É preciso valorizar quem faz o Jornalismo acontecer

Apontamentos sobre como a essência do jornalismo sempre será maior que a forma.

BRIO
BRIO STORIES
7 min readNov 17, 2016

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Eram os primeiros dias de abril de 2013 quando eu e alguns colegas começávamos a discutir o que viria a se tornar o BRIO, um cantinho nesse vasto mundo digital brasileiro para a publicação de grandes reportagens sobre assuntos que talvez nunca encontrassem espaço adequado na mídia tradicional.

Como fio condutor das nossas conversas, sempre aquela perguntinha de muitos bilhões de dólares: como encarar a crise do jornalismo sem sucumbir a ela? Estávamos, todos nós, empregados em posições bem importantes dentro de veículos tradicionais no país, mas já sentindo sob os nossos pés a iminência de um tremor que possivelmente não deixaria pedra sob pedra.

Tínhamos, naquele momento, muitas possíveis respostas. Uma delas envolvia uma necessidade de migração plena para o ambiente digital. Outra, a noção de que era necessário trazer a profundidade para o primeiro plano do universo noticioso, ao menos para complementar o hard news.

Daí nasceu o BRIO. Como já apontamos em outros textos (aqui e aqui), nosso plano de contar grandes histórias ficou prejudicado sem ser plenamente testado no sentido mercadológico. Não foi possível garantir — de maneira viável, verdadeiramente independente e sustentável financeiramente — uma forma de produzir aquelas reportagens de alto nível com periodicidade definida e pagando bem aos jornalistas envolvidos.

A solução para a crise passa, necessariamente, pela capacidade dos profissionais da área fazerem… bom jornalismo.

Mas essa jornada provocou muita reflexão e introspecção de minha parte, e tendo ainda aquela pergunta como centro. Tecnologias avançaram bastante nesses mais de três anos, novas previsões começaram a pulular em relatórios sobre o mercado de mídia, dados otimistas alternavam-se com outros pessimistas dentro e fora do Brasil.

Quase nunca, contudo, vi alguém ou alguma instituição tratar da essência dessa resistência anticrise do Jornalismo (com J maiúsculo). E é disso que vem o insight para a maior contribuição que o BRIO poderá dar a essa profissão (muito mais do que uma reportagem bem escrita): a solução para a crise passa, necessariamente, pela capacidade dos profissionais da área fazerem… bom jornalismo.

É uma afirmação simples, talvez óbvia, mas que parece passar ao largo do pensamento dominante sobre o mercado. Cogita-se maiores investimentos em vídeo como a solução, outros dizem que reportagens com infográficos atrairão mais audiência, ou que mais investigações ou histórias com mais contexto e análise contemplariam uma nova geração de leitores, entre outras hipóteses provavelmente verdadeiras.

Mas, caríssimos, quem vai fazer isso?

A mão-de-obra jornalística hoje é realmente capacitada ou, na verdade, apenas voluntariosa e com impulso militante?

O que diferencia nós jornalistas daqueles que povoam as redes sociais disseminando boatos, e que ganham enorme atenção?

Que tipo de notícia somos capazes de produzir e veicular sem depender de mais ninguém?

Quantos efetivamente sabem produzir o jornalismo que os novos tempos demandam?

Quantos têm conhecimento suficiente sobre técnicas de organização, planejamento, apuração, escrita, pós-produção, marketing e empreendedorismo?

Quantos são capazes de dizer para si mesmos que, caso não consigam emprego no futuro próximo ou percam os seus atuais postos, poderão seguir fazendo jornalismo e sobreviver com isso?

É por essas brechas de compreensão que o BRIO Hunter está chegando ao mercado. Esse é o novo braço do BRIO Media, que irá complementar e — futuramente, como você verá mais à frente — fortalecer o BRIO Stories.

O Hunter (permita-me chamá-lo assim) é fruto de uma reflexão profunda provocada pela nossa necessidade de manter o BRIO vivo, encarando de frente os números ruins e os aprendizados do BRIO Stories. Por que não usarmos nosso conhecimento acumulado nas redações e no universo independente, e nossa constante atualização sobre o que acontece no jornalismo e no mercado de mídia, para ajudar a qualificar um universo de centenas de milhares de jornalistas espalhados pelo Brasil?

Eis um número nunca divulgado que buscamos pacientemente na base de dados do Ministério da Educação: existem hoje 372 cursos ativos de jornalismo em todo o Brasil que formam, aproximadamente, 48 mil profissionais todos os anos — já descontada uma taxa de evasão média de 20% de estudantes. É uma infinidade de profissionais que somente conseguirá se diferenciar e realmente sobreviver a partir do jornalismo caso tenha domínio sobre as técnicas necessárias para enfrentar os tempos difíceis do mercado de mídia.

O Hunter não é um curso de jornalismo, não é um banco de empregos, não é a salvação nem garantia de nada. O que nós oferecemos é a valorização do jornalismo e das pessoas que o fazem. O que estamos nos propondo a fazer é um serviço em que as características atuais de cada jornalista inscrito serão analisadas minuciosamente, destacando seus pontos fortes e fracos e indicando claramente o caminho para que ele possa se tornar um profissional mais completo.

As reações de quem já se inscreveu no serviço são unânimes em apontar a qualidade desse relatório inicial. Não que seja algo magistral, mas porque nenhum deles (nem de nós) jamais teve alguém que olhasse para a nossa “alma” jornalística de maneira plena. O mundo jornalístico é povoado de egos, aparências, meias verdades e necessidades de validação social. No BRIO Hunter, nossa primeira e mais geral lição é: siga suas verdadeiras vontades. Não tente se enquadrar em formas pré-estabelecidas. Descubra quem você é, defina seu nicho, para, aí sim, fazer com que o seu jornalismo flua.

