O Valor de Cada Escolha dos Broncos no Draft 2020
É fim de draft, meus amigos. Agora vem aquela hora das notas estúpidas para as seleções, onde Mel Kiper tem a audácia de dar uma nota C+ para os Broncos.
Por isso, ano passado resolvemos fazer diferente. Para evitar o fator pessoal, que nos leva a pensar “Ah, fulano só deu esta nota horrorosa porque ele odeia o meu time”, o nosso sistema utiliza avaliações dos jogadores pré-draft, ou seja, sem saber quem vai escolher o jogador, não tem como ter um viés contra ou a favor de alguém. Além disso, para minimizar a chance de erro de avaliação, usamos a avaliação média de três portais importantes: On The Clock, The Draft Network e Pro Football Focus. Com tudo isso, chegamos ao seguinte resultado:
De acordo com o nosso estudo, os Broncos tiveram o 6º melhor aproveitamento de draft capital de 2020. O que isso significa? Isso quer dizer que conseguimos 29% mais valor do que a nossa posição no draft valia. E como chegamos nesta conta? Vamos lá!
Existe uma tabela que se chama “NFL Draft Value Chart”, que calcula quanto vale cada escolha do draft. A pick #1 vale 3.000 pontos e a última pick vale 1 pontinho. Com base nisso, temos o valor de cada escolha. A soma delas tá na coluna “Draft Capital”. Com isso, aplicamos a mesma lógica aos big boards* dos três portais. Assim, o melhor jogador do board vale 3.000 e vai descendo de maneira decrescente.
*Big Board é uma lista sequencial, onde os jogadores são classificados de acordo com seu talento, de maneira sequencial.
E como os Broncos chegaram nesta posição de 6º melhor draft da classe de 2020? Vamos às análises jogador a jogador.
1º Rodada, Escolha #15: Jerry Jeudy, WR, Alabama
Já na quinta-feira John Elway começou muito bem a seleção, escolhendo o WR Jerry Jeudy. Tido por muitos como o melhor WR do board, Jeudy foi o recebedor número 1 na sua universidade, se destacando por ser um jogador de técnica muito apurada. Excelente corredor de rotas, tem tudo para ter um impacto instantâneo na NFL.
Board OTC: 11º (1.250 pontos de valor)
Boart TDN: 8º (1.400 pontos)
Board PFF: 5º (1.700 pontos)
Escolhido na 15ª pick (1.050 pontos)
Lucro: 400 pontos (38,1%)
2ª Rodada, Escolha #46: K.J. Hamler, WR, Penn State
Elway abriu o segundo dia selecionando mais um recebedor. Desta vez, o escolhido foi K.J. Hamler. Ele se destaca por sua velocidade, conseguindo correr o tiro de 40 jardas em 4.27s (no seu pro day). Com essa velocidade absurda, ele passa por seus marcadores como se estivesse de moto. Portanto, ele vem preencher uma necessidade importante, que é a de termos um recebedor que leve a defesa a respeitar a sua velocidade e a sua capacidade de sacar big plays.
No entanto, existem algumas dúvidas sobre o seu jogo. A primeira delas é o seu tamanho, pelo fato dele ser baixo e franzino. Assim, sua capacidade de jogo se limita ao slot*, onde ele não sofre a pressão da linha de scrimmage. Outra preocupação são os drops que ele cometeu durante a sua carreira universitária. A preocupação não é tão grande porque ele tem uma boa habilidade com as mãos — dado que ele fez várias recepções contestadas e em zonas apertadas. Para muitos, o problema é mais de concentração, o que poderia ser corrigido.
De modo geral, os boards tiveram uma avaliação do jogador muito próxima à zona em que ele foi selecionado. Portanto, não foi nem um reach, nem um steal. O jogador foi selecionado onde deveria.
Board OTC: 59º (310 pontos)
Boart TDN: 44º (460 pontos)
Board PFF: 41º (490 pontos)
Escolhido na 46ª pick (440 pontos)
Perda: 20 pontos (-4,5%)
3ª Rodada, Escolha #77: Michael Ojemudia, CB, Iowa
Ojemudia foi uma escolha que deixou parte dos analistas e torcedores de cabeça em pé. Projetado para ser um jogador de fim de 4ª rodada, Elway e Fangio o selecionaram no início da 3ª. A necessidade era latente e eles não perderam a oportunidade de selecionar o CB que é alto e ágil, com grande talento para jogar em zona. Traduzindo, um jogador com grande adequação ao esquema do time.
