Stage-Gate de Engajamento com Startups.

Ximena Alejandra Flechas
Bridge Ecosystem
Published in
4 min readJul 14, 2021

Uma das principais estratégias empregadas por muitas organizações tradicionais para desenvolver a inovação aberta e caminhar para ecossistemas de inovação, é desenvolver projetos de inovação junto com startups. Este modelo de trabalho traz várias vantagens para as duas organizações. Por um lado, as empresas tradicionais se beneficiam das novas metodologias, tecnologias e produtos que as startups desenvolvem. Ao serem enxutas e tendo como driver o escalonamento rápido, as startups são geralmente mais ágeis e dispostas a assumirem maiores riscos na hora de desenvolver inovações, características que complementam positivamente o comportamento visivelmente mais lento e menos arrojado das empresas mais tradicionais. Por outro lado, as startups se beneficiam ao trabalhar com grandes empresas de diversas formas. Primeiro, ao desenvolver trabalhos com grandes firmas, as startups conseguem estabilizar e aprimorar seus produtos e seus modelos de negócios. Segundo, através das parcerias com empresas tradicionais, as startups podem acessar recursos e conhecimentos chaves para seu crescimento. E, finalmente, ao terem grandes firmas como clientes, as startups conseguem fortalecer sua legitimidade e credibilidade no mercado. Desta forma podemos identificar que, em princípio, este tipo de parceria pode gerar relacionamentos ganha-ganha.

No entanto, existem múltiplas inquietações que dificultam a criação de oportunidades de engajamento entre grandes firmas e startups. Entre as inquietações mais frequentes estão a dificuldade para mapear ou identificar soluções e startups com potencial para contribuir para o cumprimento dos objetivos da firma, dificuldade para estabelecer relacionamentos duradouros e efetivos com startups, e dificuldades para filtrar aquelas startups ou soluções com mais aderência à estratégia da organização. Para tentar resolver algumas destas inquietações, nós do grupo Bridge propomos o desenvolvimento de um modelo de Stage-Gate voltado para coordenar todas as atividades relacionadas ao engajamento com startups. O propósito deste modelo é criar um processo corporativo formal que seja integrado aos demais processos da organização. Os modelos de stage-gate trazem várias vantagens para as organizações. Por exemplo, os stage-gates facilitam a estruturação de processos complexos em grandes etapas (stages) que culminam em grandes portões de decisão (gates) para guiar os seguintes passos do processo. Desta forma, os gerentes e diretores conseguem fazer o monitoramento e controle do processo todo de forma mais ordenada e precisa. Além disso, as possíveis oportunidades podem ser avaliadas de forma mais consistente e justa a partir de critérios pré-definidos e em comitês onde participam membros-chave do processo.

O nosso modelo de Stage-Gate (figura 1), é um roadmap conceitual e operacional para estabelecer vínculos efetivos com startups desde a busca até a integração da solução e/ou startup. Consta de 4 stages que contêm uma série de atividades a serem realizadas e 4 gates onde são tomadas as decisões relacionadas à seleção das startups, e à continuação ou não dos projetos desenvolvidos com elas.

Figura 1. Stage-Gate de engajamento com startups.

No primeiro stage, o objetivo é fazer a prospecção das oportunidades, isto é, o levantamento de desafios internos da empresa e também o mapeamento de soluções ou de startups que possam atender aqueles desafios. Esta etapa finaliza no gate 1 onde são pré-selecionadas as oportunidades e soluções a serem contempladas para iniciar o processo de engajamento. No segundo stage, é feito o matchmaking entre a solução e a área interna da organização que quer resolver aquele desafio. Neste ponto começa um trabalho mais detalhado de apresentação e entendimento tanto da problemática a ser resolvida, quanto das tecnologias ou produtos propostos pelas startups para atender o problema. Esta etapa culmina com o gate 2, onde o comitê especializado seleciona aquelas oportunidades (o encontro entre uma problemática e uma solução) que vão para a fase de testes.

A seguinte etapa é a do projeto piloto, onde são conduzidos os testes necessários para validar se aquela solução de fato é adequada para resolver a problemática da empresa. Principalmente, nesta etapa são feitos testes pilotos, provas de conceito (ou POCs, pelas siglas em inglês Proof of Concept), produtos mínimos viáveis (ou MVP, pelas siglas em inglês Minimum Viable Product) e protótipos. No gate 3, são avaliados os resultados destes testes e o comitê estratégico vai decidir se estas oportunidades vão continuar na etapa de implementação ou não. Por fim, na etapa de implementação, os esforços se centram no desenvolvimento e integração da solução dentro das áreas da organização. Ao finalizar esta etapa, no gate 4, o comitê estratégico decidirá qual mecanismo de engajamento vai utilizar com aquela startup. Os caminhos podem variar desde um relacionamento tradicional de cliente-fornecedor até a compra da própria startup.

Este modelo de Stage-Gate de engajamento com startups foi desenvolvido a partir de múltiplas pesquisas feitas a partir de estudos de caso com grandes empresas brasileiras e multinacionais, além de pesquisas em periódicos e revistas especializadas da área como a California Management Review, Academy of Management Review, e o Journal of Product Innovation Management. Nós vamos aprofundar em cada um destes stages e gates em próximos textos, então não percam as nossas próximas publicações!

Esperamos que este texto tenha sido do seu interesse. No final deste artigo, poderá encontrar algumas referências acadêmicas, caso você queira se aprofundar no tema! Até a próxima.

Referências.

Chesbrough, H. (2020). Open Innovation Results. Oxford University Press.

Cooper, R. (1994). Third generation new product processes, Journal of Product Innovation Management. Vol. 11, No 2, pp. 3–14.

Cooper, R. G. (n.d.). Winning at New Products: Accelerating the Process from Idea to Launch. Addison-Wesley.

Möslein, K. M. (2013). Open Innovation: Actors, tools, and Tensions. In A. S. Huff, K. M. Moslein, & R. Reichwald (Eds.), Leading Open Innovation (pp. 69–83). The MIT Press.

--

--