Repensando o “Management”
Quando a gestão é construída sob uma ótica de experiência, as pessoas trabalham juntas em torno de objetivos e metas, fazem acontecer, e tem espaço para serem a sua melhor versão.
Nos últimos 15 meses, as conversas que tive com outras pessoas sobre negócios giraram em torno de quanto a nossa agenda foi ocupada e revisada. Em casa tivemos que nos adaptar e multiplicar. Nos negócios, tivemos que sobreviver, nos proteger e nos reinventar, tudo ao mesmo tempo.
Compartilhando até um caso pessoal, nos primeiros meses da pandemia, me dediquei totalmente a trabalhar com o time da weme para reinventar o negócio e ajudar as pessoas a se protegerem. Enquanto isso, vivi o stress de ter a COVID por perto, criei uma nova dinâmica pessoal para trabalhar de casa, separei parte do meu dia para ficar com meus filhos, comecei uma nova startup e organizamos a vida como família para experimentarmos um ano como nômades digitais a partir de Agosto de 2021. Ufa!
Agora, a agenda é outra: enquanto países e ambientes de trabalho estão reabrindo, fica mais evidente a crise, que já vinha desde antes da pandemia, na relação das pessoas com os antigos modelos e práticas de gestão. Empresas estão sendo forçadas a se transformar e testar novos paradigmas, enquanto líderes agora precisam ajudar as pessoas a se prepararem para mudanças, lidar com ambiguidade e suportar elas na experimentação e aprendizado rápido.
A pandemia forçou as organizações a repensarem sobre resiliência, ou seja, a habilidade que uma empresa tem de rapidamente se adaptar a disrupções ou mudanças enquanto mantém sua operação saudável, e as pessoas engajadas. Organizações não são inerentemente resilientes; elas estão enferrujadas e cheias de práticas, processos, estruturas e hierarquias.
Grande parte dessa ferrugem vem do que a gente compreendia sobre “management”, ou gestão. E nisso incluímos as atividades de definir a estratégia da organização e coordenar os esforços de seus empregadores para atingirem seus objetivos através da aplicação de recursos como financeiros, naturais, tecnológicos e humanos. É verdade que a definição evoluiu ao longo do tempo. Mas é fato também que essa visão funcionalista inaugurada por Taylor há mais de 120 anos ainda permanece na maioria das práticas de gestão.
O que eu quero dizer com perspectiva funcionalista?
Essa é uma posição que as empresas assumem sobre as pessoas, na qual as pessoas são vistas como um recurso a serem gerenciados para atingir os objetivos da organização, e isso se alinha com um modelo de gestão onde as mensagens são comunicadas de cima para baixo para alinhar audiências em torno dos valores da empresa.
Você lembra alguma empresa que você já trabalhou, ou trabalha?
Pois bem, o problema é que essa perspectiva ignora a complexidade e a dinâmica do novo ambiente de negócios que estamos. O resultado disso é uma performance medíocre, um negócio escancarado à disrupção e o pior, graves problemas de bem estar para as pessoas expostas a esse tipo de ambiente.
Nos Estados Unidos, só no ano passado, 60% das pessoas tiveram algum problema de saúde mental relacionado ao trabalho; 60% dos millennials e 75% da geração Z abandonaram seu posto de trabalho, como apontou o estudo da Mindshare Partners em 2020.
Felizmente existe uma alternativa: a perspectiva experiencial
Empresas mais conhecidas como o Netflix, ou menos como Credit Karma, vem tendo sucesso ao adotar uma perspectiva não funcional. Uma perspectiva experiencial. Essa perspectiva é centrada nas próprias pessoas, na criação de sentido e na experiência delas com o trabalho. Quando a gestão é construída sob uma ótica de experiência, as pessoas trabalham juntas em torno de objetivos e metas, fazem acontecer, e tem espaço para serem a sua melhor versão.
Organizações que aderem a uma visão de experiência, estão baseadas na colaboração, são mais abertas a mudanças e veem a fluidez como um ativo. Ou seja, estão muito mais adaptadas ao nosso contexto atual. Não à toa, o tema de experiência do colaborador (employee experience) se tornou uma das principais pautas de estratégia e não apenas de recursos humanos.
Employee experience como principal direcionador da gestão
Se você é uma pessoa em posição de liderança ou um empreendedor, pode estar se perguntando. Mas então como eu sei que minha empresa vai performar, vamos atingir os objetivos, as metas? Como controlar?
Pois bem. A notícia é que quanto mais controle sobre as pessoas, ou quanto mais processos sem sentido, pior é a experiência. Quanto pior a experiência pior o engajamento. Quanto pior o engajamento pior a performance. Ou seja, se você quer mesmo construir uma empresa relevante, produtiva e competitiva nos dias de hoje,esqueça essa visão funcionalista e comece agora mesmo a pensar na experiência das pessoas como a sua principal ferramenta de gestão.
No relatório de Employee Experience produzido por Josh Bersin em 2021, apontou-se que as empresas que focaram em boas estratégias de employee experience têm 2,4x mais chances de encantar seus clientes e 3,7x mais chances de se adaptarem bem à mudança. Da perspectiva das pessoas que estão nessas empresas, elas têm 5,1x mais chances de criarem um senso de pertencimento e são 5,1x mais engajadas também.
Temas em destaque
Se você chegou até aqui e se interessou por repensar as práticas de gestão para criar uma experiência incrível para as pessoas e consequentemente melhorar performance e competitividade para o seu negócio,eu vou trazer 5 pontos que devem ser repensados de acordo com esse mesmo estudo e ao longo dos próximos 3 meses vou explorar junto com você a teoria, ferramentas e a prática em torno desses pontos:
- A gestão simples e transparente de performance
- Objetivos claros e flexíveis
- Feedback e coaching contínuo
- Crescimento e desenvolvimento de pessoas
- Reconhecimento, benefícios e recompensas
Não existe uma ação simples ou pontual capaz de transformar a experiência das pessoas com o seu negócio. As melhores práticas também podem não funcionar para sua empresa. Você vai ter que mover tantas partes que pode querer desistir. Mas não pode. Esse é o melhor momento para você começar a transformar a sua gestão em uma experiência incrível para as pessoas.
Referências
Gulshan, S. S. Management Principles and Practices by Lallan Prasad and SS Gulshan. Excel Books India, 2011.
Lemon, Laura L. “The employee experience: how employees make meaning of employee engagement.” Journal of Public Relations Research 31.5–6 (2019): 176–199.
Tavis, Anna. Workforce Solutions Review. Dec2020, Vol. 11 Issue 4, p30–32. 3p.
Bersin, Josh. Performance Management In The Pandemic: Becoming Your Best-Self
Bersin, Josh. The definitive guide: Employee Experience. 2021
Amabile, Teresa, and Steven Kramer. The progress principle: Using small wins to ignite joy, engagement, and creativity at work. Harvard Business Press, 2011.