Boas-vindas

Bruno Maroni
LADO B
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2 min readApr 2, 2024

Nossa visão de mundo individualista assaltou o significado comunitário da cruz — “Jesus morreu por mim, Ele me salvou.” Sem dúvida há um aspecto pessoal na obra de redenção. Deus nos conhece profunda e intimamente (Sl 139), e com este mesmo amor específico nos acolhe para si. Contudo, por mais que sucessos da música gospel e filosofias contemporâneas a obscureçam, a entrega de Jesus na cruz tem natureza radicalmente comunitária, familiar.

Por quê? Explico. Aqui vale recordar brevemente do escopo do Drama das Escrituras. Lembre-se de todo trajeto que se estende desde o Antigo Testamento — a escravidão dos hebreus no Egito e a peregrinação em Israel, o exílio de Israel pela Assíria e a deportação dos judeus para a Babilônia; os domínios persa, grego e o poderoso Império Romano. A Bíblia é uma longa história de partida e volta ao lar, exílio e retorno.

A grande narrativa bíblica relata a constante dor da separação — do povo separado de sua terra, de seu Deus. Mas na cruz, de uma vez por todas, Cristo derrotou o poder da separação. E Ele o fez assumindo para si o peso da exclusão. Jesus, como escreve o autor de Hebreus, “sofreu fora das portas da cidade, para santificar seu povo mediante seu próprio sangue.” (Hb 13.12)

Esta é a era da epidemia da solidão e da crise dos refugiados. Um tempo oportuno para a igreja assumir sua vocação relacional e convidar as pessoas para a comunhão singular da vida com Deus — chamá-las da desilusão da dança da solidão para a alegria da dança da Trindade. Claro, não há solução rápida. Trata-se mais de uma revolução silenciosa que se inicia em você, através de você: na sua casa.

A cruz de Cristo é um chamado à hospitalidade. Jesus sofreu do lado de fora da cidade para que você acolhesse pessoas do lado de dentro do seu lar.

Se o lar são as boas-vindas de Deus, então cada um de nós deve trabalhar para ter certeza de que todos tenham o senso de pertencimento. Deus tem um lar, e ele está buscando compartilhá-lo. — Jen Pollock Michel

Podemos, em família, encarnar a hospitalidade de Cristo — encenar esta grande história de um Deus que está nos trazendo para casa. O dom da hospitalidade está na rotina da sua família? Vocês têm disposto tempo, estendido recursos e dedicando atenção às pessoas ao seu redor? Quando vocês convidam amigos e familiares para a casa, eles a reconhecem como uma demonstração do Reino? Pelo poder do Espírito agindo em nossas famílias, nossos lares podem ser lugares de cura, reconciliação, provisão e salvação. Assim como a cruz.

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Bruno Maroni
LADO B
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Marido da Lari e pai do Tim. Teólogo, jornalista cultural (improvisado) e escritor em formação. Gosto de livros, discos, pizzas e tartarugas.