Dentre as principais questões está o fato de que ele praticamente não jogou com marcação homem-a-homem, que demanda grande utilização de atributos físicos, jogo de mão e a capacidade de seguir um jogador no campo (mesmo quando ele muda de direção de maneira brusca). Cabe salientar que não é que ele seja ruim nisto. A questão é que não vimos isso no tape, o que significa que ele pode ser bom ou pode ser ruim. Não sabemos. E é por conta disto, a sua nota era bem mais baixa do que Elway tinha em seu board.
As dúvidas eram tantas que a melhor avaliação o colocava como jogador de final de 3ª rodada (TDN), enquanto outras o colocavam como final de 5ª rodada (PFF). Foi um dos maiores reaches de John Elway em 2020.
Board OTC: 139º (37 pontos)
Boart TDN: 101º (96 pontos)
Board PFF: 176º (21 pontos)
Escolhido na 77ª pick (205 pontos)
Perda: 154 pontos (-75%)
3ª Rodada, Escolha #83: Lloyd Cushenberry, C, LSU
Lloyd Cushenberry foi um grande steal dos Broncos neste draft. Rankeado como jogador de final de segunda rodada, Elway conseguiu selecionar o jogador na segunda metade da rodada seguinte. De cara Cushenberry já vem para ser titular. Só não será titular se perder para Patrick Morris, o desconhecido jogador segundo anista.
Ele foi uma força na poderosa linha de LSU, que jogava por diversas vezes com apenas 5 homens na proteção. Assim, ele já está acostumado a lidar com situações difíceis, sem proteção adicional do RB ou do TE.
Board OTC: 46º (440 pontos)
Boart TDN: 54º (360 pontos)
Board PFF: 118º (58 pontos)
Escolhido na 83ª pick (175 pontos)
Lucro: 286 pontos (63,4%)
3ª Rodada, Escolha #95: McTelvin Agim, iDL, Arkansas
Aqui temos um projeto de Vic Fangio. Agim é um edge rusher que fez a transição para o interior da linha nos últimos 2 anos. Por conta disto, além de ser um jogador um tanto leve e ter como forte a sua agilidade, ele é muito bom quando alinha para atacar um gap, mas não é tão sólido quando alinha de frente com um jogador da OL.
Tendo o lado físico para desenvolver, assim como aspectos técnicos, Agim pouco deve contribuir em 2020, mas segue a temática de jogadores de linha de rodadas intermediárias que sejam leves e tenham mais a característica do pass rush do que a contenção do jogo corrido.
Sendo um projeto, Agim era visto como um prospecto de início de 5ª rodada. O portal mais favorável o via como prospecto de meio de 4ª rodada. Desta forma, o jogador de linha defensiva foi mais um reach no lado defensivo da bola, se somando a Michael Ojemudia. Aqui, mais de 70% do valor da pick foi jogado fora.
Board OTC: 170º (23 pontos)
Boart TDN: 158º (28 pontos)
Board PFF: 121º (52 pontos)
Escolhido na 95ª pick (120 pontos)
Perda: -86 pontos (-71,4%)
4ª Rodada, Escolha #118: Albert Okwuegbunam, TE, Missouri
Albert Okwuegbunam foi uma escolha surpreendente, dado que o time conta com Noah Fant como um Tight End explosivo e Nick Vannett como o experiente TE2. No entanto, John Elway puxou o gatilho mesmo assim e draftou um dos alvos favoritos do Lock lá em Mizzou.
Podendo ser uma escolha top-50 se viesse para o draft em 2019, ele caiu um pouco nos boards pelo ano mais fraco após a perda de Lock no Missouri. Assim, o nosso TE slecionado na #118 foi visto como um reach pelo The Draft Network (146º) e pelo PFF (193º). No entanto, pelo fato do On The Clock ter classificado o rapaz como o 75º do board, fez com que na média geral, ele fosse considerado um steal.
Okwuegbunam é um cara que tem um skill set parecido com o do Fant, sendo um corredor de rota menos polido, mas podendo alinhar em mais posições do campo. Além de ser uma apólice de seguro para quando o Fant não tiver disponível, ele pode ser a reencarnação de Evan Engram, o TE dos Giants que teve bastante sucesso jogando com o Pat Shurmur em Nova Iorque. Tanto alinhado na linha ofensiva, quanto no slot. Além disso, Albert O pode jogar no backfield, substituindo Andrew Beck nas raras ocasiões que o time precisar de alguém na posição de fullback.
