Messias de Duna Capítulo 21: A Deusa

Bruno Birth
brunobirth
Published in
3 min readJan 1, 2021

“A natureza sequencial dos fatos reais não é iluminada com precisão exaustiva pelos poderes da presciência, a não ser nas circunstâncias mais extraordinárias. O oráculo apanha incidentes retirados da cadeia histórica. A eternidade se move. Impõe-se ao oráculo tanto quanto ao suplicante. Que os súditos de Muad’Dib duvidem de sua majestade e de suas visões oraculares. Que neguem seus poderes. Que nunca duvidem da Eternidade.”

O artigo a seguir se baseia em minhas reflexões. CONTÉM SPOILERS DO LIVRO DOIS.

Este capítulo é marcado pelo desespero de Alia Atreides diante do que enxerga como o fim violento de uma era. A irmã de Paul enfim desperta desntro de si a compreensão do que o imperador está prestes a fazer consigo mesmo e com seu império, o que a impacta profundamente. Não obstante, Alia sente a confusão de seus sentimentos dúbios por Hayt a açoitarem como nunca.
Antes de ser uma deusa viva e irmã do imperador, Alia, entre tantas coisas, é uma jovem com sensibilidade sexual em plena ascensão.
Apesar de Alia ser tão intensa cognitivamente quanto Paul, a filha de lady Jessica claramente se encontra em um momento oposto ao do irmão. É como se Alia ainda estivesse em sua curva de ascendência, em busca de modelar a própria identidade, ao passo que Paul já tem para si o que devia ser e foi feito, então agora nada mais resta senão a busca pelo desfecho.

A metáfora do “todo indivíduo é uma ilha” se tornou uma das marcas registradas da Saga Duna para descrever Paul Atreides, mas durante todo o livro Dois pudemos enxergar uma espécie de descontrole em Alia, como se a garota flutuasse levada pelo mar, sem ainda encontrar sua própria ilha. Assim, muito do que vemos de Alia Atreides em Messias de Duna é a impressão que os outros têm dela.
Isso não é, de forma alguma, uma crítica à personagem, e sim uma constatação de seu comportamento durante a narrativa; um comportamento completamente natural à sua faixa etária.
Talvez tenha sido por isso que Paul Atreides se evadiu da irmã, mantendo segredo sobre seu plano de auto-destruição e fazendo pequenas confissões apenas ao seu ghola, que, por incrível que pareça, entrou na história como a pessoa que menos era suposto de merecer confiança e se tornou o único confidente possível para o imperador.

No que concerne a Alia, creio que, além de tudo isso, existe mais uma das armadilhas de Frank Herbert. O escritor manipula uma personagem com tais características peculiares não por acaso. Frank não simplesmente escolheu que Alia fosse uma jovem humana por aleatoriedade.
Alia, para todos os efeitos, é uma deusa, uma figura que desperta vivacidade nos corações de populações inteiras. E ainda assim, não passa de uma garota que muitas vezes se mostra perdida dentro de si mesma. Me arrisco a dizer, inclusive, que a posição de Alia como divindade enquanto uma jovem neste livro é superior à antiga posição de Paul como divindade enquanto um jovem no livro Um.
Em Duna, Paul precisou convencer a si mesmo e se provar para os demais enquanto (assim como Alia) digladiava com sua essência mental para descobrir todas as suas capacidades, a fim de se tornar o Kwisatz Haderach.
Já a Alia de Messias de Duna, além de não ter a mesma obrigação de se provar que Paul em sua idade, possui aura de divindade muito mais intensa que a que Paul possuía quando se uniu com lady Jessica aos fremen do sietch Tabr.

Mergulhada no estupor da especiaria e como se o mundo estivesse por findar, Alia se joga nos braços de Hayt, implorando pela experimentação completa das sensações, em uma incomparável ânsia de viver que é própria dos espíritos jovens. Ao mesmo tempo, lamenta a desgraça anunciada do porvir, a morte convidada por Paul para perseguir não só a ele como a ela também.
Hayt, assim como nos diálogos de confissão de Paul, faz o que pode para servir de alento para Alia, em uma vã tentativa de confortar os sentimentos de uma deusa.
O ghola, que um dia já foi Duncan Idaho, parece ter nascido para a árdua missão de servir aos Atreides.

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Bruno Birth
brunobirth

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