Messias de Duna Capítulo 24: O Fim de Um Deus

Bruno Birth
brunobirth
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3 min readJan 2, 2021

“Dizemos que Muad’Dib partiu em jornada por aquela terra onde caminhamos sem deixar pegadas.”

O artigo a seguir se baseia em minhas reflexões. CONTÉM SPOILERS DO LIVRO DOIS.

“Os cegos devem ser abandonados ao deserto aberto”. É o que diz a lei fremen. Uma lei que Paul conhecia muito bem quando se permitiu ser cegado pela explosão de um queima-pedra, se colocando então no caminho para a morte.
Edric, Scytale, Bijaz, Reverenda Madre Gaius Helen Mohiam, todos estão mortos. Antes de partir, Paul ordenou a Stilgar que deixasse a líder da Irmandade Bene Gesserit viva, mas o naib fremen seguiu seu próprio desígnio e desobedeceu o último comando do imperador.

Alia, inconformada com a partida de seu irmão, esbraveja, mas a morte de Paul Atreides é algo que não pode ser desfeito. Duncan Idaho se coloca ao lado da mulher, prometendo ser seu companheiro, para onde quer que Alia for, o que dá a entender que sim, a filha de lady Jessica partirá para uma nova vida, deixando tudo para trás.

A caminhada de Paul em direção ao deserto aberto, em direção à morte das entranhas de Shai-hulud, me lembrou a morte de Liet-Kynes, no livro Um. Ambos, Liet e Paul, foram estrangeiros acolhidos pelos nativos de Arrakis, absorveram a cultura fremen e por ela ascenderam ao posto de liderança.
No fim de suas vidas, Arrakis, o planeta supremo, reclamou suas vidas. O planeta Duna é o imenso túmulo de Liet-Kynes e Paul Atreides.

Com certeza há os que tentarão manter a divindade de Paul Atreides em escritos eclesiásticos cheios das mais poéticas palavras proféticas. A memória de um messias é o fruto do erro ininterrupto e cíclico da humanidade, como vocês já leram tanto eu dizer.
Mas, no fim de tudo, não se pode mudar a realidade. Paul se foi e sua divindade foi tão real quanto a de tantos outros deuses que antes dele surgiram e morreram ao longo da história. Messias que foram e são condenados ao desfecho comum a todos os deuses criados pela humanidade: o infalível esquecimento construído pelo lento passar de tempo.

A morte de Paul Atreides é a falha do ser humano em compreender a si mesmo como espécie, e seu legado gera uma profunda cicatriz no que se entende como identidade humana.
Desmistificação. Esta é a palavra final para Messias de Duna, este livro incrível, que apesar de mais curto que Duna, é tão impressionante quanto.

Nada do fedor amargo da destilaria fúnebre para Muad’Dib.
Nenhum dobre de finados nem rito solene para libertar a mente
De sombras avaras.
Ele é o santo louco,
O estrangeiro dourado que vive para sempre
Às raias da razão.
Baixe a guarda e ele estará lá!
Sua paz carmesim e a palidez soberana
Invadem nosso universo sem teias proféticas
Até a beirada de um olhar calado - ali!
Saído de ouriçadas selvas estelares:
Misterioso, letal, um oráculo sem olhos,
Joguete da profecia, cuja voz nunca morre!
Shai-hulud, ele te espera numa praia
Onde os casais caminham e cravam, olhos nos olhos,
O fastio delicioso do amor.
Ele atravessa a passos largos a longa caverna do tempo,
Espalhando o eu-louco de seu sonho.

“O hino do ghola”.

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Bruno Birth
brunobirth

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