Review da temporada 2018 — O jogo corrido

Victor Matheus
Broncos Brasil feat. Broncast
8 min readJun 19, 2019

A unidade ofensiva do Denver Broncos em 2018 não teve um desempenho nada satisfatório. Se nos Mini Camp e Training Camp, além da pré-temporada, Case Keenum mostrava-se como a solução para a estabilidade na posição mais importante do jogo, a decepção tomou conta do torcedor já nos primeiros jogos da temporada regular.

Após sua temporada mágica de 2017, Keenum assinou um contrato de 2 anos com os Broncos sendo cotado como aquele que resolveria os graves problemas dos signal callers de 2017 da equipe do Colorado. Havia tanta confiança e comprometimento com a figura de liderança de Case Keenum que os Broncos passaram a excelente classe de QBs do draft 2018, pegando o melhor jogador defensivo daquele ano, tendo disponíveis ainda Josh Allen, Josh Rosen e Lamar Jackson no board (os três acabaram sendo titulares, em algum momento, no ano de 2018).

Uma das poucas coisas boas que Keenum fez em 2018: entregar a bola para o Lindsay.

Como é de conhecimento geral, toda essa esperança não nos levou a lugar nenhum. Mas o texto de hoje não é sobre o fracasso do jogo aéreo e do QB play de 2018. Esse será (SPOILER) o texto da semana que vem. Hoje falaremos sobre um dos nossos (poucos) orgulhos da temporada passada: o jogo corrido dominante.

No texto da semana passada, destacamos a pouca utilização dos Tight Ends na redzone e dos Running Backs no jogo aéreo, mas hoje daremos o braço a torcer e vamos elogiar o ataque de 2018. Mas só o jogo corrido mesmo.

Você diria não a esses meninos?

Estatisticamente, os Broncos não tiveram um ano excepcional e inquestionável no jogo terrestre. Em números de jogo puramente corrido, o ataque azul e laranja está ranqueado na posição de número 12, com 1907 jardas de scrimmage. Levando em conta que nosso backfield foi formado apenas por jogadores em contratos de calouros, é um dado bem interessante. O importante aqui é ter esperança de números melhores nos anos a seguir, principalmente com um ataque mais organizado e bem estruturado para extrair o melhor de cada jogador.

Outro fato digno de destaque é a quantidade de jogos de 100 jardas ou mais do nosso backfield, apesar de estarmos constantemente atrás do placar. Foram 11 jogos passando das 100 jardas terrestres e, a título de curiosidade, todos os 5 jogos que não ultrapassamos essa marca têm uma coisa em comum: perdemos a partida.

A última coluna mostra as jardas terrestres totais. Fonte: Pro Football Reference

O DNA ofensivo do time no ano passado foi o jogo corrido. E nosso termômetro tinha nome e número: Phillip Lindsay.

Phillip Lindsay:

Lindsay não só ultrapassou a marca de 1000 jardas corridas (1037, 9ª melhor marca da NFL), como teve a terceira melhor relação jardas/tentativa da NFL, considerando jogadores com mais de 100 tentativas, perdendo apenas para Aaron Jones e Kerryon Johnson. Curiosamente, os 3 não foram utilizados de maneira a potencializar seus talentos e vem para 2019 com grandes expectativas.

O crescimento de Phillip Lindsay na NFL é realmente uma história digna de ser valorizada e contada ao longo dos anos. Lembrando que a 2ª escolha geral foi Saquon Barkley, calouro ofensivo do ano e jogador da mesma posição que Lindsay, e que os Broncos selecionaram 2 RB’s (Royce Freeman na 3ª rodada e David Williams na 7ª rodada). Lindsay foi preterido por todos os 32 times da NFL, algo que certamente nenhum time se orgulha. Conseguir um talento desse nível sem gastar uma escolha de Draft é um ótimo negócio.

