Duna Capítulo 21: O Barão

Bruno Birth
brunobirth
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4 min readAug 9, 2020

“Reza a lenda que, no instante em que o duque Leto Atreides morreu, um meteoro cruzou os céus sobre o palácio de seus ancestrais em Caladan.”

O artigo a seguir se baseia em minhas reflexões e nas de meus amigos Jonathan Thiago e Marcos Carvalho. CONTÉM SPOILERS DO LIVRO UM.

O barão Vladimir Harkonnen é o personagem principal deste capítulo, cujo o início é marcado pela vontade do barão em festejar todos os detalhes de sua aparentemente inquestionável vitória contra seus inimigos mortais: os Atreides. O sorriso do barão é largo e seu contentamento é pleno enquanto ouve ao longe o poder das explosões causadas pela sua artilharia de armaleses.

Contudo, o humor do barão começa a se alterar quando Yueh, o traidor, é levado à sua presença. Como já suspeitávamos, a traição de Yueh estava sendo alimentada por chantagem emocional envolvendo o sequestro e tortura de sua amada esposa Wanna, que era uma irmã Bene Gesserit. E também se confirmaram as suspeitas de que o apelo emocional era a chave para desvincular alguém preso à disciplina racional do condicionamento imperial (eu devia jogar na loteria). Para a tristeza de Yueh, Wanna já está morta e o doutor acaba sendo assassinado por Piter de Vries, terminando assim sua participação na história. Mas antes de morrer, Yueh declara que o barão apenas pensa que venceu, o que incomoda Vladimir profundamente. Yueh estava falando do dente envenenado na boca de Leto Atreides mas podemos até expandir o significado da injúria final do traidor dado ao fato de Paul e lady Jessica escaparam. Esperanças…

Inclusive, esse é outro acontecimento que fere o bom humor do barão, que como nós, já bateu o martelo sobre o futuro destino dos fugitivos sobreviventes: algum sietch fremen. Muito irritado, o barão questiona aonde está o ecólogo Kynes, juíz da transição do império, que sumiu de repente. Vladimir já desconfia da lealdade do fiscal do imperador em Arrakis. Mais uma indicação de que Kynes mudou completamente sua predileção correlação aos Atreides.

Piter de Vries se torna o foco quando o barão desenvolve em pensamento mais um de seus engodos mortais. Com o moribundo e tonto Leto Atreides a sua frente, o barão se exibe perante seu inimigo derrotado, ao mesmo tempo que lamenta o desaparecimento dos principais homens de Leto. O duque, mesmo tonto, entende o que está acontecendo e comemora a sobrevivência de sua família e seus homens de confiança. O barão volta a falar do ducado de Arrakis, que agora deve passar para seu mentat assassino, mas Piter não sabe que o intento de Vladimir consiste em fazer com que o seu governo seja horrível e que o povo arrakino o deponha, para assim Feyd Rautha, o amado sobrinho do barão, ascenda como salvador de Arrakis em seu lugar.

O estranho desse plano, narrativamente falando, é que Frank Herbert se preocupa em desenvolvê-lo em dois capítulos para logo após despejá-lo no lixo, no instante em que Leto resolve por em prática o plano do dente envenenado e falha em matar o barão mas vitimiza Piter de Vries, que não consegue a mesma sorte de escapar e morre. Se trata de uma morte inesperada, que ainda não sabemos se realmente aconteceu. O barão, fica uma vez mais irritado pois seu plano deu errado antes de acontecer e agora precisa de um novo mentat.

O descontentamento do barão Vladimir Harkonnen chega ao ápice quando subitamente recebe a visita de um soldado sardaukar, oficial militar do imperador enviado para inspecionar a morte do duque Leto, que, pasmem, descobrimos ser primo do imperador padixá. O duque Leto não conseguiu matar o barão, mas causou uma bagunça enorme ao matar diversos soldados Harkonnen com o veneno, sendo que não foi possível ao barão reorganizar-se antes de receber um oficial imperial. O receio do barão ao receber o sardaukar é marcante pois há um temor de que o imperador possa, em algum momento, enxergar nele um aliado fraco, indigno de confiança. Além disso, os Harkonnen também mostram um certo medo na presença do sardaukar, que se impõe perante os soldados do barão. Vladimir conhece cada um de seus homens, mas não possui com eles uma relação de liderança inspiradora, tal qual Leto tentava imprimir com seus homens. Os Harkonnen seguem o barão mais por medo e brutalidade, o que torna a estrutura hierárquica militar do barão algo, de certa forma, indisciplinado, desorganizado. Em resumo, parece que, se desejar, o imperador pode esmagar os Harkonnen com facilidade, o que naturalmente preocupa Vladimir.

O barão termina o capítulo nos revelando mais um motivo para sentirmos completa repulsa por ele ao mostrar que costuma abusar sexualmente de garotos dopados. Levanto aqui uma teoria sobre Piter de Vries. A relação entre o mentat assassino e o barão era antiga e ambos se odiavam mas precisavam permanecer juntos por interesses em comum. Uma frase repetitiva que o barão gostava de dizer era o quão conhecia Piter “tão bem”. Até aí eu não tinha parado para pensar mais a fundo, contudo, Jessica descreve de Vries utilizando os termos “mentat deturpado” e “efeminado”. Esse segundo adjetivo pode ter sido colocado em narrativa por Frank Herbert como uma simples descrição que Jessica fez personagem, mas e se o barão tiver algo a ver com isso? E se Vladimir talvez mexeu com a mente do mentat, deturpando-o e abusando de Piter, fazendo-o mais uma vítima de seus prazeres promíscuos por algum período de tempo? É uma teoria bem perturbadora, eu sei, mas o barão Harkonnen é um ser nefasto e completamente perturbador. Ainda precisamos da confirmação da morte de Piter de Vries.

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Bruno Birth
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