Messias de Duna Capítulo 18: Olhos de Fogo

Bruno Birth
brunobirth
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3 min readDec 26, 2020

“O enunciado intricado dos legalismos desenvolveu-se em torno da necessidade de esconder de nós mesmos a violência que temos a intenção de dirigir uns aos outros. Entre privar um homem de uma hora de sua vida e privá-lo de sua vida existe só uma diferença de grau. Foi cometida uma violência contra ele, foi consumida sua energia. Eufemismos elaborados podem disfarçar a intenção de matar, mas, por trás de todo e qualquer uso do poder para afetar outra pessoa, resta o pressuposto supremo: ‘eu me alimento de sua energia’.”

O artigo a seguir se baseia em minhas reflexões. CONTÉM SPOILERS DO LIVRO DOIS.

O fogo no céu adorna os céus da vila em Arrakina, na noite em que Paul Muad’Dib foi visitar Otheym. No momento em que o imperador pôs os pés na rua para iniciar sua volta para casa, viu a burocracia imperial ser desbaratada. Viu como os acordos que criam leis nada mais são que meras ilusões sociais, que a qualquer momento perdem valor em ressignificação.
Paul viu na prática como o que é certo e errado depende de quem movimenta as cordas instrumentais do mundo. O cultural e recorrente descaso com as falsamente respeitadas instituições humanas foi a última coisa que Paul Atreides viu antes de ficar cego.
O uso de armas nucleares é proibido segundo acordo assinado na Grande Convenção do Landsraad. No entanto, isso não impediu a conspiração de usar as bombas queima-pedra para explodir a casa de Otheym e a vila em volta. Muitos foram os mortos e feridos, bem como aqueles que perderam a visão na causticante luminescência das explosões.

“Muad’Dib está cego.”

Os homens do imperador percebem, perplexos com o claro sinal de fraqueza de seu senhor, o que os leva a ignorar todos os outros cegados no ataque.
Paul Atreides é frio de uma maneira que beira o inexplicável. Seu processo de auto-desmistificação avança uma página de seu plano e lhe atinge o nível físico. A dor agora faz parte da execução de sua auto-destruição.
Sabendo que seus inimigos haviam encontrado uma forma de contrabandear armas nucleares para lhe atacar, o filho de lady Jessica criou uma situação para convergir os interesses da conspiração e os seus. Assim, desenhou nos desígnios de sua presciência a sua própria cegueira, como uma forma de se mostrar incompleto, fragilizado, vulnerável aos seus soldados fanáticos para, de modo irremediável, criar em suas mentes o questionamento do quão inexpugnável realmente é a sua divindade.

Pense na complexidade deste ato. Tudo que aos outros traz temor, a Paul é natural e bem-vindo. A morte e a dor o imperador traz para junto de si, da mesma forma que as levou a tantas outras pessoas ao longo de seu reinado.
A investigação diária dos segredos da obscuridade existencial é a força que guia as ações de Paul Atreides, enquanto que os outros alimentam receio profundo em questionar o que possa os ameaçar e afligir, preferindo assim seguir uma verdade pré-estabelecida.
São em momentos de choque como esse que a Saga Duna conversa com a realidade de um modo mais íntimo e profundo, tecendo traços de comportamentos sociais e culturais com emulação precisa.

Não fazemos ideia do que vai acontecer agora com Paul Atreides. O capítulo 18 é um ponto de virada neste livro em direção ao clímax do enredo, que é curto, mas talvez tão impressionante quanto o desenvolvido no livro Um.

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Bruno Birth
brunobirth

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