O porquê eu não converso sobre política nos dias de hoje

Bruna Diniz
Bruna Diniz
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3 min readMar 15, 2016

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Política, para mim, é um assunto tão delicado quanto estilo musical, futebol e religião. A diferença é que a situação atual do Brasil é um pouco mais judiada que um time renomado que está na série B de qualquer campeonato.

Eu posso dizer que meu estilo musical é melhor que o seu por N motivos, mas a verdade é que o meu estilo musical só é melhor aos meus ouvidos. Também posso dizer que meu time de futebol é o melhor do país, mesmo ele perdendo todas as partidas, afinal a verdade é que ele é bom para mim. Posso ainda dizer que minha religião é detentora de toda a verdade, já ela fala o que quero ouvir e prega o que eu acredito. A verdade é que o que é bom para mim, pode não ser bom para você. A verdade é que o meu rock pode não ser tão bacana aos seus ouvidos, mas também é verdade que você pode conviver com isso, afinal quem vai ouvir a música sou eu enquanto você escuta o seu sertanejo. E tudo bem.

Quando a questão é Brasil, a minha verdade, que pode ser diferente da sua verdade, não influencia só a mim, mas também influencia a você. Se eu votar em um partido que você é contra, talvez você se incomode, talvez inicie uma discussão, talvez você não queira mais ter contato comigo, talvez a gente nem seja mais amigos. E que atire a primeira pedra quem não passou por isso ou não viu algo assim acontecer.

A verdade é que o Brasil é para todos nós, mas nossa opinião continua sendo só nossa. A verdade é que ninguém que sai discutindo calorosamente sabe de toda a verdade política. A verdade é que quem opta por dar sua opinião, está dando sua cara a tapa — afinal, quem é você e quem você pensa que é para ter uma opinião dessas perante ao nosso país? A verdade é que todo mundo quer ter a verdade absoluta. E cá entre nós, ninguém a tem.

Se expressar minha humilde opinião, embasada pelo conhecimento que detenho e que talvez não seja tão profundo quanto o seu ou o do outro, pode causar conflito, por que fazer? Embora, talvez, minha opinião possa fazer mais sentido ou estar mais próxima de fatos, não a torna detentora da verdade e, muito menos, mais importante que a sua.

Nós, seres humanos, temos o péssimo hábito de não ouvir de verdade. Temos o péssimo hábito de determinar que a verdade de quem fala está acima da verdade de quem escuta. Temos o péssimo hábito de acharmos que somos melhor que o outro. Temos o péssimo hábito de não conversarmos com o coração.

Então não, eu não converso sobre política — nem sobre estilo musical, nem sobre futebol, nem sobre religião. Porque eu não quero um Brasil melhor? Porque talvez eu tenha uma opinião bem diferente da massa? Porque eu não me importo? Não. Eu não falo sobre política porque nós não sabemos aceitar a opinião do outro. Eu não falo sobre política porque nós não sabemos ouvir. Eu não falo sobre política porque se minha opinião não for igual a sua, nós vamos discutir e não vamos chegar a lugar nenhum. Eu não falo sobre política porque por mais que eu respeite a sua opinião, isso não será o bastante se sua verdade não for a minha verdade também. Eu não falo sobre política porque eu gosto mais da relação com as pessoas do que da política e se eu posso evitar conflitos que só vão me levar ao desgaste de uma relação, eu prefiro não falar.

Depois de tudo isso ainda terá quem vá dizer que todas as palavras que escrevi não condiz, irá criticar e julgar minha decisão. E quer saber? Tudo bem. Nós somos diferentes, com históricos diferentes e visões diferentes — ainda bem! — e eu prefiro, mesmo, ser diferente de você, prefiro que você seja diferente do outro e o outro do outro. É o que faz de cada um de nós único.

Bom dia pra você também.

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