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RASTILHO DE PÓLVORA

BRIO
BRIO Hunter
7 min readFeb 8, 2017

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Já no quinto dia de greve dos policiais militares no Espírito Santo e com 95 homicídios confirmados, o estado de sítio em Vitória e arredores sem que alguém efetivamente determine um toque de recolher, vai chegando ao ponto em que basta alguém riscar um fósforo em outro Estado para o circo arder em chamas Brasil afora. Seria uma escalada de controle ainda mais difícil que a crise penitenciária (que também pode pegar carona no caos, diante do uso de forças federais em outras missões). As reportagens do dia começam a chamar a atenção para esse perigo de efeito dominó. No Estadão, já filtrados os boatos que circularam sobre o assunto, Clarissa Thomé afirma que, “frustrados com a crise financeira do Estado, com salários atrasados e sem receber o décimo terceiro, policiais e suas famílias passaram a mobilizar-se para entrar em greve na sexta-feira”. A orientação, diz a repórter, é bloquear a entrada dos batalhões, a exemplo do Espírito Santo, a partir das 5h30. No Globo, a capixaba Míriam Leitão reforça a preocupação apontando que, “se esse movimento grevista der certo, que os governadores se preparem para outros pelo Brasil afora”.

#bolsobaleado O único jornal que vai mais a fundo na questão das causas da greve é o Estadão. O repórter Felipe Resk conta os detalhes da defasagem salarial dos PMs capixabas — os mais mal pagos do país, com salário bruto de R$ 2.646,12 para o policial aprovado em concurso. Há sete anos não recebem aumento real e, desde 2013, segundo eles, não recebem nenhum tipo de aumento.

#bolsovazio Mais cedo, o governador Paulo Hartung apostou alto contra os grevistas e disse que o governo não tem como conceder reajuste algum para os policiais. Para entender o impacto na corporação provocado pelo ajuste fiscal levado a cabo com rigor pelo governo capixaba, vale considerar breve análise do cientista político Roberto Simões, da UFES, no Brasil de Fato.

#crimonomics Na BBC Brasil, Marina Wentzel conta, em reportagem bem aprofundada, que o BID verificou, em relatório recém-divulgado, que o crime fez o Brasil gastar 3,78% de seu PIB em 2014. Nada menos que seis vezes mais do que investimentos no Bolsa Família.

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TUDO FUNCIONANDO

As instituições seguem trabalhando firme para estancar a sangria ocasionada pela Lava Jato. Embora tenha argumentos jurídicos válidos, pelo fato de boa parte dos presos estar encarcerada antes de julgamento mesmo pela primeira instância, a intenção de Gilmar Mendes parece ser outra ao comentar a missão que, segundo ele, cabe urgentemente ao STF: “Temos um encontro marcado com as alongadas prisões que se determinam em Curitiba”. Próxima casa a ser tomada pela turma que não quer que a Lava Jato avance é a CCJ do Senado, onde passarão projetos de lei que podem afrouxar o alcance e o ferramental disponível para a operação, como as delações premiadas. O nome deve ser oficializado em instantes, mas Débora Álvares e Daniela Lima afirmam desde as 13h na Folha que Edison Lobão, um dos top ranqueados na lista de citados em delações, é o nome escolhido, com as bençãos de Renan Calheiros. Nessa disputa de gato e rato entre segurar e soltar o conteúdo das delações, o chefe de gabinete do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse a senadores da oposição que a PGR vai pedir a liberação do sigilo sobre parte das 77 delações, como informam Daniel Weterman e Fábio Serapião no Estadão. Quantas, quais seriam e qual o critério de escolha, ninguém sabe ainda.

#pensamentooficial Editoriais do dia vão em sentidos contrários, mas com todos convergindo no fim ao entender a indicação de Alexandre de Moraes como fato consumado, “compreensível” e “natural”, como colocam no título Estadão e O Globo. Enquanto a Folha de S.Paulo coloca um senão (“Se a indicação de seu nome deve ser vista sem extremos de prejulgamento e passionalidade, é inegável que tampouco projeta a sensação de confiança de que, em plena crise ética e política, as instituições brasileiras estão a carecer”), O Globo lembra que “os direitos que blindam juízes contra interferências de outros poderes são garantia de que a independência e a isenção podem ser exercitadas na Corte”.

#jurisprudência Numa linha “respirando fundo” pra entender o fenômeno Alexandre de Moraes no STF, texto de Rosângela Bittar no Valor cai como uma luva. Ao lembrar que Michel Temer “está jogando com o presente” e não construindo algo para a posteridade, aponta que Moraes “não é pior que outros ministros da Justiça enviados ao Supremo” e lembra ainda de pontos controversos que antecederam a chegada de Dias Toffoli, Edson Fachin, Marco Aurélio Mello, Luís Roberto Barroso e Carlos Ayres Britto ao STF.

