Uma Odisseia Através do Cosmos 3: Quando o Conhecimento Venceu o Medo

Bruno Birth
brunobirth
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5 min readNov 22, 2020

Após sermos apresentados no episódio 1 ao universo que é muito maior do que nós imaginamos, e após conhecermos os mais profundos segredos da vida no episódio 2, Cosmos, seguindo a linha narrativa que nos apresentou Giordano Bruno, volta a nos levar para conhecer mais a fundo personalidades de suma importância para a história da ciência. O episódio 3 é estrelado por Edmund Halley e Sir Isaac Newton.

Edmund e Newton conversando sobre a lógica do movimento dos planetas. Halley mal sabia que estava provocando a descoberta humana de um dos mais importantes fenômenos naturais: a gravidade.

Mas, antes de falarmos destes célebres amigos e companheiros de ciência, Neil deGrasse Tyson nos convida a contemplar o passado da humanidade, numa época tribal, onde nossa habilidade de reconhecer os padrões da natureza representava uma faca de dois gumes.
Se a capacidade cognitiva humana na interpretação visual das estrelas nos permitiu categorizar as estações do ano (bem como estruturar ações em prol da sobrevivência nos cursos sazonais, como por meio do manejo da agricultura, por exemplo) também nos foi negativa ao propiciar a criação de diversas culturas de medo infundado, que surgiram com más interpretações das estrelas.

A Terra gira em torno do sol, o que em consequência muda a visualização das estrelas que temos aqui em um ciclo periódico. A gravitação de translação faz o movimento do eixo da Terra se alterar de tempos em tempos, alterando a maior incidência de luz e calor solar que nosso planeta recebe, ora se concentrando mais no hemisfério sul, ora se concentrando no hemisfério norte. Isso caracteriza as estações do ano; algo que foi, de modo ainda pré-científico, percebido por nossos ancestrais, que olharam para o céu e perceberam que as estrelas do verão eram diferentes das estrelas do inverno. Tamanha a capacidade humana de reconhecimento de padrões.

Antropologicamente o episódio se concentra na existência de cometas para nos mostrar que diante de fenômenos extraordinários e até algum tempo atrás inexplicáveis as mais diversas tradições de desastre foram estabelecidas em várias sociedades espalhadas pelo globo.
Nós humanos sempre ansiamos por respostas para explicar a natureza. Respostas que muitas das vezes acabam surgindo mesmo na falta de instrumentos, ferramentas e maiores conhecimentos empíricos, além do fato de que o medo tomou (e podemos dizer que ainda hoje toma) posição nas tentativas humanas de compreensão do desconhecido.

A etimologia da palavra “desastre” segue para trás no francês, “désastre”, que surgiu do antigo italiano, “disastro”, que, por fim, veio do grego. “Dis” (prefixo a indicar separação ou negação) e “aster” (estrela) dá lugar a “sem - astro” que no final significa “estrela ruim”, ou seja, uma desgraça. Esta palavra criada para designar primordialmente os cometas, cujas passagens foram interpretadas por humanos de várias culturas como presságio de destruição e morte.

As descobertas científicas não surgem como uma epifania de um gênio em um local determinado. As ideias são postas à prova experimental em vários pontos da história por diversos estudiosos, sendo compiladas, analisadas e melhoradas por cientistas posteriores. Dessa maneira novos conhecimentos são estabelecidos para que concepções errôneas criadas anteriormente sejam desmistificadas.
A relação da ciência das estrelas, exposta por Neil neste episódio, representa com clareza a construção do método científico.

Por meio da ilustração do método científico, somos então apresentados a Jan Oort, astrônomo holandês que previu em 1950 (seguindo a trilha dos estudos astronômicos de personalidades como Johannes Kepler, Newton e Halley) que há uma grande concentração de corpos celestes a delimitar o nosso Sistema Solar, presos pela gravidade do nosso Sol.

