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CRESCE A REPÚBLICA DE CURITIBA

BRIO
BRIO Hunter
7 min readFeb 2, 2017

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E o algoritmo pendeu a balança do (quase) aleatório para Edson Fachin. Ele será agora, digamos, o comandante-em-chefe da Lava Jato. Uma suposta boa notícia para os que querem ver o circo pegar fogo e todos os políticos e empresários envolvidos puxando uns aninhos de cadeia. Mas, valendo a máxima do “cada juiz, uma sentença”, não dá para esperar que Fachin seja um Zavascki à sua imagem e semelhança. Também não dá pra dizer que ele possui um histórico sistemático de condescendência com quaisquer habeas corpus impetrados por poderosos. Para tentar entender o que pode vir pela frente na dinastia Fachin à frente da Lava Jato, vale dar uma lida com calma em dez textos selecionados pelo JOTA sobre a práxis do gáucho radicado na mesma Curitiba de Sergio Moro.

André Rodrigues/Gazeta do Povo

#vigordeacarajé Minutos antes do sorteio que definiu Fachin na relatoria da Lava Jato, Sergio Moro voltava à ativa depois das férias determinando oito anos e quatro meses de prisão para João Santana e também para sua mulher, Mônica Moura.

#ladolcevita A vida não anda fácil para os encarcerados de colarinho branco do país. Estadão mostra que, depois de um “tráfico” de chocolate suíço e cafés especiais para dentro da Papuda, Luiz Estevão, Henrique Pizzolatto e Lúcio Funaro foram para uma espécie de solitária. Eles dividem uma mesma cela de 16m² com outros oito presos, com direito a duas horas de banho de sol e sem visitas de familiares. No Rio, a Globo conseguiu imagens das celas onde Cabral e a mulher, Adriana Ancelmo, passam seus dias em Bangu. Nada agradável. O calor é tanto que Cabral está usando cinco ventiladores. Cabral, no caso, vem plantando sua desgraça desde os anos 80, informa Lauro Jardim.

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MEDO DE DENTISTA

Das radioativas delações da Odebrecht, o primeiro a se contaminar com o material tóxico foi Aécio Neves. Um furo de Bela Megale, Marina Dias e Mario Cesar Carvalho mostra que um dos 77 executivos delatores contou que o senador e presidente do PSDB, quando era governador de Minas Gerais, se reuniu diretamente com ele para discutir meios de fraudar as licitações para a construção da Cidade Administrativa, a obra projetada por Oscar Niemeyer para abrigar a estrutura do governo mineiro. Segundo o delator, “o próprio Aécio decidiu quais empresas participariam da licitação para a obra”. O caso joga gasolina numa outra discussão, inflamada pelo próprio Aécio: o sigilo sobre as delações. Ontem, Romero Jucá, ele mesmo, líder do governo, anunciou um projeto de lei para acabar com os sigilos de “quaisquer investigações criminais”, incluindo delações. José Roberto Toledo tenta jogar uma luz sobre esse surto de transparência de autoridades que sempre abraçaram a evasividade. “Se o sigilo de todos os depoimentos dos empreiteiros que bancaram meia Brasília fosse levantado logo, seria como arrancar um dente (ou vários) amarrando-o à porta com um barbante e puxá-lo de uma vez. A alternativa é ficar ouvindo o torturante barulho da broca na antessala do consultório do dentista”.

#sequel Independentemente de uma eventual decisão de Edson Fachin de levantar o sigilo sobre as delações da Odebrehct, o fato é que, como reporta a Folha, Brasília começa a se preparar para uma nova e turbinada “lista do Janot”.

#jacaré Quem ainda resiste a abrir a boca, mas calculadamente, é Eike Batista. Ainda em seus primeiros dias no cárcere, o empresário vai usar as fichas que têm junto aos tribunais superiores, em busca de um habeas corpus. Se tudo der errado, diz Gabriel Mascarenhas no Radar, aí ele mostra os dentes.

#vivaacorrupção A crise está aí, mas se tem um povo que está rindo à toa são os advogados. Só com o carregamento de bombas da Odebrecht, as bancas envolvidas estão faturando algo na casa dos R$ 100 milhões, segundo Mônica Bergamo.

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A MORTE DA EX-PRIMEIRA DAMA

Marisa Letícia, 66 anos, não resistiu aos efeitos do acidente vascular-cerebral sofrido semana passada e teve morte cerebral nesta quinta-feira. O ex-presidente Lula ainda não se manifestou, mas, via Facebook, anunciou que a família tinha autorizado o início dos procedimentos para a doação dos órgãos da ex-primeira-dama. Na última segunda-feira, como registra o UOL, Lula afirmou que “a pressão e a tensão fazem as pessoas chegarem ao ponto que a Marisa chegou”. Poder 360, contudo, afirma que Lula está orientando aliados a não usar a morte politicamente.

