação coletiva de valor. Ademais, as ferramentas da transformação digital apresentam novas ferramentas e processos de colaboração. Alguns desses novos processos de inovação não estão bem estabelecidos e registrados, no entanto, as empresas que conseguem se adaptar para capturar as oportunidades para a inovação, estão se destacando no mercado. A inovação mudou, agora o desafio para as empresas é em como arquitetar essas mudanças e conseguir criar mais valor a partir das novas oportunidades.

Referências

Garud, R., Tuertscher, P., & Van de Ven, A. H. (2013). Perspectives on innovation processes. Academy of Management Annals, 7(1), 775–819.

Ortt, J. R., & van der Duin, P. A. (2008). The evolution of innovation management towards contextual innovation. European journal of innovation management.

Salerno, M. S., de Vasconcelos Gomes, L. A., Da Silva, D. O., Bagno, R. B., & Freitas, S. L. T. U. (2015). Innovation processes: Which process for which project?. Technovation, 35, 59–70.

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Lucas Emmanuel Nascimento Silva
Bridge Ecosystem

Estudante de Mestrado em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).