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BORA MARCAR

BRIO
BRIO Hunter
5 min readFeb 3, 2017

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Mortes no universo político sempre propiciam momentos em que, ao menos no caso brasileiro, ajuda-se a perceber o quão teatral a política é. Ver Fernando Henrique Cardoso e Lula se abraçando fraternalmente, ao contrário do que pode parecer, não é para inglês ver. O que é para inglês (ou brasileiros raivosos) ver são os arroubos verbais que invariavelmente adornam o noticiário. Mesmo Michel Temer, “o golpista”, o Lex Luthor do mundo petista, apareceu no hospital e ficou 18 minutos reunido a sós com Lula. Josias de Souza traz o relato do encontro e mostra que o ex-presidente deu conselhos a Temer (e também a sua entourage de enrolados na Lava Jato, que o acompanhou na visita). Entre as dicas, não fazer a reforma da Previdência num momento de recessão econômica. Para uma plateia de convertidos, repetiu um bordão antigo dizendo que o “STF está acovardado” ao deixar a Lava Jato caminhar da maneira que está. E ainda deixou no ar, aí sim, um convite pra inglês ver. “Michel, quando quiser conversar comigo, me chame”.

Imagem: Beto Barata/Presidência

#jásei Em tempo, Lula nem precisou dar um outro conselho a Temer, já que o presidente fez o anúncio antes de ir para o hospital: deu status de ministro a um investigado da Lava Jato.

#assimcaminhamos Enquanto os atores da política se encontram no backstage por vezes sombrio da vida, os asseclas que glorificam este ou aquele lado mostram que a humanidade ainda tem muito a caminhar. Matéria de Thiago Herdy, no Globo, sobre a demissão da médica que vazou o diagnóstico de Marisa Letícia no WhatsApp, mostra que, a despeito desses grupos serem os maiores repositórios modernos de barbaridades, um neurocirurgião é capaz de estimular um crime contra uma paciente.

#matrix Na Folha, Helio Schwartsman lembra que os valentões destiladores de ódio só fazem isso porque estão protegidos pela tela de um computador. Sintoma cada vez mais preocupante de que humanos estão interagindo cada vez menos no mundo real, vendo e ouvindo apenas o que querem. “Nosso aparato emocional, e também o intelectual e o moral, foi concebido para funcionar num mundo em que as interações entre pessoas eram ao vivo e em cores, não remotas e semianônimas”, escreve.

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TPM, COM M DE MANDADOS

Expectativa pelos primeiros atos de Edson Fachin como relator da Lava Jato. Por ora, os sinais são de que a operação seguirá prestigiada. Ele já se reuniu com Marcio Schiefler, ex-auxiliar de Teori Zavascki, e teve reunião mais cedo com Rodrigo Janot. O ministro também deu sequência à valorização dos ares curitibanos sobre a Lava Jato. Chamou para lhe auxiliar na missão de desbravar as pilhas de documentos o juiz federal Ricardo Rachid, que já substituiu Sergio Moro em 2015 e que mandou prender Nestor Cerveró. Enquanto nada de efetivo acontece, Mariana Schreiber ajuda a entender um pouco melhor, na BBC Brasil, as tendências de posicionamento do ministro. Há quem o veja numa linha mais “liberal” e “garantista” do que Teori, apesar de algumas indicações recentes em sentido contrário.

#naagenda A outra expectativa é sobre o novo ministro do STF. Nesse caso, a angústia tende a terminar na segunda-feira, conforme o ministro Eliseu Padilha. A justificativa de Temer, conta Vera Rosa no Estadão, é que ele prefere ver a CCJ do Senado, cheia de nobres senadores bem preocupados com os próximos passos da Lava Jato, já montada.

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BOTAFOGO E BOTA FOGO

Embora fossem favas contadas, a eleição do botafoguense Rodrigo Maia para a presidência da Câmara gera algumas mexidas estratégicas no tabuleiro de Brasília. O Nexo faz um bom resumo do que significa para o Palácio do Planalto e também para a oposição, a fortificação do deputado, citado na lista da Odebrecht em homenagem ao seu time do coração. Se algo der errado no meio do caminho, os que estavam aliviados com o adeus de Waldir Maranhão, agora não terão motivos para comemorar — a não ser em festas com “mulheres jovens e bonitas” em seu apartamento funcional, regadas a leitão com pururuca. Simone Iglesias e Eduardo Bresciani contam em O Globo um pouco sobre a vida e obra (ainda por vir, acredita-se) de Fábio Ramalho, o novo vice-presidente da Câmara.

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ALT-FACTS

Confesso que está sendo bem difícil acompanhar o Show de Trump no dia a dia. Cada hora é uma piada nova, e desconfio cada vez mais de que o universo hollywoodiano tomou conta da Casa Branca. Pra ficar no mais recente — e engraçado, já que é sexta-feira: uma das que gozam de trânsito livre no gabinete e na mente de Trump, a assessora Kellyanne Conway conseguiu inventar um “massacre” terrorista em solo americano que nunca existiu. E disse isso em rede nacional. Ela se referiu a um tal de “massacre de Bowling Green” e que Barack Obama, diante do tal massacre, ordenou por seis meses um veto a refugiados iraquianos — o que também é ficção.

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SOBRE MUROS

Nenhum país rico conseguiu isso sem antes proteger sua indústria. É o que argumenta, numa boa entrevista a Sérgio Lamucci, no Valor Econômico, o professor Erik Reinert, da Univesidade de Cornell e autor do livro “Como os Países Ricos Ficaram Ricos… e Por que os Países Pobres Continuam Pobres” . Numa contracorrente ao discurso de livre mercado e, de certa forma, apoiando a lógica por trás de Donaldo Trump, ele lembra que “a Inglaterra protegeu a sua indústria por mais de 300 anos, a Coreia do Sul por talvez apenas 40, mas todos [os ricos] fizeram isso]”.

No Estadão, reportagem de Lu Aiko Otta mostra princípio de treta entre dois ícones da argumentação contrária à condução das contas públicas da era petista, e sempre requisitados pela imprensa: Mansueto Almeida e Felipe Salto.

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SAIDEIRAS

Ao menos uma boa notícia para o universo da imprensa pós-eleição de Donald Trump: o The New York Times ganhou 276 mil novos assinantes digitais apenas no último trimestre de 2016.

Espero que não seja o seu caso, mas se você gosta de falar mal das coisas como forma de socialização, chegou um aplicativo para te proporcionar novas amizades que compartilhem os mesmos ódios que você.

Estreia no dia 16 a sequência de Trainspotting, com os mesmos personagens do original, 20 anos depois.

Leitura pro seu fim de semana: está nas bancas a edição de fevereiro da Piauí.

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