Messias de Duna Capítulo 17: A Visita do Imperador

Bruno Birth
brunobirth
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3 min readDec 26, 2020

“O aumento da produção e o aumento da renda não podem sair de sincronia em meu Império. Eis a essência de minha ordem. Não pode haver nenhuma dificuldade na balança comercial das diversas esferas de influência. E a razão para tanto é simplesmente porque assim o ordeno. Quero enfatizar minha autoridade nessa área. Sou o consumidor de energia supremo deste domínio, e continuarei a sê-lo, vivo ou morto. Meu governo é a economia.”

O artigo a seguir se baseia em minhas reflexões. CONTÉM SPOILERS DO LIVRO DOIS.

Caminhando para a própria perdição, Paul se dirige à casa de Otheym, o antigo Fedaykin. Mesmo sabendo que cada passo que dá significa uma peça a mais na completação do plano da conspiração contra a sua vida, Paul Atreides adentra o recinto de um de seus antigos soldados de elite.

“Muad’Dib sempre atende ao chamado de um Fedaykin.”

As palavras saem da boca do imperador com um tom de voz cerimonial, litúrgico. Mas a ele, Otheym é um estranho, mesmo um dia tendo sido um de seus mais próximos.
O homem está moribundo, com os últimos momentos de sua vida estampados em sua fisicalidade fragilizada, graças ao trabalho ardiloso de Scytale. Mas Otheym nada denuncia a Paul e Paul nada declara além de uma preocupação com a saúde do velho. Ambos sabem muito bem o que aconteceu e o que está acontecendo. Sabem como funciona de verdade o mundo, com suas fantasias e suas desgraças, mas preferem se ater aos papéis de marionetes que lhes foram designados. É quando compreendemos que estamos perto de nosso fim que se torna mais difícil pesar e enfrentar nossos ideais.

O homem estrangeiro, que a partir de Arrakis construiu um verdadeiro império galático, se senta ao lado do homem que nasceu e foi ensinado culturalmente para segui-lo, mesmo antes de conhecê-lo. Mas que em dado momento de sua vida, este homem abandonou o messias e se voltou ao mar da libertação dos valores que o moldaram. Tal libertação gerou uma cadeia de acontecimentos que acabou custando a vida de sua filha, bem como agora custava a sua própria.
Paul, todavia, não olha Otheym com raiva de abandonado ou repulsa. O filho de lady Jessica entende o fremen, pois ele mesmo se encontra naquela casa à procura de sua própria libertação pessoal, em busca de se desprender de tudo aquilo que a ele foi ensinado e foi levado a construir.
É como se Paul dissesse a Otheym que também deseja se banhar no mar, como o fremen um dia fez, e lavar sua vida antes do fim, antes da morte.

Aos seguidores mais fiéis e próximos de Paul Atreides, nada naquela reunião faz sentido pois vai contra tudo o que acreditam que o imperador deveria fazer. Para eles a conspiração deveria ser esmagada rapidamente e o Jihad se manter firme e cada vez mais forte. Para eles, Paul é o messias, o deus vivo, a chama que os acorda todos os dias e a brisa noturna que traz o relaxamento de seu sono.
Mas Paul Atreides não é nada disso realmente; não passa de mais um homem falho. Com toda a sua magnificência mental é (por conta disso) talvez a pessoa mais falha da história da humanidade.
E Paul Atreides sabe disso. Ninguém mais além dele sabe disso.
Se nada naquela reunião entre Muad’Dib e o Fedaykin faz sentido é porque faz parte das veredas que os humanos criam e chamam de destino. Uma chaga obrigatoriamente seguida por todos e que é pregada como a elevação do significado da vida, mas que, na verdade, acaba por minimizar o valor da existência.

Paul sai da casa de Otheym munido de uma lista com os nomes de seus traidores. É chegado o momento de mostrar o outro lado de seu plano e que ele não é apenas um porco pronto para o abate, e sim um navio gigantesco pronto para afundar levando a todos que ousaram nele subir para navegar erroneamente em direção ao sucesso.
O filho de lady Jessica não perdoa, o filho de lady Jessica não esquece.
Chega de rodeios, é chegada a hora de dançar com a morte.

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Bruno Birth
brunobirth

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