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THE WALKING DEAD

BRIO
BRIO Hunter
7 min readFeb 9, 2017

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A semana de terra de ninguém no Espírito Santo merece ser vista para além do nível apocalipse zumbi, com todos fechados dentro de casa, e reparar como ela pode ser apenas um prenúncio de problemas tão ou mais sérios em outros lugares do país, que vivem dias fantasmagóricos nas contas públicas. Rio de Janeiro é citado com frequência como a bola da vez, mas com o ansiolítico financeiro anunciado ontem pelo (ainda) governador Luiz Fernando Pezão, as coisas tendem a se acalmar (embora o UOL relate que permanecem as chances de bloqueio de batalhões amanhã). Com sua cassação de fato em suspense, a dúvida agora é se Pezão terá força política pra aprovar qualquer coisa pra aliviar as contas do Estado. De qualquer forma, Lauro Jardim nos dá hoje indicações mais concretas para onde devemos olhar. Está lá a tabela atualizada com as remunerações de policiais militares em cada um dos Estados. Antes do Rio, há outros seis Estados onde PMs são mais mal pagos, além do Espírito Santo. Por ora, em Vitória e cercanias, tudo indica que a coisa ainda vai piorar antes de melhorar. Como bem relata Heloísa Mendonça no El País, a morte de um líder sindical levou os ônibus da região a retornarem para suas garagens. Sobrou até para a afiliada da Globo em Vitória, atingida por quatro tiros durante a madrugada.

Imagem: Ailton Freitas/Agência O Globo

#serounãoser Bernardo Mello Franco lembra na Folha que, “se 2016 ficou marcado pela queda do governo petista, 2017 promete fortes turbulências nos Estados”. Algumas páginas adiante, Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica do governo Lula*, afirma que a crise no Espírito Santo é fruto de oportunismo e defende o “severo ajuste fiscal” levado a cabo em terras capixabas.

*Uma primeira versão informava, erradamente, por falha nossa, que Lisboa era secretário no governo FHC.

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RESOLUÇÕES

Em entrevista a Thiago Herdy no Globo, o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos cabeças da Lava Jato, faz uma apresentação da operação para o ano que começa e sinaliza que os holofotes devem ir gradualmente para os Estados e municípios. Entre as delações da Odebrecht, diz o procurador, “há esquemas revelados por todo o Brasil, em nível federal, estadual e municipal”. Mais da metade delas nem será mais tratada pela força-tarefa em Curitiba, afirma. Também prevê uma queda de ritmo nas operações da PF, com maior concentração na elaboração de denúncias. E diz estar satisfeito com a escolha de Alexandre de Moraes para o STF. Esse ponto poderia ser o mais surpreendente, mas Frederico Vasconcelos explica na Folha o que está por trás dessa avaliação.

#churrasquinho Enquanto isso, do lado da turma que quer estancar a sangria, o movimento continua. Jorge Bastos Moreno afirma que Temer desistiu de indicar para o Ministério da Justiça o criminalista Antônio Mariz de Oliveira, aquele que já comparou a Lava Jato à inquisição — muito embora a tendência seja de que Temer só anuncie seu escolhido após a sabatina de Alexandre de Moraes, o que faz da “desistência” algo ainda bem prematuro. Nesse sentido, vale também o relato sobre o aval que Temer teria recebido tanto de Aécio Neves quanto de Renan Calheiros para colocar Mariz na Justiça. Palpite nosso: escaldado com seus últimos movimentos, Temer pode apenas estar protegendo seu preferido da fritura ao longo das próximas semanas.

#angoráescaldado Altas emoções no mundo dos despachos judiciais, com liminares em profusão sobre o caso Moreira Franco. Desde o envio da newsletter de ontem, já foram três decisões diferentes. A última veio no início da tarde, assinada por uma juíza federal do Rio de Janeiro que, em sua decisão, citou os ensinamentos do constitucionalista Temer, sugeriu traição do presidente com o povo brasileiro e, pedindo “desculpas pela insurgência”, mandou Moreira de volta ao plano dos mortais. Vale ler ao menos os comentários direcionados a Temer pela magistrada, publicados pelo Globo. De efeito prático, pode ser que nada disso valha daqui a algumas horas, mas o recurso agora terá de ir para o TRF da 2ª Região, tribunal diferente daquele que derrubara a primeira liminar.

#equitação Boa análise sobre o movimento anti-Lava-Jato é de Maria Cristina Fernandes em sua coluna de hoje no Valor Econômico: “O governo Michel Temer decanta e a retomada da economia cavalga uma política que extrapola o cinismo”.