Board OTC: 75º (215 pontos)
Boart TDN: 146º (33 pontos)
Board PFF: 193º (14 pontos)
Escolhido na 118ª pick (58 pontos)
Lucro: 29 pontos (50,6%)
5ª Rodada, Escolha #178: Justin Strnad, Híbrido S/ILB, Wake Forest
Justin Strnad é um jogador versátil, que pode jogar tanto de Strong Safety, como de Inside Linebacker. Com esta versatilidade, pode ser um jogador que se dedique a marcar os Tight Ends adversários, com a sua habilidade de cobertura e agilidade. No entanto, ele é um pouco pequeno para a função. Como foi a tônica do draft defensivo, ele é um projeto que Fangio pretende desenvolver para encaixar no esquema.
Aqui a escolha nem foi um reach muito grande, ainda que a matemática o aponte assim. Para os boards do On The Clock e do The Draft Network, Strnad era um jogador com calibre para ser selecionado exatamente onde foi escolhido pelos Broncos. O que puxou a média para baixo foi o board do PFF, onde ele nem ranqueado está.
Board OTC: 181º (19 pontos)
Boart TDN: 169º (21 pontos)
Board PFF: N/D (1 ponto)
Escolhido na 178ª pick (20 pontos)
Perda: -5 pontos (-26,7%)
6ª Rodada, Escolha #181: Netani Muti, OG, Fresno State
Aqui foi o principal steal do draft dos Broncos em 2020. Netani Muti é tido por muitos como talento top-5 na posição de OG. Porém, as constantes lesões o fizeram desabar na seleção. Nos últimos 2 anos ele conseguiu jogar apenas 5 partidas.
Para o On The Clock e para o PFF, Muti é um talento do top-50, ou seja, para ser selecionado até o meio da segunda rodada. Note que ele foi selecionado na 6ª e torça muito para que este homem seja ungido e não se machuque mais. Se isso acontecer, ganhamos na loteria. Se não acontecer, quem se importa com uma escolha de 6ª rodada?
Board OTC: 47º (430 pontos)
Boart TDN: 117º (60 pontos)
Board PFF: 37º (530 pontos)
Escolhido na 181ª pick (19 pontos)
Lucro: 321 pontos (1690%)
7ª Rodada, Escolha #252: Tyrie Cleveland, WR, Florida
Tyrie Cleveland é o Tim Patrick, só que mais rápido. Me dói o coração escrever esta frase, especialmente porque eu adoro o menino Tim Patrick. Cleveland é uma aposta para ser o WR4 do time, o que deve ser o seu teto — se ele der certo.
Em termos de board, o On The Clock o ignorou para o seu top-200, assim como o PFF para o seu top-250. O único portal que o tinha pelo menos ranqueado foi o The Draft Network.
Board OTC: N/D (1 ponto)
Boart TDN: 225º (1 ponto)
Board PFF: N/D (1 ponto)
Escolhido na 252ª pick (1 ponto)
Lucro: 0 pontos (0%)
7ª Rodada, Escolha #254: Derrek Tuszka, Edge, North Dakota State
Derrek Tuszka é mais uma tentativa do Elway de emplacar um edge rusher desconhecido. Depois de lançar Shaquill Barrett (undrafted) e Malik Reed (undrafted), nosso GM lança Derrek Tuszka na penúltima escolha do draft (praticamente undrafted).
Tuszka não foi ranqueado pelo On The Clock e pelo The Draft Network, mas o fato de ter sido ranqueado pelo Pro Football Focus como o 150º melhor prospecto o colocou com o valor médio de 10x o da penúltima pick. Será que o pessoal do PFF viu o mesmo potencial que Fangio e Elway viram no rapaz?
Board OTC: N/Dº (1 ponto)
Boart TDN: N/Dº (1 ponto)
Board PFF: 150º (31 pontos)
Escolhido na 254ª pick (1 ponto)
Lucro: 10 pontos (1000%)
Em resumo, tivemos dois drafts, como podemos ver pela tabela abaixo. O primeiro foi o draft do Elway, com steals ou valor adequado em praticamente todas as escolhas de ataque. No entanto, o segundo foi o do Fangio, com reaches em todas as principais escolhas de defesas. Enquanto Elway priorizou talentos que produziram no College, com jogadores de piso alto, Fangio priorizou jogadores mais crus, que podem ser moldados ao seu esquema. Estes jogadores tem teto alto, mas também tem uma maior chance de simplesmente não darem certo na NFL.
O que você achou do Draft 2020 dos Broncos? Comenta conosco lá no Twitter @broncast_pod.
