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BRIO Hunter
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7 min readFeb 14, 2017

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Dica do dia para um extraterrestre: quando o caldo já estiver bem quente, aumente um pouco mais o fogo.

Destaques do dia: governo quer restringir o direito de greve em meio à penúria dos Estados, a ida do Exército para o Rio de Janeiro, a linha não-tão-dura-assim de Temer com seus ministros enrolados, o sincericídio de Eliseu Padilha e um grande ensinamento de Donald Trump ao mundo.

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ESCALDA-PÉS

Se a situação já anda tensa com os policiais militares, que, constitucionalmente, não podem fazer greve, imagine o caldeirão que o governo pode entornar sobre seus próprios pés caso queira restringir o direito de greve de outras categorias. É o que parece estar em vias de acontecer, e com o governo tomando o cuidado (talvez com a sutileza de um elefante) de não colocar suas digitais diretamente no caso. Está pronto para ser retomado o PL 710/2011, do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), com alterações “sugeridas” pelo governo. A íntegra das “sugestões” está no Poder 360, por obra do repórter Luiz Felipe Barbiéri. Como mostra o Estadão, o texto hoje está parado nas mãos de um crítico da ideia, o senador Paulo Paim (PT-RS). O plano do Planalto é que o texto passe o quanto antes para a relatoria de Romero Jucá, o que ajuda a estancar sangrias. Como se não bastasse, tem mais pimenta a caminho: Ricardo Brito informa, também no Estadão, que o governo decidiu ressuscitar o projeto de terceirização irrestrita (atividades meio e fim). Como já tinha passado na Câmara, a ideia é deixar o texto idêntico ao aprovado inicialmente. E Jucá estará de novo em ação, para garantir que o texto siga diretamente para sanção do presidente Michel Temer.

#bigpicture No Globo, Míriam Leitão ajuda a entender os meandros do que está acontecendo no Rio de Janeiro.

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COZINHANDO EM FOGO BAIXO

Em meio à cobertura já arrastada da crise na segurança pública ocasionada pela paralisação de PMs, Heloísa Mendonça surge com algo diferenciado no El País. A repórter entrevistou soldados e outras patentes envolvidas na paralisação e mostra como a situação está deixando os policiais do Espírito Santo uma pilha de nervos. Eles estão com medo de punições severas, de uma volta à rotina longe das condições ideias e, essencialmente, com medo de morrer. Um psicólogo da PM ouvido pela reportagem conta ter visto “muitos de farda chorando como crianças” espalhados por um corredor do hospital da polícia.

#bate-e-volta No Rio, as Forças Armadas estão a caminho pra evitar maiores problemas nos próximos dias. Mas por tempo bem menor do que gostaria o governador cassado-mas-em-exercício Luiz Fernando Pezão. Ontem, ele comemorou a presença das tropas até 5 de março, pós-Carnaval. Hoje, no Diário Oficial, viu que a ajuda virá só até quarta-feira que vem. Como relata no Estadão a repórter Tânia Monteiro, especialista em assuntos da caserna, a simples ida de tropas para o Rio já “está trazendo grande insatisfação e preocupação entre os militares”, que veem uso político. Por um tempo maior, então, nem se fala.

#fact-checking A Agência Lupa mostra que Paulo Hartung, governador do Espírito Santo, errou ao dizer em entrevistas recentes que o salários dos PMs capixabas é o 10º maior do país. Ele usou um dado médio, considerando inclusive o soldo de coronéis. Na realidade, os soldados do Espírito Santo são mesmo os mais mal pagos do Brasil.

#barrildepólvora Enquanto isso, em Presidente Bernardes, interior de São Paulo… Marcola e outros 12 do PCC vão ficar mais um ano no chamado Regime Disciplinar Diferenciado (uma espécie de vida na base do pão e água, com 22 horas por dia fechado numa cela individual, sem acesso a rádio, TV ou jornais, como relatam Luís Adorno e Josmar Jozino na Ponte Jornalismo). Eles ficariam lá por dois meses, mas os planos mudaram. Fato é que o PCC não costuma ficar contente quando esse tipo de punição acontece.

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EQUACIONANDO

O movimento “linha-dura” de Michel Temer ontem vai ficando mais claro. Em análise no Estadão, a coordenadora do projeto Supremo em Pauta, da FGV Direito Rio, Eloísa Machado de Almeida, conclui que “o anúncio de Temer se parece mais com uma tentativa de proteger ministros delatados e investigados, que ainda não são réus, do que um gesto de intolerância com a improbidade”. Na Folha de S.Paulo, Rubens Valente deixa isso ainda mais claro ao analisar 31 inquéritos que correm no STF no âmbito da Lava Jato. O rigor do presidente com sua equipe de confiança parece ser uma retórica ancorada em cálculos empíricos: a Procuradoria-Geral da República leva, em média, um ano e dois meses para oferecer uma denúncia depois de aberto um inquérito. Se a conta se aplicar às delações da Odebrecht, que servirão de base para vários novos inquéritos, os ministros investigados (o Poder 360 traz alista completa dos já citados em delações) somente deixarão seus cargos, pelo plano Temer, a partir de abril de 2018 — justamente na época em que eles deverão naturalmente deixar seus cargos caso queiram concorrer a cargos eletivos nas eleições de outubro do ano que vem. Mas segue sendo um movimento arriscado por parte de Temer, que coloca pelo menos até setembro nas mãos de Rodrigo Janot (quando termina seu mandato à frente da PGR) o poder de fazer sangrar o governo (no caso Eduardo Cunha, lembra Rubens Valente, o PGR demorou apenas cinco meses para oferecer denúncia).