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MANGUEBEAT

Tudo bem que os presídios brasileiros estão superlotados, mas tem certas coisas que, bem… No Estadão, Alexandre Hisayasu e Marco Antônio Carvalho mostram que um juiz mandou soltar o número 3 da hierarquia do PCC em São Paulo. Isso apesar de o rapaz, Gegê do Mangue, responder a 11 processos por homicídio, tráfico de drogas e outros crimes. Tudo porque um corréu afirmou em depoimento que Gegê não tinha culpa de nada — depois de três depoimentos em que disse exatamente o contrário. Coincidentemente, a declaração veio dias antes de Gegê finalmente ir para julgamento pelo Tribunal do Júri. Como em relação aos outros crimes de que é acusado, nunca houve mandado de prisão provisória, nada agora sustenta ele na cadeia.

#donosdacasa UOL conta a história de como o centro de treinamento do Fluminense, no Rio de Janeiro, virou área controlada pelo Comando Vermelho. “As ordens são claras: jogadores, integrantes da comissão técnica e funcionários do Fluminense devem ligar o pisca-alerta de seu automóvel (ou taxi), acender a lanterna e andar em baixa velocidade nas ruas próximas ao local de treino”, escreve Pedro Ivo Almeida.

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CORRA, ACÁCIO, CORRA

Separe uns dez minutos da sua vida pra ler com calma um dos relatos mais crus já escritos no Brasil sobre o universo do MMA. Adriano Wilkson dá a deixa para um roteiro cinematográfico no UOL com uma narrativa viva sobre Acácio, um lutador amador de São Paulo que tenta entrar no peso para a luta que pode ajudar a definir sua entrada para o UFC. São muitas as frases impressionantes. Escolhi uma: “Acácio precisava perder 2,7 kg nas próximas cinco horas”. É desesperador.

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REX!

O trumpismo começa a acionar seu rolo compressor no Congresso americano, aplicando manobras para fazer passar os controversos indicados de Trump para seu secretariado. O mais importante deles internacionalmente, o secretário de Estado, foi aprovado por uma margem apertadíssima e chega com a chancela russa. Egresso, com muito dinheiro no bolso, das fileiras da indústria do petróleo, Rex Tillerson será a voz dos Estados Unidos na ONU e outros tête-à-tête diplomáticos. Um primeiro desafio já está soprando, com uma potencial nova crise dos mísseis, desta vez com o Irã. Os EUA “advertiram oficialmente” o país por conta de um teste de missil balístico (em tese, não nuclear). A alegação do governo Trump é que o lançamento viola acordo sobre o programa nuclear iraniano. Outra missão para Rex será amaciar arroubos verbais de Trump ao telefone. Não era trote: Trump, segundo reporta a Associated Press, avisou ao presidente mexicano Enrique Peña Nieto que ele deve segurar os “bad hombres” mexicanos ou o Exército americano vai dar um pulinho lá pelas bandas de Tijuana. E nem pense que é mera etnofobia. Com o primeiro-ministro da Austrália, Malcolm Trumbull, o telefonema foi pra dizer que a ideia australiana, apoiada por Barack Obama, de mandar refugiados para os EUA resultaria na chegada do “próximo terrorista de Boston”.

#growthhacking Na Folha, Roberto Dias mostra como Donald Trump poderia reunciar e dar aulas de marketing digital.

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O INDICADOR DO DIA

A produção da indústria cresceu 2,3% em dezembro, na comparação com dezembro de 2015. No ano como um todo, a indústria tombou 6,6%, mas menos violentamente que em 2015, quando a queda de produção foi de 8,3%. No acumulado de três anos, a queda é de 16,9%. Algumas reportagens veem o dado como positivo, mas Vinícius Torres Freire ajuda a problematizar: “Será na melhor das hipóteses uma recuperação acidentada, de previsão controversa”.

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SAIDEIRAS

Acabou de sopetão a rádio MPB FM, no Rio, e junto com ela o emprego de vários profissionais. E terminou sem deixar terminar a música “Quem te viu, quem te vê”, de Chico Buarque, na voz de Zeca Pagodinho.

Juca Kfouri lança uma espécie de “acaba, 2017” em sua coluna na Folha mostrando,em sete pontos, como o ano que começa já é dramático para o futebol.

Para o bem ou para o mal, João Doria vai virando exemplo em Curitiba e em Belo Horizonte.

O Nobel Bob Dylan se prepara para lançar Triplicate, uma espécie de trilogia musical, e mais uma vez fazendo covers de Frank Sinatra.

Dica boa pro fim de semana dos preguiçosos: assistam na Netflix a série “American Crime Story: The People v. O.J. Simpson”. Estreia hoje por aqui e foi alvo de derretidas resenhas nos Estados Unidos.

Enquanto isso, na Romênia, terra de Drácula, crimes de corrupção que resultaram em roubos de até R$ 150 mil estão perdoados.

Hoje é dia de Iemanjá, e a Vice faz sua homenagem com um belo ensaio fotográfico.

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