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EM OBSERVAÇÃO

Uma bomba que pode estourar ainda hoje é a possível soltura de Eduardo Cunha por determinação do STF. Os ministros estão reunidos em plenário agora à tarde para decidir a respeito. Merval Pereira chama a atenção para o peso que o aneurisma revelado ontem pelo ex-deputado pode ter sobre a decisão dos ministros mandarem Cunha experimentar uma tornozeleira eletrônica — além das declarações dadas ontem por Gilmar sobre a questão das prisões provisórias determinadas por Sergio Moro. Mas, ao longo do dia, a situação mudou de status. Cunha se recusou “terminantemente”, segundo relato da direção do Departamento Penitenciário Nacional exposto pelo site Paraná Portal, a fazer exames, nas dependências do presídio onde está detido, que mostrariam se o aneurisma de fato existe. O Depen também afirma que aguarda desde dezembro o envio de exames que indicaria a presença do aneurisma, mas que até hoje nada foi enviado.

#procrastinação O Antagonista recupera um momento realmente engraçado (ou trágico, caso prefira) do depoimento de Eduardo Cunha ontem a Sergio Moro.

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AS SOMBRAS DA REPÚBLICA

Enquanto eu e você discutíamos o futuro da Lava Jato, a violência no Espírito Santo, o SuperBowl, o La La Land, parlamentares e empresários tinham muito mais foco: começaram a confabular em torno de tratativas para tentar atenuar seus dramas financeiros. Raphael Di Cunto conta no Valor Econômico que eles se articulam pra tornar o Programa de Regularização Tributária, enviado pelo governo em janeiro ao Congresso, numa grande anistia para devedores. O objetivo, informa, é “ampliar o número de parcelas, diminuir o valor dos pagamentos e permitir desconto nas multas, juros e encargos financeiros de dívidas com a União”. Foram 339 emendas apresentadas para mudar o teor da Medida Provisória enviada pelo governo, como verificado pelo BRIO Hunter. Algumas delas propõem até 30 anos de parcelamento e desconto de até 100% nas multas. Fazia tempo que empresários e parlamentares não se juntavam para debater uma MP…

#moto-serra Também fora dos holofotes, o presidente Michel Temer prepara mais um corte, desta vez não de gastos, mas de árvores. Está pronto para ser enviado ao Congresso com o carimbo do Executivo um projeto que reduz em 65% as unidades de conservação na Amazônia demarcadas por decretos por Dilma Rousseff em seu último dia de governo. Quem conta o caso é André Borges, no Estadão, ressaltando que a proposta abre espaço “para exploração em uma das áreas mais sensíveis da Amazônia hoje, na região sul do Estado do Amazonas, na fronteira com o Mato Grosso e Rondônia”. Detalhe: o Ministério do Meio Ambiente sequer foi ouvido a respeito ainda.

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RIO 40 GRAUS

No caldeirão do Rio de Janeiro, a pimenta vai sendo jogada com gosto. Reportagem de André de Souza e Martha Beck no Globo ajuda a entender em que pé está a situação do Estado depois que o ministro Luiz Fux, do STF, decidiu jogar pra semana que vem uma definição sobre a possibilidade de o Rio receber socorro financeiro antes de apresentar as contrapartidas exigidas pela União — o que envolve a capacidade de fazer passar projetos que não despertam grandes amores no funcionalismo fluminense, como as imagens recentes do centro da cidade deixam claro. O jornal carioca também preparou um be-a-bá para o entendimento da crise.

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COTIDIANO

Dos abusos nossos de cada dia: um estudante de direito voltava da faculdade e decidiu sentar-se no chão da estação Barra Funda do metrô de São Paulo. Um segurança o advertiu de que ele não poderia ficar sentado ali. Ele permaneceu onde estava. O resultado foi gravado em vídeo por ele e exposto hoje pela Ponte, em matéria de Rodrigo Herzog. Embora não apareça nas imagens, o estudante afirma que foi espancado pelos seguranças

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SAIDEIRAS

Homens que nunca foram muito partidários da preocupação com moda talvez possam andar por aí mais tranquilos. Calça skinny vai pro museu da moda, e agora o “must” são os pijamões. Pode acordar e passar o dia com aquela sua calça surrada. No problem at all. (Folha)

Ancelmo Gois nos informa no Globo que Arnaldo Jabor prepara nova incursão ao mundo do cinema. Vai adaptar “Romance Negro”, de Rubem Fonseca, para as telonas.

A primeira reação mais consolidada do universo cinematográfico à nova ordem mundial gerada pela ascensão de um conservadorismo e políticas mais restritivas em relação a refugiados deve começar no Festival de Berlim, amanhã. O Brasil está na disputa, com “Joaquim”, sobre Tiradentes. (O Globo)

Estudo mostra que música pode ser realmente tão bom quanto sexo e drogas. (El País)

Aos que, como eu, gostaram de The OA, do Netflix, uma boa notícia: a série terá uma segunda temporada. (Estadão)

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