A nuvem de Oort, apesar de nunca ter sido vista, apresenta grandes evidências de existência.

Hoje temos uma compreensão completamente diferente dos cometas, uma visão desprovida dos medos que assombravam o cotidiano de nossos antepassados. Graças ao método científico, que põe à prova algo desconhecido para torná-lo conhecido, somos capazes de extirpar o medo através do conhecimento.
Nossa atual concepção nasceu da parceria entre dois acadêmicos de extremo valor. Nesse momento, Cosmos coloca em prática sua magnífica ferramenta narrativa de animação para nos contar a história de Edmund Halley e Isaac Newton.

O cometa de 1664, que trouxe terror à população da Europa.

Edmund Halley foi um grande cientista e explorador do século XVII. Em suas viagens pelo mar conseguiu o incrível feito de mapear as estrelas visíveis em ambos hemisférios do globo e assim criou um revolucionário mapa de navegação marítima que lhe deu fama na Sociedade Real de Londres e impressionou Robert Hooke, outro célebre cientista e então curador da Sociedade Real.
Contudo, havia uma questão astronômica que martelava a mente de Halley, uma que nenhum acadêmico de seu convívio parecia ser capaz de solucionar: como funciona o movimento dos planetas?

Então, em um momento muito romântico e cheio de significado para a série inteira, somos apresentados a Issac Newton, talvez o maior cientista de todos os tempos.

A casa onde nasceu Isaac Newton, em 1642.

Halley era amigo de Newton e pensou em ir atrás de seu auxílio. Uma atitude aparentemente tão simples, mas que mudou tudo.
Halley conseguiu trazer Newton de volta de um solitário exílio, ao qual havia se retirado por um longo tempo por conta de querelas com Robert Hooke, e fez com que o amigo uma vez mais se engajasse em questões astronômicas.
No desenrolar da história, tal ação de Edmund foi crucial para que se desenvolvesse o estudo astronômico mais completo até então, dando vida inclusive às primeiras noções de cálculo que hoje conhecemos. Era o surgimento do conhecimento da Gravidade.

“Os princípios matemáticos da filosofia natural”. Livro escrito por Newton e arduamente impulsionado por Edmund Halley. Sem o esforço de Halley, a publicação desse tomo revolucionário talvez não aconteceria.

A publicação deste trabalho foi tão importante para nosso conhecimento universal que moldou diversos aspectos científicos a abarcar desde as atividades mais comuns do dia-a-dia até as mais complexas, como o posterior estabelecimento da viagem espacial.

Falando em Halley, seria um crime deixar de citar o famoso Cometa Halley.
O corpo celeste visita nossos céus a cada 76 anos (com próxima visita marcada para 2061) e leva o nome de Edmund mesmo não tendo sido necessariamente descoberto por ele.
O que Halley fez foi desenvolver um minucioso estudo de documentos sobre cometas vistos na Europa de tempos em tempos. Após muitas considerações, Halley acabou descobrindo que os vários cometas documentados eram na verdade o mesmo. Um cometa que, preso ao abraço gravitacional do Sol, repete o seu curso de translação elíptica, o que possibilitava, inclusive, a previsão de seu retorno aos céus.
O Cometa Halley é um grande exemplo de reconhecimento de padrão da natureza pautado na observação científica.

A superfície gelada do cometa Halley é assada pelo calor do Sol quando sua trajetória de translação elíptica o aproxima de nosso majestoso astro, criando o rastro de rocha derretida que vemos como o “rabo” do cometa. Quando a translação elíptica do cometa o leva para longe do calor do Sol, sua crosta gelada se reestabelece.

O episódio 3 de Cosmos mostra o poder que a observação científica nos oferece. Se trata de um poder que nos dá a ferramenta de mudar o curso de nosso mundo, de desbravar o desconhecido, além do poder de dominar e destruir nossos medos.

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Bruno Birth
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