Unicórnios vs Dinossauros: quem vai sobreviver na nova economia?

Leandro Jesus
Business Transformation
4 min readJun 27, 2016

O Vale do Silício convencionou chamar de unicórnios as empresas de base tecnológica criadas na nova economia, a partir de 2003, com valor de mercado estimado em 1 bilhão de dólares ou mais.

O termo foi utilizado pela primeira vez no final de 2013 por Aileen Lee, sócia do fundo de capital semente Cowboy Ventures. Seu argumento é que, tal como essas novas empresas, unicórnios representam algo raro e mágico. Afinal de contas, como explicar que empresas tão jovens e muitas vezes sem fontes de receita bem definidas (caso do Whatsapp, p.ex.) consigam ser tão disruptivas em seus mercados e alcançar alto valor de mercado tão rapidamente?

A figura a seguir mostra uma pirâmide de empresas consideradas unicórnios ao final de 2015, em função de seu valor de mercado(fonte: Digi-Capital). De acordo com o site VentureBeat (ver aqui), em janeiro de 2016 existiam 229 unicórnios no mundo — lembrando que não estão incluídas nessa conta as inúmeras startups com valor de mercado na casa dos milhões de dólares.

Numa breve observação, você encontrará empresas já consolidadas e presentes em nosso dia a dia há algum tempo (Facebook, Linkedin, Waze, Dropbox etc.), outras que estão causando disrupção e polêmica nesse momento no Brasil (Uber, Airbnb etc.) e inúmeras startups que sequer pintaram ainda por aqui.

Não é meu objetivo nesse artigo questionar se o valor de mercado de tais empresas é devido ou não — já há quem diga que há uma bolha entre os unicórnios (ver aqui). É bem possível também que nem todas essas empresas vinguem no longo prazo, afinal de contas incerteza é algo inerente ao empreendedorismo. Mas é óbvio que as startups da nova economia têm enorme potencial de questionar paradigmas vigentes e tornar obsoletos inúmeros modelos de negócio hoje consolidados.

Curioso também destacar que, antes vistos quase como ‘mitos’, novos unicórnios aparentemente estão se multiplicando nos últimos anos. A figura abaixo mostra uma cronologia de surgimento de tais empresas desde 2011 (fonte: cbinsights.com).

Com base nisso, fica fácil entender porque o ritmo de transformações que virão pela frente nos próximos anos no mundo dos negócios é exponencial e não linear. Há, de fato, múltiplas apostas em startups com potencial enorme de disrupção, nas mais diversas verticais de mercado.

Como então as empresas tradicionais deveriam se posicionar para competir frente a isso? Compará-las com os unicórnios parece injusto, pois estas startups já foram construídas sob novos paradigmas da era digital: são ágeis, enxutas, descentralizadas, orientadas para encantar clientes e causar impacto positivo ao seu redor.

Nesse sentido, empresas de grande porte, com tradição e longo histórico de atuação estão em clara desvantagem. Com suas estruturas rígidas e inchadas, processos inflexíveis, tecnologias e sistemas de gestão obsoletos, invariavelmente demonstram lentidão para tomar decisões e inovar. Não por acaso, começam a ser chamadas no mundo das startups de dinossauros. De fato, por vezes parecem ainda viver na era jurássica.

Essa analogia nos leva então a uma questão intrigante: conseguirão os dinossauros corporativos sobreviver a esse mundo em transformação, ou estão também fadados à extinção?

Recentemente, o CEO do ‘dinossauro’ JP Morgan Chase, Jamie Dimon, alertou em sua carta anual aos acionistas que “todas as startups querem comer nosso almoço”. Já Dave McClure, CEO da aceleradora 500 Startups, foi mais taxativo: “quase todas as empresas ‘dinossauros’ estão extremamente vulneráveis a uma startup ‘unicórnio’ comer seu almoço”. Por fim, o CEO da Cisco, John Chambers, afirmou publicamente acreditar que “em 10 anos, 40% das companhias da Fortune 500 não existirão devido à incapacidade de adaptação aos novos tempos”.

A sobrevivência das empresas tradicionais passa por compreender melhor as novas ‘regras do jogo’. Será preciso se libertar das velhas amarras e criar formas de se aproximar do mundo das startups, empreendedorismo e inovação. Não é simples, sem dúvidas, mas é possível.

Muitos dos ‘dinossauros’ globais já entenderam isso e estão se mexendo. Um relatório recente da 500 Startups e INSEAD afirma que 68% das 100 maiores empresas da Forbes Global 500 estão trabalhando de alguma forma com startups (detalhes aqui).

E no Brasil, como estamos? Bem, não temos ainda um unicórnio brasileiro na casa dos bilhões. No entanto, inúmeras startups nacionais vêm ganhando projeção internacional, desde o Buscapé até a mais recente estrela Nubank — outros nomes de destaque são Conta Azul, Peixe Urbano, EasyTaxi, Banco Original e VivaReal. Além disso, é possível notar um aumento de maturidade no ecossistema de apoio a startups nacionais (órgãos de fomento, aceleradoras e incubadoras, investidores etc). Há muita gente trabalhando para que outras startups nacionais possam crescer e se tornar relevantes.

Frente a tudo isso, cabe indagar: o que estão fazendo os ‘dinossauros’ brasileiros para se reinventar?

© Leandro Jesus

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