Nos vemos no mundo que vem

Bruno Maroni
LADO B
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3 min readApr 2, 2024

Sejamos honestos: quando o nosso culto acabar — ou, com sorte, até o fim do dia — nos esqueceremos da Páscoa.

No ano que vem, em mais uma provável programação especial, voltamos a nos preocupar com isso. Hoje celebramos a ressurreição; amanhã a vida volta ao normal. Sam Allberry comenta que nós colocamos a ressurreição “de volta na gaveta durante o resto do ano porque não sabem o que fazer com ela”. Com esse lapso de memória contínuo, perdemos de vista os frutos da vida vivida no poder da ressurreição.

Talvez nossa visão sobre a ressurreição de Jesus seja pequena demais. Lemos os capítulos finais dos evangelhos durante a Semana de Páscoa, cantamos com a igreja e, no fim, fica por isso mesmo. Peço licença para usar um termo técnico (é rápido, prometo): vivemos uma “apatia escatológica.” Ficamos indiferentes. Como se a ressurreição de Cristo no passado e a nova criação futura que ela reivindica em nada mudassem o nosso presente precisamente aqui e agora, no chão de Jundiaí. Assim, a fé simplesmente não faz sentido (1Co 15.12–15).

Jesus está vivo e presente. Sua ressurreição abre o caminho para a chegada de um mundo completamente renovado. Deus ama a sua criação. Toda dor, injustiça e sofrimento, corrupção, miséria e solidão que hoje nos cansam darão lugar a um Reino de paz, justiça e alegria. Quem hoje você vê chora, um dia você verá sorrir. O profeta Isaías, falando a um povo exilado, vez após outra retoma a beleza do futuro prometido pelo Senhor. Em um desses trechos está escrito:

O Senhor Soberano mostrará sua justiça às nações do mundo; todos o louvarão! Será como um jardim no começo da primavera, quando as plantas brotam por toda parte. — Isaías 61.11

Porém, com essa promessa, a Bíblia não pretende pintar um quadro idealista, uma utopia distante, da qual seríamos meros espectadores passivos. Pelo contrário. Em Cristo somos agentes da ressurreição. Em outras palavras, discípulos de Jesus, que viram e provaram da sua graça, caminham como testemunhas da reconciliação. Já estamos com os pés na estrada do mundo novo que vem, antecipando a beleza da Nova Criação. Este não é um segredo a ser guardado.

É provável que você pense: “Eu acredito. Mas o que eu faço?”. Esse é um dilema comum para nós que frequentemente enfrentamos o abismo entre teoria e prática. O caminho para a vida na estrada para a nova criação é nada menos que a longa jornada de semelhança com Cristo, da formação espiritual cristã. Um percurso simples, diário, anônimo. É através do relacionamento diário com Ele e da amizade constante com a família de fé que o Senhor prepara agentes da ressurreição — gente que sinaliza a esperança do por vir.

Pessoas apaixonadas por Jesus e comprometidas com seu caminho experimentam hoje o mundo novo de amanhã. Pessoas que encarnam o amor de Jesus cotidianamente — acolhem, servem e doam-se às outras — testemunham da ressurreição. Pessoas que trabalham com criatividade, diligência e justiça, também. Quem dia após dia ara o solo do coração para o florescer do Fruto do Espírito (Gl 5.22) vive o tipo de vida que é como um convite à nova vida (já) disponível em Cristo.

Trilhemos este longo trajeto de devoção, comunhão e missão até que nos vejamos no mundo que vem.

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Bruno Maroni
LADO B
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Marido da Lari e pai do Tim. Teólogo, jornalista cultural (improvisado) e escritor em formação. Gosto de livros, discos, pizzas e tartarugas.