Nós aplicamos uma série de testes para poder extrair essas informações de nossos usuários para que, entendendo esse universo de maneira mais ampla, consigamos ajuda-los de maneira mais precisa.

Para trabalhar isso, preparamos um programa de capacitação que abrange tudo aquilo que qualquer jornalista precisaria saber para fazer um jornalismo de qualidade sem depender de ninguém — a não ser de eventuais fontes (às vezes nem isso). Passamos por três grandes eixos: pré-produção, produção e pós-produção jornalísticas. Além disso, também fazemos em paralelo um trabalho constante de qualificação de texto e ampliação de espírito crítico e capacidade de análise.

Entre tantas áreas que trabalhamos estão organização, automação para facilitar o trabalho do jornalista, planejamento de pauta, técnicas avançadas de apuração online, manejo de dados, programação, edição de foto e vídeo, design, marketing e empreendedorismo.

Com esse pessoal capacitado, estaremos em condição de indicar profissionais para qualquer veículo ou empresa de outras áreas que precise de produtor de conteúdo. Isso já está acontecendo, aliás. Alguns dos nossos usuários iniciais já conseguiram freelas relevantes através do BRIO Hunter, e há pessoas sendo consideradas para vagas fixas. Já indicamos seis profissionais para jobs específicos, em diferentes veículos.

Para isso, não cobramos nada das empresas (a não ser que elas peçam por treinamentos específicos para suas equipes). Entendemos que os profissionais são nossos clientes e que os veículos são meros facilitadores nesse processo. Apenas pedimos às empresas que preencham este formulário indicando as características do profissional que precisa, e nós indicamos um nome. Se não tivermos ninguém, não forçaremos a barra. Só indicaremos profissionais que tenhamos certeza de que farão um bom trabalho.

Nossos números iniciais são bem estimulantes. Colocamos o site no ar no dia 12 de setembro com o objetivo de, até o fim daquele mês, conseguirmos 50 inscritos. Chegamos a esse número em apenas sete dias, com uma divulgação muito pontual (apenas entre aqueles que já curtiam o BRIO no Facebook). Na verdade, ultrapassamos aquela meta e iniciamos os trabalhos propriamente ditos com 61 usuários.

Entre nossos usuários estão no mesmo balaio dois vencedores do Prêmio Esso, ex-editores de grandes veículos, autores de livro-reportagens, repórteres atualmente empregados também em redações de peso, profissionais com ampla experiência no mercado e buscando capacitação, outros recém-formados e ainda tateando o mercado, e também estudantes em diferentes fases da graduação — além de profissionais de outras áreas que buscam aprender ou aperfeiçoar técnicas jornalísticas.

Agora que já entendemos o volume de trabalho que cada usuário nos dá, estamos seguros para seguir em frente e, desde ontem, estamos anunciando novas e limitadas vagas para o serviço.

Decidimos colocar à disposição do público dois pacotes, ambos anuais. Um mais básico, com parcelas mensais de R$ 49, e outro completo, em 12 parcelas de R$ 79. Também lançamos uma promoção: se você se inscrever e conseguir indicar mais quatro usuários para o nosso serviço premium, nós lhe devolvemos todo o dinheiro e você usufrui do BRIO Hunter de graça.

Uma pergunta que muitos nos fazem é sobre turmas, datas de início, duração do “curso”, etc. Vou tentar resumir:

  • Não temos turmas. Nosso programa é constante. Se você se inscreve hoje, amanhã ou daqui a dois meses, não importa: você sempre terá acesso a um ano de qualificação, com conteúdos que podem ser consumidos a qualquer momento, e quantas vezes você quiser.
  • Não há data de início ou término para os cursos específicos. Eles são preparados (em videocasts, tutoriais online ou manuais) para serem acompanhados a qualquer momento, dentro da ordem estabelecida no seu plano de trabalho. Não adianta entrar direto para a pós-produção se há questões importantes a serem trabalhadas com você na fase de pré-produção.
  • Quando você se inscreve, você tem direito a usufruir do BRIO Hunter durante um ano, renovável por iguais períodos. Isso significa que, nesse período, você tem acesso aos conteúdos e suas eventuais atualizações, novos cursos que a gente prepare ao longo do tempo, além de outras produções nossas no período, como webinários e podcasts. Também por um ano seu nome fica no nosso banco de talentos, e você passa por reavaliações a cada quatro meses, para sabermos sua evolução.

Por último, para retomar a ligação do BRIO Hunter com o BRIO Stories. Nosso plano é que, com nossas metas caminhando no ritmo esperado, a gente consiga, no médio prazo, criar uma espécie de “Spotlight” brasileira.

Queremos identificar os grandes talentos da nossa base e criarmos uma equipe do BRIO voltada exclusivamente para a produção de reportagens especiais. Enquanto no BRIO Stories estávamos trabalhando apenas com freelances eventuais, a ideia agora é poder montar um time forte, com aptidões variadas, para acompanhar de perto e constantemente os temas do momento e trazer novidades, mas no melhor estilo de BRIO de fazer jornalismo.

Contamos com você nessa nossa jornada, seja participando, seja ajudando a divulgar mais essa ideia a favor do jornalismo de qualidade.

Como sempre, um renovado obrigado a todos vocês que acompanham essa caminhada do BRIO.

Um grande abraço,

Breno Costa, fundador e diretor-geral do BRIO Hunter e editor-executivo do BRIO Stories.

Assina embaixo desse texto também Tiago Lobo, diretor de Head Hunting e Prospecção de Talentos do BRIO Hunter.

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