Review da temporada 2018 — Os TEs e RBs

Victor Matheus
Broncos Brasil feat. Broncast
7 min readJun 12, 2019

A temporada de 2018 do Denver Broncos certamente não foi um sucesso. Um 6–10 jamais pode ser um bom resultado para um time que está acostumado com temporadas positivas e playoffs. Infelizmente, desde o famigerado e incrível ano de 2015, o time do Colorado não chega à pós-temporada.

Mas engana-se quem acha que foi tudo um desastre. Obviamente os aspectos negativos superaram os positivos e as falhas mostram-se muito mais urgentes. Nessa nova série estarei trazendo pra vocês 4 qualidades demonstradas na temporada de 2018 que devemos repetir em 2019 e 4 aspectos negativos do time comandados por Vance Joseph. Como dito antes, os aspectos negativos são muito mais chamativos e numerosos, logo destacarei apenas os principais.

De fato, minha maior dúvida para começar essa série foi escolher abordar as qualidades ou os fiascos protagonizados em 2018. Apesar de 2019 ser um novo ano e na offseason todo mundo tá confiante, adotarei uma postura rigorosa nesse começo. Mas fiquem calmos pois no meio de toda essa corneta, irei separar um espaço para falar sobre esse carinha maravilhoso da foto abaixo.

Nosso Colorado Kid tentando se desvencilhar do nosso novo canivete suíço Kareem Jackson.

Pouca utilização de tight ends na redzone e passes para running backs

Tight Ends mal utilizados. Até quando?

Não é novidade para nenhum torcedor azul e laranja que a posição de tight end tem sido uma dor de cabeça nos últimos anos. Para se ter uma noção da gravidade desse problema, o time não tem uma referência na posição desde o, no máximo esforçado, Owen Daniels em 2015.

Em 2018 a história se repetiu. Apesar de ter havido uma breve esperança no grupo jovem e promissor formado por Jeff Heuerman, Jake Butt e Troy Fumagalli, tudo foi por água abaixo quando os três se encontraram machucados e direcionados ao Injure Reserve. Heuerman vinha tendo seu melhor ano com 31 recepções e 281 jardas, além de dois touchdowns, até se machucar na semana 12 na vitória contra os Steelers. Jake Butt rompeu o ligamento cruzado anterior pela 3ª vez em um treinamento de special teams, ainda em setembro, mas vinha mostrando sinais de esperança enquanto saudável. Fumagalli nem sentiu o cheiro da grama e ficou de molho a temporada inteira. A partir da semana 13, nosso tight end titular foi Matt Lacosse que teve um certo destaque com 250 jardas nos últimos 5 jogos que lhe rendeu um contrato com os atuais campeões, New England Patriots.

O grupo de tight ends dos Broncos somou para apenas 649 jardas em 2018. Para se ter uma noção, George Kittle e Travis Kelce, cada um, tiveram mais que o dobro. Além disso, Zach Ertz, OJ Howard, Jared Cook e Rob Gronkowski tiveram mais jardas que nosso medíocre grupo. Não sei vocês, mas sinto uma certa vergonha vendo essas estatísticas.

O que esse rapaz jogou em 2018 foi brincadeira. Só queria um TE dominante assim, é pedir muito?

Mas não podemos atrelar esses números pífios apenas à qualidade dos recebedores nem somente às inúmeras lesões. Os planos de jogos raramente envolviam os tight ends para papeis de destaque aéreo, embora os mesmos tenham feito um bom trabalho nos bloqueios para o jogo terrestre. Bill Musgrave foi duramente questionado e cobrado durante a temporada, de forma que as chamadas não pareciam colocar nossos skill players em posições confortáveis durante grande parte do jogo.

O “quarterback play” também deve ser mencionado como um dos motivos para um desempenho tão ruim, principalmente na redzone. Case Keenum, que teve uma boa química com Kyle Rudolph em seus tempos de Minnesota Vikings, não conseguia manter uma conexão forte com seus tight ends em Denver e as lesões dos recebedores acabaram com qualquer chance de sucesso dessa unidade. Mas e se eu te disser que isso tudo pode mudar da água pro vinho?

Elite dando uns conselhos para um fã. Humilde demais o nosso novo QB.

Se existe esperança para 2019 em algum setor do ataque dos Broncos, certamente é para o grupo de Tight Ends. A começar pela contratação de Rich Scangarello, pupilo de Kyle Shanahan, cujo playbook envolve muito seus TE’s em diversas funções. Muito undercenter, muito playaction e muitas formações diferentes com passes curtos e no meio do campo são a chave para confundir as defesas e criar mismatches principalmente para os tight ends que são mais fortes que os defensores que os cobrem.

A troca envolvendo Joe Flacco também traz otimismo para o torcedor porque se tem uma coisa que o Elite é bom é passando para tight ends. Nos últimos 3 anos, Flacco direcionou 23% dos seus passes para TE’s, sendo essa a 5ª melhor marca da liga. Em 2016, somente para Dennis Pitta foram absurdos 86 passes completados. Um claro upgrade em relação a Keenum nesse quesito, principalmente devido ao fato do braço do Flacco ser bem mais forte o que rende a possibilidade de acertar janelas muito menores no meio do campo, algo que não vemos há muito tempo.

