O que se mantém na memória

Bruna Rodrigues
reminiscência
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3 min readFeb 25, 2021

Não esperar a segunda-feira chegar para começar mais um projeto não é algo comum. Pelo menos para mim. Venci uma procrastinação vivida por anos e então resolvi, finalmente, escrever crônicas.

Como comecei? Ah! Vou descrever para que vocês entendam o porquê eu não ter esperado a segunda chegar, como normalmente acontece quando se tem algo para começar.

Dia 25, uma quinta-feira atípica, me encontro em uma panificadora na cidade vizinha, às 7h da manhã. Abri o notebook. Eu nem gosto de café, mas eu acho tão poético que resolvo tomar. Sinceramente, eu não sinto aquilo que todos falam ao tomar café: “nossa, se eu tomo uma garrafada de café, fácil fácil…” fácil assim eu tomo meu Nescau, sinceramente. Voltando… o café veio em uma xícara preta de porcelana, apoiada em um pirex muito charmoso, com estampa floral azul. Muito poético. Eu senti. Sinto poesia nas coisas, não sei bem descrever. Acho que isso é “inescrevível”. Vocês irão ler bastante essa palavra por aqui, porque foi a partir dela que resolvi me permitir e escrever o inescrevível nessa plataforma.

Mas afinal, o que é o inescrevível?

Pra mim, são as minhas memórias, as crônicas que assim como esta que vocês estão lendo, ficam apenas guardadas para mim. As crônicas não escritas. Acreditem se quiserem (ou não, podem pensar que é apenas uma história de ficção. Faço até gosto.) cada parágrafo que eu gostaria de ter escrito era passado em minha imaginação, mas nunca tomava forma. O que é estranho, pois eu não sei o por quê. Preguiça?! talvez. Mas agora essa procrastinação acabou. A minha memória é muito curta, imagina só o tanto de coisa que eu planejei escrever e não escrevi? O tanto que perdi… enfim.

Reminiscência, esse foi o nome que resolvi batisar este novo (velho) filhinho. Não será mais passado, não ficará mais só na memória. Contraditório? não… talvez esteja só olhando (lendo) pelo ângulo errado. Pra mim, faz sentido.

Lembra do café? eu não terminei tudo. Esfriou. Mas continuo aqui, em uma mesinha redonda no meio da panificadora, observando pessoas que não conheço entrarem e saírem (na minha cidade eu conheço todo mundo… ou quase). Gosto da sensação de estar quieta em um canto, sem ser incomodada, colocando em prática algo guardado. Talvez se estivesse em uma panificadora em minha cidade, eu não conseguiria fazer o que estou fazendo agora.

Assim começo. Minha primeira crônica (escrita), ao som de Milton Nascimento — Clube Da Esquina N° 2, álbum Nada Será Como antes. Que feliz coincidência, Milton! Nada será como antes. Conseguiram entender porque não esperei a segunda? Aqui está perfeito: enquanto escrevo, o mundo silencia e Milton me ajuda.

Já já pegarei estrada novamente com destino até minha casa e tenho certeza que terei um montão de ideias durante o trajeto para poder voltar aqui e escrever novamente. Nesse momento, existe um misto de sensações rondando a minha mente e enquanto dirijo, essas sensações sempre afloram. Quando isso acontece nem me dou conta que estou no volante, mas rapidamente, como um estalar de dedos, eu acordo… e dessa vez, meus caros, não acordarei de mau humor (quase nunca acordo de mau humor, para falar a verdade), será um despertar melhor pois estarei concretizando mais um projeto tão almejado.

O caminho longo é ainda mais soberano se você for capaz de lembrar dos acontecimentos da jornada. Espero conseguir transcrever o inescrevível como sempre imagino. Agora, fecha-se o notebook… passageiramente.

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