Duna Capítulo 19: Mãe e Filho

Bruno Birth
brunobirth
Published in
3 min readAug 6, 2020

“Deveria existir uma ciência do descontentamento. As pessoas precisam de dificuldades e opressão para desenvolver músculos psíquicos.”

O Artigo a seguir se baseia em minhas reflexões e nas de meus amigos Jonathan Thiago e Marcos Carvalho. CONTÉM SPOILERS DO LIVRO UM.

A reflexão de Paul Atreides, trazida no excerto de Irulan neste capítulo, nos diz muito sobre a mudança de vida pela qual o personagem está passando. Já analisamos anteriormente que Paul, enquanto em Caladan, cresceu como um garoto completamente protegido de todos os tipos de hostilidade que o mundo pudesse oferecer. Sob a égide maternal de lady Jessica, o menino Paul teve plenas condições de desenvolver suas capacidades mentais sem o mínimo de preocupações com qualquer tipo de descontentamento.
Em Arrakis, ainda mais a partir de agora, as coisas mudaram. Paul Atreides está, pela primeira vez, exposto ao mundo, tendo de interagir com suas diversas dificuldades e com elas buscar aprendizado, sendo muitas vezes por meio da dor.
A reflexão sobre uma hipotética “ciência do descontentamento” é muito interessante pois, como Paul diz, as pessoas tendem a amadurecer de modo mais completo quando expostas a reais descontentamentos, hostilidades e opressões diversas da vida. O crescimento advindo disso é emocional, racional, mental, filosófico, físico, mas nem sempre é garantido, uma vez que, dependendo do nível de dificuldades na vida de um indivíduo, traumas irreversíveis podem ser acarretados. Em contrapartida, a pessoa que nasce, cresce e vive em meio a privilégios, cercada de facilidades tende a ser ingênua, imatura, mesquinha e etc.

Seguindo o curso planejado após a queda do duque Leto Atreides, o golpe dos Harkonnen contra os Atreides faz de Paul e Jessica vítimas. Frank Herbert usa a descrição de Jessica acordando e percebendo que foi dopada por dardo e amarrada para mostrar mais de como os métodos das Bene Gesserit ajudam a mãe de Paul a enxergar o ambiente e situação para manter a calma, refreando o instinto de desespero natural de seu espírito humano.
O barão Vladimir Harkonnen aparece para inspecionar os prisioneiros e para barganhar com seu mentat assassino Piter de Vries. O mentat tinha uma obsessão inexplicada por Jessica mas acaba cedendo quando o barão o oferece o ducado de Arrakis em troca da morte rápida da família Atreides. Jessica analisa de Vries e o adjetiva como “mentat deturpado”, o que nos faz concluir que a relação super conturbada com o barão fez Piter gradualmente se desvirtuar das características de alto controle mental, comum aos mentat. Desenvolverei mais sobre de Vries nas próximas análises.

Enviados com dois soldados para serem mortos e largados no deserto, é naturalmente esperado que Paul e Jessica utilizem suas habilidades psíquicas mas é interessante como nesse capítulo é mostrado de modo mais direto como Jessica está em um nível muito superior ao de Paul, algo que até o momento só nos era sugerido por nossa própria consciência ao encarar a relação de mãe/professora e filho/aprendiz dos dois. É a primeira vez que Frank Herbert aborda Paul de modo mais comedido quando o assunto é suas habilidades psíquicas. O motivo é narrativo: este é mais um capítulo dominado por Jessica; a mulher é simplesmente incrível e perigosa ao extremo.

A combinação de ações entre ela e o garoto no fim do capítulo resulta na fuga da mãe e filho em meio ao deserto e nos dá alguns indicadores do que pode vir a acontecer. Parece estar chegando a hora de os sobreviventes se unirem aos fremen.

Leia as análises de todos os outros capítulos clicando AQUI.

Me acompanhe nas redes sociais clicando AQUI.

--

--

Bruno Birth
brunobirth

Aqui, em geral, você lê sobre fantasia e ficção científica.