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Business Drops

Esta publicação busca aliar a ampla experiência prática em gestão dos autores com as mais recentes tendências acadêmicas, trazendo dicas rápidas, mas consistentes, para pessoas que têm interesse em conhecer, aprofundar ou relembrar conceitos relevantes de gestão de negócios.

Internet das Coisas ou as Coisas da Internet?

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Photo by Bence Boros on Unsplash

Faz pouco mais de 5 anos que tive meu primeiro contato “ao vivo” com a Internet das Coisas (Internet of Things — ou simplesmente IoT). Em um evento em San Francisco, conheci uma escova de dentes inteligente que era capaz de registrar em sua memória, com base em sensores, o histórico de escovação do usuário. Não só a quantidade de escovações ao dia era registrada, mas também a qualidade de cada uma. Posteriormente, a escova transmitia os dados para um dispositivo (celular / tablet) e em seguida encaminhava a informação via Internet para outras pessoas (por exemplo, seu dentista). À primeira vista parece algo genial, principalmente quando extrapolamos essa ideia para outras aplicações mais complexas, tais como suporte a decisões médicas ou monitoramento de poços de petróleo em águas profundas.

O termo IoT está muito relacionado a um outro recentemente famoso: Big Data. Esta relação é simples de ser entendida: a partir do momento que objetos passam a se comunicar entre si, espera-se um crescimento absurdo da quantidade de dados gerados digitalmente. E é cada vez maior a quantidade de dispositivos que já possuem formas de se comunicar com outros, e sem a interação humana direta. Certamente já ouvimos falar nos tênis que contam nossos passos e “conversam” com nossos aparelhos de celular, para usar um exemplo bem simples.

Por outro lado, a necessidade de tratamento e processamento desses dados e sua efetiva utilização ainda são uma incógnita e um desafio para muitos. Percebe-se muitos investimentos e casos de sucesso relacionados a implementação de tecnologias relacionados a aquisição / coleta de dados por meio de dispositivos inteligentes, mas comparativamente pouco se ouve falar sobre “o que fazer com esses dados”, ou casos de sucesso que demonstrem como a utilização desses dados realmente contribuiu com alguma melhora organizacional.

Alguns fatores podem estar contribuindo com essa situação:

- Necessidade de mudanças culturais: alterações em processos decisórios, principalmente em empresas de grande porte e que estão há muitos anos no mercado são complexas de se realizarem. O surgimento de novos tipos de informação, oriundas de fontes até pouco tempo improváveis, parecem não ser suficientes para permitir seu tratamento e uso efetivos por parte de executivos tomadores de decisão.

- Credibilidade dos dados: apesar de sempre terem estado lá, somente agora esses dados estão sendo utilizados de forma organizada, e por este motivo, a tendência conservadora de tomadores dos decisão de permanecerem com seus métodos atuais ainda deve prevalecer, até que se tenha total segurança quanto à veracidade desses novos dados.

- Investimento em tecnologia sem se saber ao certo o que se espera dela: ainda há executivos que investem em novas tecnologias por acreditaram que as mesmas irão contribuir efetivamente com a organização (e em alguns casos, até mesmo para melhorar sua imagem perante o mercado), mas não têm certeza quanto à sua efetividade.

- Falta de conhecimento especializado (data analyst / cientista de dados): profissionais especializados em análise e tratamento de dados já estão sendo mais demandados, muito em razão da necessidade de análise das quantidades enormes de dados que estão sendo gerados por aplicações de IoT. Mas é um perfil profissional que precisa não só ter conhecimentos técnicos especializados (tais como estatística, por exemplo), mas também quanto ao negócio da organização. E isso leva tempo. Não é à toa que empresas estão criando novas funções e cargos para viabilizar esse processo. É o caso, por exemplo, do CDO (Chief Data Officer), inexistente até alguns anos atrás.

Serão as equipes do CDO, que incluem os cientistas de dados, que irão analisar de forma racional a real necessidade de coleta de dados e suas origens para posterior tratamento, processamento e efetivo suporte à tomada de decisões.

Muito possivelmente, algumas tecnologias de IoT já implementadas para coleta de dados serão descontinuadas no curto prazo, basicamente por não se saber o que se fazer com os dados, em parte por não haver valor agregado nas informações geradas.

A adoção mal sucedida de tecnologias em fases ainda embrionárias não é novidade: o Gartner Group publica periodicamente seus gráficos de Hype Cycle que demonstram que os ciclos evolutivos de novas tecnologias passam por momentos de retração antes de atingirem a maturidade. E com as tecnologias baseadas em IoT certamente não é diferente.

Quando tivermos contato com as escovas de dentes ou fios dentais conectados, garrafas de vinho inteligentes, geladeiras que “tuítam”, carrinhos de bebês online, guarda-chuvas que avisam se vai chover, dentre outros dispositivos no mínimo curiosos, teremos que saber avaliar se é algo realmente promissor na área da Internet das Coisas ou apenas mais algumas “Coisas da Internet”…

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Gustavo Nobre
Gustavo Nobre

Written by Gustavo Nobre

Consultor Empresarial e Gestor de Projetos há mais de 25 anos, Professor na Área de Administração, Mestre e Doutor pelo Coppead/UFRJ

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