Tudo o que você precisa saber sobre Gestão do Conhecimento Disperso em Ecossistemas de Inovação
Se fossemos listar os principais desafios empresariais do novo cenário de negócios, certamente a gestão do conhecimento estaria entre os mais urgentes. Isso porque a evolução tecnológica possibilitou a ampliação do acesso ao conhecimento, fazendo com que todos nós fiquemos sufocados em uma enxurrada de informações. Nesse contexto, perguntas como ‘qual conhecimento é realmente relevante para o meu negócio?’ e ‘como posso criar um ambiente propício para a aplicação e a internalização desses conhecimentos?’ se tornaram centrais no nosso dia a dia.
A gestão do conhecimento é o conjunto de processos e práticas para manipular o conhecimento, seja ele novo ou não. Isso é, toda e qualquer prática relacionada à aquisição, desenvolvimento, aplicação, retenção ou atualização de conhecimento é parte do guarda-chuva da gestão do conhecimento. Historicamente, a gestão do conhecimento se preocupou com os fluxos de informação dentro das empresas. A ideia era criar processos para otimizar o desenvolvimento de novos conhecimentos, além de instituir práticas para que as empresas retivessem e internalizassem esse conhecimento por meio de manuais e protocolos. Nesse contexto, uma das principais dores das empresas era o conhecimento tácito que ficava sob a posse de determinados colaboradores. O fato desse conhecimento não estar registrado na empresa, fazia com que ela se tornasse refém desses colaboradores, caso decidissem sair da organização. Contudo, com a transformação digital, o cenário competitivo das empresas tem mudado para uma lógica de ecossistemas, algo que fez com que a preocupação da gestão do conhecimento se ampliasse para além das fronteiras organizacionais.
Os ecossistemas de inovação são grupos de empresas que atuam de forma interdependente na criação e captura de valor por meio de projetos de inovação. Nesse sentido, a manipulação de novos conhecimentos pode envolver os mais diversos atores, algo que traz à tona um desafio extra para as empresas: a gestão do conhecimento disperso.
O conhecimento disperso enfatiza a ideia de que a informação dificilmente existe de forma concentrada ou integrada, mas apenas como um pedaço disperso de conhecimento incompleto e frequentemente contraditório. Como resultado, pessoas diferentes sabem coisas diferentes em momentos e lugares diferentes e, por esse motivo, a centralização do conhecimento geralmente não é uma estratégia plausível ao lidar com esse tipo de contexto, exigindo abordagens distintas.
Pensando nisso, elencamos a seguir os primeiros passos para a definição de uma estratégia de gestão do conhecimento disperso. A partir desses passos você poderá ter uma visão mais ampla sobre como otimizar os fluxos de informação dentro da sua empresa, assim como aqueles entre a sua empresa e seus parceiros.
1. Identifique os projetos que sua empresa desenvolve com parceiros externos. 🔍
Se você chegou até esse post, dificilmente a sua empresa desenvolve novos projetos utilizando apenas recursos internos. Provavelmente a sua empresa possui parcerias com centros de pesquisas, universidades, clientes ou fornecedores. Por um lado, a diversificação de parceiros pode trazer recursos e tecnologias complementares que podem tornar o desenvolvimento de projetos mais ágil e menos custoso. Por outro lado, a gestão desses projetos pode se tornar tão complexa que os fluxos de informação fiquem ineficientes ou até mesmo se percam. Por esse motivo, é essencial que você liste e sistematize todos os projetos que sua empresa desenvolve com parceiros externos. Afinal, antes de ter uma boa gestão de conhecimento disperso, é necessário que a sua empresa tenha uma boa capacidade de gestão de projetos.
2. Identifique os atores externos envolvidos em cada projeto. 👋🏻
O conjunto de parceiros pode ser muito distinto entre projetos, sendo normal que alguns departamentos não conheçam todos os componentes desse conjunto. Com isso, é possível que algum líder de projeto busque novos acordos com organizações que oferecem as mesmas qualificações ou capacidades daqueles já disponíveis nos contratos vigentes. Por esse motivo, é crucial que você tenha uma visão clara de todos os atores que trabalham com a sua empresa.
