Duna Capítulo 9: O Atentado

Bruno Birth
brunobirth
Published in
4 min readJul 12, 2020

“Muitos notaram a rapidez com que Muad’Dib aprendeu as necessidades de Arrakis. As Bene Gesserit, naturalmente, sabem porquê. Para os demais, podemos dizer que Muad’Dib aprendeu rápido porque primeiro lhe ensinaram como aprender. E a primeira lição de todas foi desenvolver a confiança fundamental de que ele era capaz de aprender. É surpreendente saber quantas pessoas acreditam não ser capazes de aprender e quantas outras creem que aprender é difícil. Muad’Dib sabia que toda experiência era uma lição.”

O artigo a seguir se baseia em minhas reflexões e nas de meus amigos Jonathan Thiago e Marcos Carvalho. CONTÉM SPOILERS DO LIVRO UM.

A desconhecida princesa Irulan já nos dá uma reflexão construtivista absurda logo de cara nesse capítulo. O peso retórico da afirmação “ensinaram Muad’Dib a aprender” é enorme, ou seja, diz muito; não só sobre a obra em si, uma vez que estamos acompanhando o crescimento e processo de aprendizagem de Paul Atreides e como isso influencia na abrangência mental do garoto, como também sobre o desenvolvimento de nós, humanos do mundo real e a nossa relação com os diferentes processos de educação existentes (familiar, escolar e etc) a nos cercar e nos “preparar” para encarar as inúmeras facetas do mundo, da vida. Não quero me alongar muito nessa reflexão pois só ela daria livros e mais livros de desenvolvimento ideológico mas, utilizando parte do contexto do mundo de Duna, deixo para vocês pensarem sobre questões como por exemplo “o quanto o nosso sistema de educação nos prepara para servirmos a uma cadeia social estabelecida e histórica?” ou “o quanto o nosso sistema de educação nos prepara para servirmos a nós mesmos, fomentando a relação única de cada indivíduo com a sua natureza e a do mundo à sua volta?”. Chega de raspar pontas de iceberg, vamos para o capítulo.

Bom, é hora de estabelecer de uma vez por todas que o mundo de Duna realmente se passa no futuro de nosso mundo. Atreides cita que durante a viagem de Caladan até Arrakis estudou um bibliofilme sobre botânica da Terra, dado a ele por dr. Yueh. Pelo que o garoto revela desse estudo, o planeta desértico foi, durante um tempo não especificado, tratado como um laboratório ecológico do império, para onde diversos tipos de plantas e animais terrestres foram transportados afim de que suas características biológicas ante a atmosfera de Arrakis fossem postas à prova. O projeto, no entanto, acabou sendo abandonado quando o mélange foi descoberto, mudando completamente os aspectos primordiais da estrutura econômica do império.
As teorias em torno dessa revelação são muitas. Seriam os vermes da areia criaturas nativas de Arrakis ou algum tipo de animal terrestre transportado para Arrakis na época do projeto de laboratório ecológico? Seria a especiaria a causa do tamanho monstruoso dos vermes? Já estavam os Harkonnen governando Arrakis à época de transição entre o projeto ecológico laboratorial e o início da mineração de mélange? É quase certo afirmar que os fremen (até então tidos como nativos de Arrakis) são na verdade descendentes de humanos colonizadores, como todos os outros do império.

Uma observação que me esqueci de fazer ainda sobre a confirmação de Duna como nosso futuro: nos capítulos anteriores, enquanto conversava com a serva fremen Shadout Mapes, Jessica cita uma passagem de Santo Agostinho sobre como “o nosso corpo obedece instantaneamente a um comando da mente, enquanto a nossa mente reluta profundamente a obedecer um comando de si mesma”. Como se já não bastasse a existência de uma “bíblia católica de Orange”, agora temos a citação de uma importante figura histórica católica, o que nos faz questionar o tamanho da influência do cristianismo (seja ele como for interpretado nesse futuro) na sociedade imperial do mundo de Duna.

Falando em Shadout Mapes, a fremen protagoniza um momento importante no capítulo ao ser salva por Paul Atreides, que estava prestes a ser assassinado por um dispositivo voador de tecnologia um pouco inadequada para os padrões atualizados do contexto futurista de Duna. Dizemos isso nos baseando nas descrições limitantes que Frank Herbert faz do objeto enviado ao quarto de Paul, que deveria ser assassinado dormindo se não fosse rebelde o suficiente para fingir beber os medicamentos soníferos do doutor.
Quando o objeto falha no atentado ao herdeiro do duque Leto, por um mero detalhe a serva fremen não acaba se tornando a vítima, salva por um momento de reflexo estudado e movimento rápido de Paul.
Talvez seria inapropriado dizer que Paul salvou Mapes por altruísmo, como ela insinua ao dizer “você poderia tê-lo deixado me matar e fugir”. Também talvez seja óbvio demais apontar a culpa do atentado a Yueh, mesmo ele sendo o único a saber dos supostos horários em que o garoto deveria estar dormindo.
O fato ao final do capitulo é que não há segurança alguma para os Atreides em Arrakis, o que demonstra uma pressa dos Harkonnen em destruí-los ou que há mais algumas camadas obscuras em meio à velha rixa.

Leia as análises de todos os outros capítulos clicando AQUI.

Me acompanhe nas redes clicando AQUI.

--

--

Bruno Birth
brunobirth

Aqui, em geral, você lê sobre fantasia e ficção científica.