Por fim, nossa escolha de 1ª rodada no Draft de 2019 foi, para muitos, o melhor tight end da classe. Escolhido na 20ª escolha geral após um trade down com os Steelers, Noah Fant chega para ser um dos melhores amigos de Flacco e promete causar impacto desde o primeiro dia. Fant, inclusive, já chegou dizendo que queria muito ir para Denver, principalmente sabendo do desempenho dos tight ends comandados por Joe Flacco. Um fato interessante é que os Broncos não selecionavam um TE tão alto no Draft desde 1972. John Elway não era nem jogador dos Broncos ainda, a título de curiosidade. Daí já nota-se a intenção de Elway e seu staff de não errar mais nessa posição.

Podemos tirar duas conclusões disso tudo: primeiro que o time tá comprometido com o Flacco, ao dar armas que potencializem seu jogo. Win Now Mode on. E segundo que mesmo após a renovação de Jeff Heuerman, a nova comissão técnica viu a posição de Tight End como uma necessidade maior e mais urgente a longo prazo que a de um Inside Linebacker por exemplo.

A cara de quem vai ser o OROY em 2019.

Tudo no papel é muito bonito, muito esperançoso. Agora é preciso que todas as engrenagens se encaixem para que tudo possa funcionar. A previsão é de um ano de clara melhora em relação a 2018, mas tudo depende do desempenho de Joe Flacco, da eficiência do playbook de Scangarello e, pasmem, da saúde dos tight ends.

Trabalho fantástico no jogo corrido por parte dos running backs. Mas e o jogo aéreo envolvendo os mesmos?

Se existe algum setor do ataque que claramente não precisávamos de um upgrade urgente entrando na offseason de 2019, certamente é o grupo de running backs. Apesar de muito jovem, nosso comitê de RBs deu conta do recado. Não só isso, como também foi a tônica e o termômetro do ataque. Embora os números não tenham sido estratosféricos, muito devido à inoperância do resto da unidade ofensiva, as estatísticas foram sólidas para um grupo de certa forma inexperiente. Nosso menino de ouro Lindsay, inclusive, seguiu até o final como concorrente a calouro ofensivo do ano, passando das 1000 jardas corridas. Isso tudo sendo Undrafted. Como não amar nosso Colorado Kid?

Existia um receio que saída de CJ Anderson fosse causar um impacto no jogo corrido mas de fato ela não foi sentida e abriu espaço para os novatos emergirem como futuras estrelas da NFL. Dito isso, o trio Lindsay, Freeman e Booker se saiu muito bem em seu primeiro ano junto, mas…

Foram incríveis como calouros, imagina em 2019 com um ataque que os favoreça?

Longe de mim criticar esses meninos maravilhosos, mas de fato não contribuíram o suficiente no jogo aéreo. Podemos resumir suas participações nesse quesito em 3ªs descidas médias e longas, o que resultou em apenas 588 jardas recebidas pelos 3 running backs. Se somarmos os serviços prestados pelo (lindo) fullback Andy Janovich, chegaremos a marca de 700 jardas.

O único touchdown recebido por um running back ocorreu na Semana 1 contra os Seahawks, sendo inclusive o primeiro touchdown da temporada e nos dava a impressão que haveriam mais jogadas nesse estilo. Ledo engano. Mas foi um belíssimo touchdown do nosso camisa 30.

Vale a pena destacar que a chegada do Lindsay no Roster em 2018 era muito mais pra aproveitar ele no jogo aéreo do que no corrido, justamente para suprir essa necessidade de um RB que recebe bem passe. Daí descobriram que ele corria bem também e parece que esqueceram que ele é muito dinâmico no jogo aéreo, mostrando isso diversas vezes durante seu tempo no Colorado Buffalos. Sem falar que Devontae Booker mostrou-se como um backup minimamente competente, no que diz respeito às recepções. Royce Freeman precisa de refino nessa parte e pode ser mais envolvido, embora sua função é ser um power runner, o que faz com maestria.

Na NFL atual, é de extrema importância ter um ou mais RBs que possam receber passes saindo do backfield ou alinhados como um recebedor. Exemplos não faltam: Todd Gurley, Christian McCaffrey, Alvin Kamara, David Johnson, Le’Veon Bell e, mais recentemente, o calouro ofensivo do ano Saquon Barkley.

Mais uma vez, o esquema não favorecia, uma vez que poucas vezes foram chamadas jogadas de screen e passes curtos. Sem falar que quando eram chamadas eram telegrafadas, facilitando o trabalho das defesas adversárias. O esquema do nosso novo coordenador ofensivo também dá uma atenção especial a uma utilização mais dinâmica dos running backs, maquiando o que será feito na jogada. O talento está ali, basta a comissão técnica saber utilizá-lo, aliando o já muito eficiente jogo corrido com o promissor jogo aéreo dos running backs. Eles são o menor dos nossos problemas e podem ser a solução para vencer jogos.

Usem mais meu menino como recebedor. Ele é muito bom, eu garanto.

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Victor Matheus
Broncos Brasil feat. Broncast

22, estagiário de engenharia elétrica em Furnas. Escrevo para o @Broncos_Br e participo do @broncast_pod regularmente! @FluminenseFC @realmadrid @Broncos