3. Modularize o conhecimento desenvolvido pelos projetos. 📚
Cada projeto de inovação pode desenvolver inúmeros produtos intermediários de conhecimento. Por exemplo, se a intenção da minha empresa é desenvolver um creme rejuvenescedor, é possível que eu também precise me preocupar com outras soluções que possibilitem a captura de valor desse novo produto no mercado, como: uma embalagem diferenciada, uma fragrância agradável, uma marca que chame a atenção e assim por diante. Uma vez que minha empresa está trabalhando com diferentes parceiros, é provável ainda que os conhecimentos gerados por essas soluções intermediárias estejam dispersos no meu ecossistema. Para evitar a perda desses conhecimentos, ou mesmo o uso não otimizado, é muito importante que a sua empresa identifique esses módulos de conhecimentos e construa um mapa do conhecimento disperso.
4. Avalie a relevância estratégica de cada módulo de conhecimento. 🚀
Ao identificar os módulos de conhecimento que cada projeto gera, o próximo passo é fazer uma avaliação a respeito da relevância que cada um desses módulos têm em relação à estratégia da empresa. Por exemplo, a sua firma pode estar interessada apenas no conhecimento a respeito da tecnologia do creme rejuvenescedor, que poderia ser uma nova molécula que reverte os sinais do envelhecimento. Nesse sentido, o desenvolvimento de novas soluções para otimizar a conservação do creme — como, por exemplo, uma embalagem com um mecanismo de fechamento mais eficiente — pode ser um conjunto de informações que a sua empresa não esteja interessada. Ou seja, nesse exemplo, o módulo de conhecimento sobre a nova molécula seria muito mais crítico para empresa do que o módulo sobre a embalagem. O interessante aqui é realizar um ranking a respeito da criticidade de cada módulo de conhecimento, sempre pensando na estratégia geral da empresa e não apenas na execução de um determinado projeto.
5. Avalie a capacidade de absorção da sua empresa. 📊
Após identificar quais são os módulos de conhecimento e a relevância estratégica de cada um, está na hora de olhar para os recursos que a empresa tem internamente. No mesmo exemplo, pode ser que ainda que a empresa tenha interesse no conhecimento sobre novas embalagens, ela não tenha capacidade de absorção desses conhecimentos. Nesse caso ela teria que escolher qual conhecimento é mais crítico para ela e escolher apenas um ou outro.
6. Implemente a estratégia de gestão do conhecimento disperso. 🎯
Uma vez avaliada a capacidade de absorção da empresa e identificados quais são os módulos críticos de conhecimento, está na hora de decidir: Quais módulos de conhecimento serão transferidos dos parceiros para a sua empresa? O que ela fará com os módulos de conhecimento que não serão transferidos para ela? Nesse ponto é importante que a empresa estabeleça as práticas de governança da gestão do conhecimento disperso. A governança do ecossistema deve ser delineada para definir os limites de uso e exploração dos conhecimentos, assim como para estabelecer incentivos e canais de transferência dos conhecimentos dos parceiros para a sua empresa. Nesse caso, os módulos que forem transferidos para a empresa devem seguir uma lógica de governança burocrática. Na lógica de governança, são priorizados contratos formais e bem definidos, especialmente no que diz respeito ao delineamento de acordos de propriedade intelectual. Por outro lado, os módulos que não forem transferidos para a empresa devem seguir uma lógica de governança de mercado, onde a empresa pode empregar diferentes práticas para capturar valor da utilização desses conhecimentos pelos parceiros.
O fluxograma a seguir apresenta uma ideia geral sobre esses primeiros passos na definição de uma estratégia de gestão do conhecimento disperso em ecossistemas de inovação.
Esperamos que você tenha gostado! Ao final dessa matéria, você poderá encontrar algumas referências acadêmicas, caso queira se aprofundar no tema! Até uma próxima.
Referências:
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