#dissabores Em outra frente relevante para o futuro da Operação Lava Jato, o criminalista Antonio Mariz de Oliveira fala a Fausto Macedo que realmente tem críticas à operação e que, por conta disso, “perdura o temor de que a minha eventual nomeação [para o Ministério da Justiça] “venha a trazer algum problema para o governo”. Ele também aponta que teria muita dificuldade para manter uma série de clientes ligados direta e indiretamente à Lava Jato em seu escritório. Outro cotado, o deputado Rodrigo Pacheco aparece agora como descartado, conforme informações de Andreia Sadi.

#vizinhos Boa entrevista do jornalista peruano Gustavo Gorriti à Sylvia Colombo, na Folha, sobre os efeitos da Lava Jato na América Latina e como a imprensa nos países vizinhos tem e terá um papel mais importante que a brasileira, dada a falta de independência do Judiciário na maioria dos países do continente onde a Odebrecht deixou suas pegadas. Sobre o Brasil, ele alerta Sergio Moro e sua turma: “Não é o mesmo o entusiasmo de um juiz principiante que está começando com um caso desses na mão do que o dessa pessoa depois que se transforma na Madonna do mundo das leis”. Sobre o contexto latinoamericano, também da lavra de Sylvia Colombo, vale ler como as propinas da Odebrecht estão afetando as eleições no Equador, que elege o sucessor de Rafael Corrêa no próximo domingo.

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REAL POLITIK

A Coluna do Estadão nos oferece hoje, em forma de nota, um item para o compêndio da democracia representativa brasileira como poucas vezes visto. Com direito a áudio, Eliseu Padilha, um dos homens do presidente e por acaso chefe da Casa Civil, disse para bons entendedores que o governo escolhe seus ministros com base no número de votos que ele pode lhe garantir no Congresso. Não que já estejamos carecas de saber disso, mas é raro ver alguém num posto tão qualificado da República admitir o fisiologismo de maneira tão explícita. No caso específico, foi assim que Ricardo Barros virou um “notável” no Ministério da Saúde.

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FAKE NEWS!

E o universo da “imprensa desonesta” venceu sua primeira batalha. Graças ao trabalho da imprensa profissional e séria que Donald Trump tanto detesta, caiu o primeiro falcão do novo presidente americano — e isso com menos de um mês de governo. O assessor de segurança nacional, general Michael Flynn, pediu demissão depois de o Washington Post revelar que ele mentiu (fake news) ao negar ter discutido com o embaixador russo o tratamento dos EUA às sanções impostas pelo governo Obama ao regime de Vladimir Putin. A BBC explica o caso, com direito a cronologia e perfil do substituto. No G1, Helio Gurovitz traz um contexto ainda melhor sobre o que representava Flynn dentro do governo Trump.

#narcisismomaligno O que vinha sendo motivo de piadas, pode realmente ser sério. Henrique Gomes Batista mostra no Globo que a saúde mental de Donald Trump vem realmente preocupando especialistas e aliados políticos do presidente, que passam a duvidar seriamente da sanidade do líder da maior potência do mundo. O transtorno de Trump teria até nome, e parece ficção.

#malignomesmo E o concorrente de Trump no quesito ego, Kim Jong-un, pegou pesado: aparentemente, mandou matar envenenado o próprio irmão.

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UNIÃO FAZ A FORÇA

Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé. No caso da reforma tributária, é mais ou menos isso que está acontecendo. Com avais do quilate de Roberto Setúbal e Jorge Gerdau, o chamado Conselhão do governo federal apresenta hoje à equipe econômica de Henrique Meirelles a proposta de criação de um imposto sobre valor agregado, a ser cobrado pela União, para substituir os tributos atuais que incidem sobre produção e consumo. O caminho, evidentemente, não é fácil, mas chega com lobby forte e mais bem estruturado que o normal. A informação é do Painel, da Folha. Não se sabe se, caso já estivesse vigente, um imposto do tipo seria capaz de evitar o maior tombo das vendas no comércio dos últimos 15 anos, como divulgou hoje o IBGE.

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SAIDEIRAS

A Playboy americana recuou e vai voltar a trabalhar com nudez em suas páginas.

João Moreira Salles não costuma errar a mão em seus trabalhos. Seu mais recente documentário, por ora em exibição apenas no Festival de Berlim, é um “must see”.

O Poder 360 apresenta um ranking dos milhões recebidos do governo federal por assessorias de imprensa no ano passado.

Pra rir: Donald Trump tem algo a ensinar ao mundo.

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