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BRIO Hunter
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8 min readFeb 13, 2017

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Temer tenta evitar um xeque-mate, o eclipse à censura contra a Folha, o lado psicológico da crise de segurança, as maneiras diferentes de se enxergar as terras brasileiras e dicas de Donald Trump para a decoração do gabinete de Kim Jong-un.

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PROTEGENDO O REI

Num movimento ainda a ser melhor esclarecido, Michel Temer dobrou a aposta hoje com a Operação Lava Jato e, depois de declarações evasivas sobre o assunto, chamou a imprensa para um pronunciamento (prática bem incomum) em que prometeu afastar todos os ministros eventualmente denunciados pelo Ministério Público. Como corretamente anota Pedro Canário no Consultor Jurídico, “com a decisão, Temer deu à Procuradoria-Geral da República o poder de escolher quem fica ou não em seu ministério”. Há alguns asteriscos visíveis, contudo: citações em delações ou mesmo pedidos de abertura de inquérito por Rodrigo Janot não serão suficientes para alguém perder o cargo. Ah, a regra só vale para a Lava Jato. O Antagonista vê o movimento de Michel Temer como reação a Sergio Moro. O site também anunciou que, minutos antes do pronunciamento de Temer, o movimento Vem Pra Rua chamou manifestação para 26 de março, contra o governo Temer, que “passou dos limites”. Andreia Sadi traz mais um elemento: “o governo quer passar a mensagem de que não será levado pela agenda de enfrentamento da Lava Jato pelo Congresso”.

#atolado De qualquer maneira, o terreno sob a Lava Jato segue movediço. Agora a Associação Nacional de Delegados da Polícia Federal vai formalizar, numa ação inédita, pedido de troca no comando da diretoria-geral da PF. Com apoio de 72% dos delegados presentes em assembleia da entidade, informa o Estadão, o grupo reclama do estado “mental, físico e emocional” de delegados envolvidos na Lava Jato, por obra do atual diretor, Leandro Daiello.

#vírus Em questão de minutos, a notícia já deu uma eclipsada em uma agenda nada positiva para o presidente. O caso até então adormecido do hacker que invadiu o celular de Marcela Temer voltou com força no fim de sexta-feira, e ainda pode trazer mais elementos ao longo da semana. O responsável por inflar a notoriedade da situação foi a própria primeira-dama e o presidente da República, ao buscarem a censura das telas reproduzidas em processo judicial e às quais a Folha de S.Paulo teve acesso em documentos públicos, como o jornal ressalta hoje ao noticiar o recebimento da notificação oficial pela censura. O X da questão é o teor do áudio que supostamente joga o nome de Temer “na lama”, segundo o hacker. Trivialidade não parece ser, dada a reação da família Temer (até porque nem a Folha nem qualquer outro veículo minimamente sério do país consideraria, ao meu ver, publicar eventuais nudes da primeira-dama).

#deunada As questões mais mundanas realmente não parecem ser o centro da preocupação do presidente. Tanto que, como nos relata Eliane Trindade, também na Folha, a sogra de Michel Temer não sofreu qualquer censura — com razão, diga-se — ao comparecer à área vip de um show nada edificante da nova e tenebrosa modinha do verão brasileiro, MC G15, em Brasília. Ao que parece até aqui, a preocupação de Temer é com censura a tópicos potencialmente de interesse público.

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CORAÇÕES E MENTES

A normalidade é apenas aparente no Espírito Santo, com efetivo da Polícia Militar voltando às ruas e com os números da violência perdendo o vigor típico de guerra. O lado sombrio da questão permanece, com policiais dando entrada em hospitais, por razões psicológicas, para não voltar ao trabalho. Carolina Linhares conta na Folha que boa parte deles não está conseguindo lidar com a pressão e com as condições precárias para o exercício do trabalho de patrulhamento — situação que lembra à relatada pelo Globo há algumas semanas, sobre o aumento do número de policiais afastados do serviço por problemas psicológicos. A situação tende a se agravar com a decisão do governador Paulo Hartung de indiciar por crime de revolta mais de 700 PMs envolvidos no motim. Josias de Souza lembra de outro aspecto: nos últimos cinco anos, o Congresso aprovou anistias a policiais em 23 Estados.

#parâmetros Semana passada, mostrei aqui que Lauro Jardim havia divulgado a essencial lista de salários de policiais militares, separado por Estado. A fonte era a Associação Nacional das Entidades Representativas dos Militares. Mas ontem o G1, num esforço de jornalistas espalhados pelo país, trouxe uma tabela com resultados diferentes e com mais credibilidade, com base em informações coletadas em cada Estado. Espírito Santo aparece com o salário base mais baixo.

#surfando Projetando-se no cenário nacional como governador austero e que passou pela greve de policiais militares sem ceder ao que ele chamou de “chantagem”, Paulo Hartung dá entrevista importante a Carolina Linhares, na Folha, criticando o tratamento dado ao Rio de Janeiro pela União e sugerindo que irá deixar o PMDB e “migrar para um partido que tenha aquilo que eu penso”.