A princípio Lindsay foi contratado como UDFA para disputar uma posição no roster como retornador e como um dos 3 ou 4 running backs do elenco. Impressionou a todos no OTA’s (principalmente Domata Peko) quando ainda usava a camisa de número #2 . O vídeo abaixo é um dos meu preferidos. A partir do minuto 4:03, vemos a resposta de Peko (saudades desse homem) quando perguntado sobre Phillip Lindsay.

Crescimento de Lindsay foi exponencial. Junto com Chad Kelly, impressionaram na pré temporada, o que fez ambos serem nomeados os backups do time. Na época, Royce Freeman havia ganhado a titularidade de Devonta Booker no backfield, mas isso não durou muito. Desde o primeiro jogo da temporada, contra o Seattle Seahawks, todos sabíamos que Lindsay seria um dos principais jogadores do time, justamente pela dinâmica que o mesmo trazia para o ataque além da energia que ele colocava em todos os snaps. Infelizmente, como já foi dito, esqueceram que o rapaz era um exímio recebedor no College e praticamente não utilizaram dessa artifício como elemento “surpresa”. Esperamos que o esquema de Rich Scangarello utilize bastante essa arma.

Quando Royce Freeman se machucou, na semana 8, não restava dúvidas de quem deveria conduzir o ataque. Lindsay, que já vinha recebendo um destaque maior que Freeman, é o titular absoluto desde a lesão no tornozelo de Royce. Não só isso: Lindsay rapidamente se tornou uma estrela e reconhecido não só em Denver como pela NFL inteira. Comparações com Terrell Davis eram inevitáveis e os dois parecem se dar muito bem, sempre interagindo um com o outro nas redes sociais. Confesso que chego a ficar bem emotivo e esperançoso quando vejo essa relação dos dois, algo parecido como o que víamos com Manning e Elway.

Namore alguém que olhe pra você como o Lindsay olha pro Terrell Davis

Por outro lado, os mais pessimistas podem argumentar que Lindsay alcançou o topo muito rápido e que agora as defesas podem ficar mais atentas a ele, o que de fato é verdade. Os times começaram a lotar o box e atacar o backfield com 7 ou mais jogadores, desafiando Keenum a lançar a bola, muitas vezes em profundidade. Isso, de fato, reduziu a eficiência do ataque laranja e azul, fazendo com que Keenum enfrentasse situações de terceiras descidas longas logo no começo do jogo. Como nossa comissão técnica provou-se altamente incompetente e incapaz de mudar o plano de jogo nas adversidades, o resultado foi uma leve queda do jogo corrido na metade final da temporada. Mas nada que manchasse a temporada fantástica de Lindsay, levando-o até a disputa de Calouro Ofensivo do Ano.

Royce Freeman:

Se Phillip Lindsay foi uma baita surpresa positiva, não podemos dizer o mesmo de Freeman. Draftado na 3ª rodada do Draft do ano passado como um claro substituto de CJ Anderson, teve uma pré-temporada de destaque e muitos cravavam que seria o RB titular na semana 1, mantendo um estilo de jogo parecido com de Anderson. Foi nomeado titular na semana 2 da pré temporada, enterrando as chances de Devontae Booker ter um papel importante no ataque dos Broncos.

Freeman perdeu dois jogos por lesão no tornozelo, antes da bye week, legitimando ainda mais a titularidade de Lindsay daquele momento em diante. Seus números certamente não impressionam, visto que em nenhum jogo passou das 100 jardas de scrimmage. Além disso, somou apenas 521 jardas corridas em 2018 e sua contribuição no jogo aéreo foram mínimas 72 jardas. De fato, é um power back que ganha mais jardas nas trincheiras devido a sua fisicalidade e sua capacidade de quebrar tackles com sua força. Vale destacar que ele jogou bem descontado após a lesão. Tornozelo é difícil e um tanto demorado de recuperar. Jogou os jogos no sacrifício e mostrou uma postura exemplar, mesmo tendo se tornado reserva. Algo bom a se destacar.