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CONVERSAS DO CÁRCERE

A definição sobre a soltura ou permanência de Eduardo Cunha nas celas de Curitiba acabou ficando pra semana que vem, já que a ministra Cármen Lúcia não poderia estar presente na sessão de hoje. O Antagonista diz que foi um pedido expresso da presidente do STF o adiamento da sessão. Coincidentemente, em princípio, o pedido vem depois de dois fatos novos trazidos pelo ex-deputado entre ontem e hoje. O primeiro deles, a apresentação de laudos e exames que comprovam a existência do aneurisma alegado anteontem ao juiz Sergio Moro. O blog de Fausto Macedo, no Estadão, publica o material inteiro. O outro fato novo é um texto de sua própria lavra publicado na nobre página 3 da Folha de S.Paulo. Cunha ataca Sergio Moro, se coloca no papel de vulnerável a abusos do Judiciário (“sei que minha família e eu poderemos correr o risco de sermos ainda mais retaliados pelo juiz”) e apresenta uma espécie de projeto de lei para frear “as ilegalidades praticadas”. No Radar, da Veja, Gabriel Mascarenhas conta que o ex-deputado ainda diminuiu o tom depois de aconselhado por aliados.

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PALMA, PALMA

Na economia, dia de aparentes boas notícias, com a inflação medida pelo IPCA registrando seu menor nível para janeiro em 23 anos. Não que as coisas estejam às mil maravilhas, já que a forte influência da recessão faz com que as pessoas consumam menos e, por consequência, os preços fiquem mais estáveis. Para entender o fenômeno da inflação abaixo das expectativas por um lado um pouco mais cético, vale ler a coluna de hoje de Vinícius Torres Freire, na Folha. “Quanto dessa surpresa é provisória, quanto é efeito mais intenso do que o esperado da recessão horrenda?”, pergunta o colunista. No Valor, Ribamar Oliveira traz a outra notícia positiva, com a arrecadação de impostos federais em janeiro marcando sua primeira alta real em dois anos. Mas há necessidade de cautela também aqui.

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A VULGARIDADE DOS OUTROS

Texto ótimo hoje do Contardo Calligaris na Folha. Embora o recado seja direto para Donald Trump, fiquem autorizados a experimentar dedicá-lo a outras figuras inclusive deste nosso Brasil. Falando sobre a vulgaridade estimulada pela posição de poder, o colunista cita as “duas formas básicas” pelas quais se pode ser vulgar: “há a vulgaridade do poder sem cultura e há a vulgaridade do poder sem questões e dilemas morais”. Daí vem o exibicionismo dos poderosos e o gozo dos (eventualmente pequenos) poderes. Uma dessas vulgaridades que parece não dar valor a qualquer dilema moral é mais uma “ideota” dos falcões que querem controlar a entrada de imigrantes com aparência estranha nos EUA: pedir a senha de Facebook, Twitter e outras redes sociais para ver o que essas pessoas andam fazendo.

#escolhas Na Folha, Igor Gielow mostra por que a birra de Trump com o Irã não parece ser muito inteligente se a intenção do presidente americano é realmente acabar com o ISIS e o terrorismo.

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SOCORRO

Que o Brasil pena no campo educacional, não faltam dados, pesquisas e reportagens para confirmar, mas é sempre surpreendente ver como isso vai firme até os dias finais de uma faculdade. Cláudia Collucci noticia na Folha que o Conselho Regional de Medicina de São Paulo constatou que “quase seis em cada dez médicos formados no Estado de São Paulo estão entrando no mercado de trabalho sem conhecimentos básicos de situações que envolvem o cuidado do paciente”. Em teste aplicado aos formandos, 80% deles não sabiam interpretar uma radiografia e erraram na indicação de tratamento a um idoso.

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SAIDEIRAS

Passadas as Olimpíadas do Rio, a natação brasileira vai secando dramaticamente. O patrocínio para a modalidade no Brasil regrediu ao patamar de 15 anos atrás, com apenas R$ 5,7 milhões este ano (Folha).

Enquanto isso, o Palmeiras, no futebol, vai para 2017 com um patrocínio de R$ 72 milhões — muitíssimo maior que o segundo colocado no Brasil, o Corinthians, com R$ 30 milhões (Estadão).

A Apple prepara uma obra faraônica do design para seu novo campus pela bagatela de US$ 5 bilhões. (Estadão)

Luis Fernando Veríssimo se solidariza com os que não gostam de futebol americano e mostra a magia por trás do esporte. Para ele, um quarterback é como um “intelectual orgânico”.

E aos uberistas de plantão: o serviço deve adotar em breve a modalide pré-pago. (Valor)

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