Duna Capítulo 41: A Reverenda Madre
“‘Controle a moeda e os tribunais: e que a ralé fique com o resto.’ É o que aconselha o imperador padixá. E ele lhes diz: ‘Se quiserem lucro, governem’. Há verdade nessas palavras, mas eu me pergunto: ‘Quem é a ralé e quem são os governados?’”
O artigo a seguir se baseia em minhas reflexões e nas de meu amigo Marcos Carvalho. CONTÉM SPOILERS DO LIVRO UM.
Neste capítulo voltamos nosso foco a lady Jessica, a nova Reverenda Madre dos fremen do sietch de Tabr, chefiado por Stilgar. Logo de cara temos uma boa explicação prática de como os fremen se relacionam com a especiaria. Jessica está apreensiva em sua casa no sietch pois sabe, mesmo que ninguém tenha contado a ela, que Paul está a passar por um teste mortal. Então ela sente vontade tomar café. Repentinamente, uma de suas servas traz café a ela, sem que Jessica tivesse pedido por café.
Então é explicado que a serva em questão faz parte de um “tau”, unidade da comunidade do sietch formada por pessoas que possuem as características da mente um pouco mais elevadas por conta do consumo de especiaria. Neste momento algumas coisas devem ser lembradas e outras detalhadas.
Veja bem, tanto Paul e Jessica já nos mostraram que o mélange expande as habilidades psíquicas. Também é sabido que as habilidades das Bene Gesserit alcançam o ápice em rituais nos quais o consumo de especiaria é a principal atividade. Então quer dizer que qualquer um que tomar a especiaria possui habilidades psíquicas elevadas assim como as Bene Gesserit? Não.
Além do consumo de especiaria, também é preciso treinamento para que se possa compreender e dominar as capacidades mentais, em ordem de desenvolver habilidades psíquicas.
Veja o que Jessica diz:
“O grosso da população jamais poderia obter o esclarecimento que a semente da especiaria traz; não foram treinados para isso. Suas mentes rejeitam o que não conseguem entender…”
A serva que trouxe café soube de antemão que Jessica queria beber café por interpretação intelectível advinda da prática de vigiar a linguagem corporal da nova Reverenda Madre. Essa capacidade mental foi provida pelo contínuo consumo de especiaria, o que não quer dizer a serva seja uma acadêmica das matérias da ciência da mente. Mas a serva faz parte de um tau, assim como outros poucos fremen que possuem leves traços de habilidades psíquicas.
Em uma tentativa de imaginar porquê os fremen não tentam investir em fomentar a criação de toda uma população com habilidades psíquicas, talvez a resposta resida no fato de que o foco existencial dos fremen esteja ligado ao plano de alteração da ecologia e atmosfera de Arrakis e não em qualquer outra coisa que possa desviar sua atenção ou causar desordem aos nativos como tribo. Há de se ressaltar também que as Bene Gesserit devem manter os aspectos mais profundos de seus treinamentos em segredo, a fim de salvaguardar o poder e influência de sua organização perante o império.
Bom, o capítulo avança e somos apresentados à pequena Alia, irmã de Paul. Uma menina de apenas 2 anos de idade mas que está causando incômodo na comunidade fremen pois em nada se comporta como uma criança. A menina conversa de modo adulto e fala de experiências que não condizem com sua idade, o que faz os nativos do sietch, que não conseguem compreender a menina, espalharem que a filha da Reverenda Madre está apossada por um espírito demoníaco. Na verdade a garota é apenas uma extensão de Jessica, sendo inclusive já iniciada nos treinamentos psíquicos por Jessica.
Alia é aquela criança que você conhece que com 5 anos de idade entende todas as funcionalidades de um smartphone, sabe? Só que a diferença é que Frank Herbert esticou essa natural atribuição mental infantil de absorver com extrema rapidez os ambientes para uma criança de 2 anos. Os fremen jamais vão entender isso. Apesar de inseridos entre os nativos, Jessica e Paul possuem características essenciais que nunca não se enquadrar completamente ao contexto fremen, como aos poucos vamos começar a ver. Alia faz parte disso. Só que essa situação pode acabar gerando um problema para o governo de Paul Muad’Dib. Jessica entende que é preciso proceder com muita cautela para proteger Alia (tentando fazer os fremen aceitá-la) e garantir a estabilidade da soberania de Paul Muad’Dib. Não sabemos até onde isso será possível. Neste momento, sem querer, Alia é uma pedra no sapato de Paul.
Falando em implicações futuras para o governo de Paul, 2 anos se passaram, Chani e Paul tiveram um filho, cujo o nome é Leto II, e mesmo assim Jessica continua não aceitando o relacionamento amoroso do filho e continua insistindo que Paul deveria se casar com alguma garota de sangue nobre.
Suspeitamos que esse recorrente sentimento de negação de Jessica (o tempo todo trazido por Frank Herbert no livro) pode acabar significando um peso narrativo no futuro. Qual peso? Ainda não sabemos, mas vale teorizar. Vocês sabem como amamos criar teorias.
O excerto de Irulan no início deste capítulo é uma mensagem secreta de Maud’Dib ao Landsraad, a organização das grandes casas. Isso quer dizer que fará parte dos planos de Paul desenvolver jogadas políticas para usar a organização do Landsraad (que já discutimos que é uma força oposta ao império mas que ambos coexistem em uma diplomacia forçada) para depôr o imperador padixá. Se a força de Muad’Dib se mostrar invencível como pensamos que irá, o imperador tentará um acordo para se proteger da fúria do Landsraad, fúria essa manipulada pelos joguetes políticos de Muad’Dib.
Tal acordo proposto por padixá pode acabar se configurando em uma proposta de casamento a Muad’Dib. Aí entra a famosa princesa Irulan. Já foi mostrado no livro que a garota possui a mesma idade de Paul e, seguindo as condições de Jessica, Irulan possui linhagem nobre. Veja bem, isso é só uma teoria, pessoal! Um acordo deste tipo com certeza seria do agrado de Jessica, que sem pestanejar tentaria fazer Paul abandonar a pobre Chani.
Será que é isso mesmo o que nos aguarda? Já estamos em fervor para ver como é que a princesa Irulan vai sair do campo dos excertos a iniciarem os capítulos para de fato entrar na história desse livro. Teremos de esperar.
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