A melhor projeção possível que podemos fazer para Royce Freeman, ao meu ver, é uma comparação com Mark Ingram no ataque dos Saints. Um power back de primeiras descidas que abre espaço para o playaction, que será altamente utilizado no esquema do nosso novo coordenador ofensivo. Uma outra possibilidade é sua utilização em terceiras descidas curtas para mover as correntes, como na segunda jogada do vídeo abaixo.

Esforço incrível de Freeman, depois de uma péssima chamada de toss numa 3ª pra 1.

Freeman saudável pode contribuir muito mais. Seu número baixo de TDs foi um reflexo da ineficiência do time na redzone e deve melhorar em 2019, mas espero que seus serviços não fiquem restritos a isso. Inclusive, gostaria de ver formações em que Lindsay e Freeman estejam em campo, pra confundir mais ainda as defesas adversárias.

Devontae Booker:

Após o corte de CJ Anderson, imaginava-se que Booker torna-se o titular e seria auxiliado por calouros na rotação. Bem, a rotação ocorreu, mas com Booker como backup. Esteve em campo na maior parte do tempo como 3rd down back, ou seja, situações de RB como recebedor ou como um bloqueador extra para o QB. As 183 jardas corridas e 275 recebidas deixam isso bem claro. Pode vir a ser útil em 2019, ainda mais depois de não adicionarmos nenhum RB via free agency nem Draft, mas a tendência é Booker ser novamente sub-utilizado.

Visto isso, entra em cena uma questão: Elway cortou CJ Anderson com Booker como único RB com condições de ser titular na NFL. Imaginem que Lindsay e Freeman não jogassem o que jogaram em 2018, o que seria do ataque dos Broncos? Booker como titular dos Broncos é uma cena que eu não gostaria de imaginar.

Uma pequena previsão: Broncos não renovará com Booker ao final de seu contrato de calouro. Ser taxado como “apenas” um RB recebedor de passes não fará com que haja uma renovação de contrato.

Extras: Andy Janovich e Emmanuel Sanders

Completando os titulares do backfield, temos nosso fullback xodó Andy Janovich. Incrível nos bloqueios e nos STs, Janovich foi, certamente, mais utilizado no jogo aéreo que nos anos anteriores, mas pode ser melhor. Janovich teve uma big play contra os Chiefs e um touchdown recebido contra os Chargers. Lembrando que os fullbacks são altamente utilizados no ataque aéreo de Kyle Shanahan, mentor de Rich Scangarello.

Quanto ao jogo corrido, em situações de descidas que faltem 1 jarda ou polegadas, é preciso ter Janovich no backfield. Sabemos bem que ele é fatal nesse tipo de jogada.

Quanto a Sanders, nessa temporada pudemos ver mais uma de suas facetas como canivete suíço do ataque. Os end-arounds (handoffs para Wide Receivers que fazem uma rota como um arco por trás do QB) foram muito eficientes no começo da temporada e causaram estrago nas defesas. É uma jogada que pode ser utilizada mais vezes. Sanders anotou 2 touchdowns quando utilizamos essa jogada: 1 corrido contra os Ravens e 1 lançando a bola para Sutton no massacre 45–10 contra os Cardinals, naquele que, pra muitos, foi o touchdown mais bonito dos Broncos em 2018.)

Existem algumas preocupações quanto a Sanders e Lindsay, no que diz respeito a como chegarão para a temporada regular. Sanders sofreu uma lesão no tendão de Aquiles e Lindsay sofreu uma lesão no pulso. Ambos estão listados como saudáveis para o começo da temporada, mas é preciso ver na pré-temporada se estarão com ritmo de jogo ou não. Com sorte, isso não afetará o planejamento e nosso jogo corrido será dominante, uma vez mais.

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Victor Matheus
Broncos Brasil feat. Broncast

22, estagiário de engenharia elétrica em Furnas. Escrevo para o @Broncos_Br e participo do @broncast_pod regularmente! @FluminenseFC @realmadrid @Broncos