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CADA UM COM SEU CADA UM

Felipe Recondo remexe nos arquivos da História recente do Judiciário brasileiro para desconstruir comparações que vêm sendo feitas entre as indicações de Alexandre de Moraes para o STF e outros “juristas políticos” em situações anteriores. O exemplo citado pelo repórter para mostrar que Moraes “segue um caminho nunca antes visto no Supremo” é o de Paulo Brossard. A começar pelas circunstâncias diferentes, afinal “nenhum [ministro] foi nomeado por um presidente que olha para os lados e vê assessores e aliados políticos ameaçados em processos que tramitam no Supremo”. Mas também pela discrição de Brossard, contrastante em diversos aspectos com o estilo de Moraes, que “age como um candidato típico de seu tempo, sendo avaliado pelo Congresso de seu tempo para um Supremo Tribunal Federal também de outros tempos”.

#currículo Na Folha de S.Paulo, Daniel Carvalho traz a ficha de serviços prestados pelo deputado de primeiro mandato Rodrigo Pacheco, cotado para ser ministro da Justiça com o carimbo da ilibada bancada do PMDB na Câmara. O advogado já defendeu dirigentes do Banco Rural durante o processo do mensalão e já fez críticas ao poder de investigação do Ministério Público.

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TERRAS DE ONTEM E DE HOJE

Esta é uma dica para a semana inteira. Leonêncio Nossa, repórter craque do Estadão e um dos melhores nomes do Brasil em grandes reportagens, apresenta seu mais novo trabalho: um giro de três meses, acompanhado do fotógrafo Dida Sampaio, pelo percurso descrito por Guimarães Rosa em “Grande Sertão: Veredas”, romance publicado há 60 anos. A série de reportagens, iniciada ontem, é um olhar contemporâneo sobre as mudanças sociais, ambientais, econômicas e culturais do sertão retratado pelo escritor. Nada menos que 155 pessoas foram entrevistadas para a reportagem. Aqui, o link para a reportagem de hoje.

#cacique Sobre questões culturais, vale ler a entrevista de Antonio Fernandes Toninho Costa, novo presidente da Funai, ao Valor Econômico. Filiado ao PSC, chegou ao posto — patinho feio entre órgãos públicos de Brasília nos dias de hoje — por indicação política. “Pastor aos finais de semana”, ele já fala em uma abertura maior de diálogo com a bancada ruralista da Câmara, de olho grande sobre as terras indígenas. “Há um momento em que precisamos abrir o debate para fatos novos. O país cresceu, as populações indígenas cresceram, as situações modificaram. O momento requer uma discussão”, avalia.

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DEU TSUNAMI

Quando vi que era uma reportagem sobre o MC G15, por pouco não pulei pra próxima. Mas, felizmente, parei pra ler a reportagem de Felipe Maia na Folha de S.Paulo sobre a indústria por trás de funkeiros como ele e outros, especialmente de São Paulo, espécie de nova meca brasileira do gênero pós-Furacão 2000. A GR6 é um dos “híbridos de produtora, gravadora e agência de eventos” que trabalham na composição de letras e na produção quase fordista de hits de gosto duvidoso. Seu fundador diz que a empresa, que tem mais de 2 bilhões de visualizações de seus clipes no Youtube, já recebeu oferta de R$ 25 milhões por 50% da companhia.

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ENCRENCAS

Iceberg que mostrou apenas sua ponta no motim de policiais militares no Espírito Santo, a crise financeira dos Estados tem um provável ponto de conflito relevante a caminho no Rio Grande do Sul. Como já destacado aqui, o governo federal quer colocar a venda do Banrisul como contrapartida para facilitar as coisas para os gaúchos. Mas o banco é tão associado ao Estado que a Constituição local determina que uma eventual privatização do banco só poderia ser feita mediante aprovação por plebiscito. Sérgio Ruck Bueno mostra no Valor Econômico como o governo do Rio Grande do Sul está lidando com essa encruzilhada.

#be-a-bá Para os não iniciados na temática da crise financeira do Rio de Janeiro, o Nexo preparou um guia para entender a situação, que terá capítulo importante agora à tarde, com reunião de Luiz Fernando Pezão e Henrique Meirelles com o ministro Luiz Fux, no STF.

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MÁXIMAS INVEJÁVEIS

Enquanto o mundo aguarda as primeiras reações de Donald Trump ao lançamento-teste de um míssil nuclear pela Coréia do Norte, o belicismo segue firme dentro de seu próprio gabinete. Steve Miller, um dos principais conselheiros do presidente americano, disse que “os poderes do presidente estão fora de questão” e que “não existe isso de supremacia judicial”, referindo-se ao fato de juízes de um distrito americano terem derrubado os efeitos do decreto anti-imigração. Não entendemos norte-coreano, mas é possível que a trupe de Kim Jong-un esteja traduzindo as declarações para estampar as paredes do gabinete do jovem ditador.

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SAIDEIRAS

Tony Goes lembra como os negros não costumam se dar bem no Grammy. E Beyoncé fez um disco incrível, diga-se.

Maconha liberada nos cafés de Amsterdã virou ponto central de disputa política na Holanda, relata Diogo Bercito na Folha.

Ronaldo Lemos apresenta um novo viés de democracia amparada pela tecnologia e que começa a tomar corpo: as cidades responsivas, “em que as decisões são tomadas de forma compartilhada de modo permanente com seus cidadãos”.

O Cine Leblon vai reabrir em 2020, e será bem elegante. Enquanto isso, depois de 22 anos, finalmente o Rio tem de volta o Hotel Nacional, em São Conrado.

Não que nossas humildes Pílulas tenham bebido nessa fonte, mas é legal saber que Gabriel García Márquez fundou em 1951 um jornal chamado Comprimido. Durou apenas três números, conta a Calle2.

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